Capítulo 20

Depois da trégua decretada entre Marina e Felipe, os dias seguiram tranquilos. Mesmo assim, ela ainda evitava encontrar com ele. Sempre fazia suas refeições na mesa do jardim, do pátio de serviço, e não ficava circulando quando sabia que ele estava em casa. Felipe trabalhava o dia todo e saia muito a noite. Dessa forma, era fácil evitar os encontros.

Além das leituras na biblioteca, Marina começou a ajudar sr. Mario com o jardim da casa de Felipe. Desde que foi morar no interior, ela adorava plantas e ajudava seus pais com o jardim e a horta da casa dela.

- Bom dia sr. Mario! - Marina cumprimentou o jardineiro. - A temperatura começou a esquentar e o dia está bastante ensolarado.

- Bom dia Marina. É verdade, mas você não chegou a pegar o inverno mesmo aqui não. É muito mais frio. - O jardineiro riu simpático.

- Não quero nem imaginar. Quando eu cheguei aqui, estava extremamente frio. Pensei em voltar para meu país na mesma hora. - Marina respondeu e em seguida foi pegar a mangueira para começar a aguar partes do jardim que não tinha irrigação automática.

Sr. Mario era o único funcionário da casa que a deixava ajudar com as tarefas. Marina já tinha insistido muito com Jamila para ajudar na cozinha ou na limpeza e organização da casa, mas ela não permitia de jeito nenhum. Marina sempre fez esse tipo de serviço na casa dela e não se importava em ajudar na casa de Felipe. Ela estava tendo dificuldade em arrumar trabalho externo. Ninguém queria contratar uma jovem sem experiência.

Quem acompanhava de perto o que Marina fazia era Victor. Apesar da jovem sempre falar com ele todos os dias, ele também ligava para Jamila para saber o que ela andava fazendo ou se Felipe tinha criado mais algum problema.

- Para uma jovem de 19 anos, ela é muito tranquila, sr. Victor. - Jamila respondeu. - Normalmente, as meninas com essa idade gostam de sair e frequentar festas, principalmente nas férias. As aulas de Marina só começam em 15 dias.

- Ela sempre morou no interior, Jamila. Deve ser por isso que é mais calma e caseira. Não sei se ela vai continuar assim depois que fizer novos amigos na universidade. - Victor respondeu pensativo.

- Marina está procurando um emprego, mas como ela não tem experiência nenhuma, ninguém quer contratar ela. - Confessou Jamila.

- Deixe-a procurar. Ela não precisa de trabalho agora. Eu quero que Marina se concentre nos estudos e fique aqui com a gente. Eu não vou permitir que ela vá embora depois que completar 21 anos. - Victor falou num tom sério e Jamila já sabia desses planos.

- Sr. Victor. - Jamila falou receosa. - Marina tem um namorado, que se chama Paulo. Ela fala com ele praticamente todos os dias.

- Namorico de adolescente sem importância. - Desprezou Victor.

- Não sei se é assim. Ela já me contou que ele quer se casar com ela. Ela gosta dele e disse que os pais dela também gostavam. - Marina confiava em Jamila e conversava bastante com ela.

- E ele permitiu que ela fosse embora para morar em outro país? Com desconhecidos? Logo após a morte dos pais dela? - Zombou Victor. - Esse rapaz pode até gostar de Marina, mas vai esquecê-la rapidamente com a distância.

- Segundo Marina, ele foi estudar fora e não ficou sabendo de imediato sobre a morte dos pais dela. Parece que a mãe dele não queria que ele soubesse para não atrapalhar os estudos dele, mas ele já disse a Marina que virá vê-la assim que tiver um feriado. - Jamila estava se saindo uma bela de uma fofoqueira, mas ela fazia isso pelo bem de Marina. Era melhor para ela fazer sua vida ali, como sobrinha do sr. Victor, estudar e ser uma grande profissional.

- Ótimo. Um pateta dominado pela mãe. Tudo que Marina não precisa. - Victor iria conversar sobre isso com Marina, caso ela desse abertura. Não queria ela apegada a pessoas do passado. Queria que ela se sentisse livre para recomeçar sua vida. Os pais tinham falecido e nada mais deveria prender ela ao interior, onde ela viveu até os 19 anos. - E Felipe? Como ele está?

- Do mesmo jeito. Trabalha o dia todo e sai bastante a noite. A vezes, ele dorme no aparamento próximo a empresa e as vezes, ele vem dormir aqui.

- Ele continua trazendo “as namoradas” para casa? - Indagou Victor enxerido. Felipe não tinha namorada fixa e vivia saindo com diversas mulheres.

- Sim. - Jamila respondeu de forma monossilábica. Não gostava de fofocar sobre a vida do patrão. Marina era diferente. Victor era responsável por ela.

- Eu não quero Marina sendo exposta a essas mulheres que Felipe leva para casa. - Protestou Victor nervoso. - Eu vou falar com ele sobre isso. Ele pode dormir em outro lugar quando tiver companhia.

- Bem, a casa é dele, sr. Victor. Essa sempre foi a vida de Felipe e não sei por que motivo ele teria que se privar disso por conta de Marina. - Jamila defendeu o patrão. Ela era fiel a Felipe. - De toda forma, a única vez que Marina encontrou uma dessas moças foi quando ela chegou aqui. De manhã cedo, Marina costuma tomar café da manhã no jardim do pátio de serviço e depois segue para biblioteca. Desse jeito, ela não cruza com as visitas de Felipe e nem com ele.

Sem fazer ideia dos planos de Victor, Jamila achava que não tinha problema que Felipe continuasse com sua vida de mulherengo. Contudo, Victor queria que Marina e Felipe ficassem juntos. Se a jovem tivesse noção do mulherengo que ele era, tudo seria muito mais difícil. Já bastava esse namoradinho, Paulo, para complicar o relacionamento dos dois. Por várias vezes, Felipe já tinha dito que não queria casamento ou formar uma família, mas Victor sabia que ele desejava um filho. Afinal, uma pessoa que trabalhava tanto como Felipe e que tinha conseguido erguer um império do nada precisava de um herdeiro. Se Marina se casasse com Felipe e desse um filho para ele, ela estaria segura, financeiramente, para o resto da vida. Isso tranquilizava Victor, que se sentia responsável por ela e era completamente sustentado por Felipe.