Capítulo 14

No final da tarde, Marina voltou para casa com Victor supercontente. Ela já estava matriculada na universidade, no curso de administração. Eles visitaram três universidades, mas Victor achou melhor matricular Marina na mais próxima da casa de Felipe. Ela era nova na cidade e ele não queria que ela corresse o risco de se perder. De toda forma, Victor ia providenciar que o motorista de Felipe levasse e pegasse Marina nas aulas todos os dias.

Para surpresa de Victor, Marina tirou nota máxima no teste que a universidade exigia para poder matricular ela. Ele não pensava que ela era burra, mas por vir de uma cidade de interior, de outro país, Victor não esperava uma nota tão alta. Reitor chegou a pedir o currículo escolar de Marina para que ela pudesse pleitear uma bolsa, mas como ela estudou em casa, com a mãe, parte da infância, o currículo dela não era completo.

- Eu tenho certeza de que Marina será uma estudante brilhante aqui na nossa universidade. - Elogiou o reitor depois que todos os tramites foram resolvidos.

- Com certeza\, assim como a mãe dela foi. - Victor respondeu orgulhoso. Luiza foi a laureada da turma na universidade. Se ela não tivesse ido embora do país com Pedro\, ela seria uma profissional de destaque atualmente.

Marina escutou aquela conversa entre o reitor da universidade e tio Victor com atenção. Ela não sabia de nada da vida dos pais quando viveram naquele país. Luiza e Pedro falavam muito pouco disso. Dentro do carro, voltando para casa de Felipe, depois de comprar um chip para seu celular, Marina resolveu indagar tio Victor sobre os pais.

- Tio Victor\, você falou que mamãe foi laureada de turma. Eu sei muito pouco sobre a vida dos meus pais aqui\, nesse país. Você poderia falar mais sobre isso? - Ela pediu gentilmente\, bastante curiosa.

- Eu conheci sua mãe muito pequeno. Nossas famílias eram muito amigas... - Victor começou a contar a história de forte amizade dele com Luiza. Era como se ela fosse uma irmã para ele.

Quando ele conheceu Pedro, logo de cara gostou do namorado de Luiza, mas sabia que aquele relacionamento não seria bem-visto pela família dela. Essa parte mais triste, ele omitiu para Marina. Antigamente, famílias tradicionais gostavam de casar seus filhos entre si e Pedro não fazia parte daquele círculo. Apesar de ser um órfão, ele se destacou nos estudos e se tornou um engenheiro brilhante. Foi na universidade que Pedro e Luiza se conheceram e se apaixonaram. Luiza engravidou de Marina e a família queria que ela acabasse o relacionamento com Pedro e entregasse a menina para adoção. Por conta disso, Luiza cortou totalmente os laços com a família e alguns anos depois, ela resolveu ir embora com Pedro para outro país.

“Victor, eu estou indo embora com Pedro e Marina. Minha família está morta para mim e Pedro é órfão. Nada nos prende nesse país. Você é uma pessoa que considero com um irmão. Se um dia Marina precisa de alguma coisa é com você que irei contar.”

Victor ficou emocionado ao lembrar daquelas palavras de Luiza. Era como se ela tivesse previsto o futuro, pois agora Marina estava sob seus cuidados.

- Eu sei que meu pai era órfão\, praticamente como eu sou agora. - Marina falou num tom de voz triste. - Mas e os parentes da minha mãe? Meus avôs? Eu tenho avôs? - Perguntou ela esperançosa.

- Depois que sua mãe foi embora\, eu perdi completamente o contato com a família dela. Então\, eu não sei responder a essas perguntas. - Victor mentiu. Ele sabia muito bem onde estavam os avôs de Marina\, mas da mesma forma que Luiza\, ele guardava uma mágoa enorme daquela família\, que abandonou completamente sua filha com uma criança nos braços.

- Tudo bem\, mamãe nunca falou deles. Acho que podem ter falecido. - Marina não pretendia procurar aquelas pessoas\, mas tinha curiosidade sobre elas.

- Você já testou o chip novo no seu celular\, Marina? - Victor fez aquela pergunta justamente para mudar de assunto.

- Ainda não\, mas assim que chegarmos em casa\, eu vou fazer a troca. - Marina respondeu sorrindo.

O carro parou na entrada principal da casa de Felipe, mas antes que Marina saísse do veículo, Victor chamou sua atenção.

- Querida\, eu vou deixar você aqui e em seguida\, eu voltarei para minha casa\, que fica a duas horas de distância. Não é tão longe\, mas não posso ficar aqui para sempre. - Victor sorriu e explicou tudo Marina que escutou com atenção. - Suas aulas começam em 30 dias\, um cartão de crédito já foi providenciado e o motorista de Felipe irá pegar e levar você na aula. - Marina abriu a boca para protestar sobre isso\, mas Victor não deixou que ela falasse. - Por favor\, não reclame sobre isso\, eu vou ficar tranquilo sabendo que sr. Lima levará você para suas aulas em segurança.

- Tudo bem\, tio Victor\, mas eu não me sinto confortável nessa situação. Eu acho que já estou explorando você demais com essas despesas. Sem falar que estou hospedada na casa do seu filho. - Marina nem imaginava que tudo era pago por Felipe\, incluindo sua universidade e seu cartão de crédito.

- Não se preocupe com isso. Essa é sua nova vida e você precisa se acostumar. - Victor deu duas batidinhas na mão de Marina para tranquilizar ela. - Posso não ser irmão da sua mãe de sangue\, mas sou seu tio de coração e Felipe é praticamente seu primo. - Ao ouvir isso\, Marina deu um sorriso sem graça\, pois sabia que Felipe não se sentia assim com relação a ela.

Depois da despedida de Victor, assim que entrou em casa e cumprimentou Jamila, Marina subiu para seu quarto e foi direto tomar um banho. Para sua tranquilidade, Felipe não estava em casa. Ainda enrolada na toalha, ela voltou para o quarto, pegou seu celular para fazer a troca de chip e se sentou na cama. Estava ansiosa para ter notícias de Paulo. Já tinha se passado dez dias, desde que ele viajou. Agora, o celular de Marina tinha sinal e ela poderia usar a internet. Em nenhum momento, desde que chegou naquela casa, ela procurou saber da senha do wi-fi. Novamente, o número que ela tinha de Paulo não dava sinal nenhum. Era como se não existisse mais e ela entrou no Instagram para ver se tinha alguma mensagem dele. Nada. Zero. Era tudo muito estranho.

Ao abrir sua caixa de email, Marina encontrou uma mensagem de Paulo enviada no dia que ela foi embora do país.

“Marina,

Assim que eu cheguei aqui, eu tentei falar com você, mas mamãe me deu um celular novo e eu não tinha seu número salvo. Meu celular velho ficou com ela. Tentei falar com você diversas vezes pelo Instagram, mas não obtive respostas suas.

Durante essa primeira semana aqui, eu falei muito pouco com meus pais e mamãe também estava muito estranha. Tentei perguntar sobre você e ela sempre mudava de assunto.

Por favor, entre em contato comigo. Estou morrendo de saudades e preciso de notícias suas. Segue meu novo número de celular.

Sempre seu, Paulo.”

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