Capítulo 06

Os dias que se sucederam a morte dos pais de Marina foram os piores para ela. Logo cedo, no outro dia após o acidente, ela fez questão de ir ver o corpo dos pais. Sr. Sidney e Cynthia insistiram para ela não ir, mas foi inútil. Era como se Marina precisasse daquilo para ter certeza do que tinha acontecido.

O velório e enterro foi organizado pelos Toledo, que não abandonaram Marina um minuto se quer. A única coisa que Cynthia fez foi ocultar os acontecimentos do seu filho, Paulo, que tinha viajado no dia anterior e não sabia de nada. Marina, diante de tantos problemas, parecia ter esquecido completamente do amigo e também não lembrou de comunicar nada a ele.

Depois do velório, Marina estava exausta. Muitas pessoas da cidade tinham ido se despedir dos pais dela, que eram pessoas queridas naquela região e Marina ficou até o último momento do enterro. Aqueles eram os minutos finais com seus pais. Dali em diante, ela passaria a ter uma vida solitária.

- Marina, sua mãe ou seu pai nunca falaram para você do tio Victor ou da sua família de origem? - Indagou o advogado no qual, Pedro e Luiza haviam registrado uma espécie de orientações do que fazer com Marina na falta deles.

Logo quando se mudaram de país, Pedro e Luiza sabiam que Marina ficaria sozinha, caso acontecesse alguma coisa com eles e resolveram deixar uma série de instruções com esse advogado, na esperança de que aquilo nunca fosse necessário.

- Nunca. Eu vim morar aqui aos quatro anos de idade. Não me lembro da fase da minha vida que não vivi aqui e nem dessas pessoas. - Explicou Marina com tristeza. - Meus pais nunca mencionaram nossos parentes distantes.

- Bem, seus pais querem que você volte para seu país de origem e passe viver com tio Victor até os 21 anos. Aparentemente, sua mãe confiava bastante nesse homem, pois essas orientações estão comigo desde quando vocês se mudaram para essa pequena cidade. Sua mãe tinha medo de que acontecesse alguma coisa a ela e a seu pai e você ficasse sozinha no mundo.

Pensativa, Marina ficou sem saber o que dizer. Não tinha nada que a prendesse naquele local. Até a casa em que viveu com seus pais era alugada e ela não tinha meios de como continuar vivendo ali. Seus pais não tinham deixado nenhuma grande herança, ela não tinha nenhum emprego e por enquanto, ela estava de caridade na fazenda Toledo. Obviamente, aquela situação não podia mais continuar.

- Se eu arrumar um emprego para me manter, eu posso continuar aqui na cidade? - Ela indagou indecisa. Tudo que ela conhecia era aquela pequena cidade e as pessoas que ali viviam. Seus pais haviam morrido e de repente, ela teria que voltar para um país totalmente desconhecido para viver com estranhos. Também tinha Paulo, que voltaria depois de um ano.

- Mas não era isso que seus pais queriam para você, minha querida. - Cynthia, que também participava da reunião, interferiu na conversa. Era a chance de se livrar de vez de Marina, afastando-a completamente de Paulo. - Você nunca trabalhou e teve uma educação esmerada. Fala várias línguas, toca piano... que tipo de trabalho você iria conseguir nessa cidade pequena?

- A senhora Cynthia tem razão. - Apoiou o advogado. - Eu já fiz contato com seu tio Victor. Ele ficou extremamente consternado com o que aconteceu com seus pais e disse que está de braços abertos para recebê-la.

- Mas eu não conheço essa pessoa. Meus pais nunca falaram nada sobre esse homem. Acho que meus pais não tinham pretensão de voltar, caso contrário tinham mantido relação com os familiares.

- Sim. De fato, seus pais não tinham isso em mente, mas na falta de deles, eles queriam que você voltasse sim. - Reforçou Cynthia. - Entenda, Marina. Você é bem-vinda na nossa casa, mas esse é o último desejo dos seus pais. Eles gostariam que você fosse morar com tio Victor. Durante todo esse tempo, eles poderiam ter modificado esse documento, mas até hoje, as orientações são as mesmas. Você vai querer desobedecer a seus pais logo agora? Depois da partida tão repentina deles? - Cynthia sabia muito bem como manipular Marina, que sempre foi uma filha obediente e dedicada aos pais.

- Não se trata disso, tia Cynthia. Eu tenho medo de não ser bem-vinda. Por algum motivo, meus pais se afastaram completamente dessas pessoas. Talvez, não seja boa ideia voltar. - Marina não estava convencida de que voltar seria a melhor coisa a ser feita. - Aqui, eu conheço vocês, meus vizinhos e tem Paulo que vai voltar depois de um ano.

- Um ano? - Cynthia indagou com a cara mais sonsa do mundo. - Paulo só vai voltar quando concluir a universidade. Serão 3 anos morando fora. Ele não explicou isso a você? - Ela mentiu descaradamente. A intenção de Cynthia era essa, mas Paulo só concordou com 1 ano fora.

- Ele não me disse isso... - Marina falou insegura e com a voz triste. Depois de tudo isso que tinha acontecido, ela agora descobriu que Paulo não tinha falado a verdade para ela.

- Se ele fosse passar somente 1 ano fora, ele perderia completamente o ano letivo aqui. Dessa forma, nós optamos por ele concluir todo curso. - Cynthia respondeu tentando disfarçar a alegria. - A universidade que ele foi estudar é uma das melhores do mundo.

- Sim... sim... Isso vai ser ótimo para Paulo. - Marina tentava ocultar sua decepção. De fato, ela estava sozinha no mundo.

- Você quer falar com ele antes, Marina? - Perguntou o advogado compadecido da jovem. - Nós podemos entrar em contato com ele e se você não se sentir segura em voltar para seu país, nós podemos pensar em outra opção.

- Com senhor Victor? - Marina falou distraída.

- Não vejo necessidade disso. - Interrompeu Cynthia novamente. - Independente de qualquer coisa, você deveria voltar. É o desejo dos seus pais. Você vai querer ficar aqui? Como uma órfã? Sem parentes ou familiares? - Os comentários de Cynthia se tornavam cada vez mais severos, querendo convencer Marina a ir embora.

- Eu não quero ser um peso na vida dessas pessoas que eu nem conheço, tia Cynthia. Às vezes, um bom amigo é melhor que vários parentes. - Apesar de pensar isso, Marina sabia que não podia contar com seu melhor amigo. Paulo tinha mentido sobre o tempo de duração da sua viagem e de que desde que ele foi embora, ela ainda não tinha se comunicado com ele.

- Sobre ser um peso, você não precisa ser preocupar, Marina. Pelo que eu pude apurar, Victor é um homem extremamente rico. Inclusive, a empresa que leva o sobrenome dele, financia bolsas para diversos estudantes em várias universidades do mundo. - Informou o advogado. - Você pode até entrar em uma universidade, caso isso seja seu desejo.

- Eu posso dar essa resposta mais tarde? - Marina tinha ficado um pouco mais animada ao ouvir que poderia até entrar em uma universidade. Na sua casa, nunca lhe faltou nada, mas sabia que seus pais não tinham condições de pagar uma universidade para ela. Aquele tempo para pensar, ela queria justamente para tentar falar com Paulo. Ela precisava falar para ele tudo que estava acontecendo e queria saber porque ele não falou a verdade sobre concluir a universidade fora.

- Pode sim. - Confirmou o advogado. - Assim que você tiver uma reposta, por favor, me ligue. Victor já começou a providenciar os arranjos para você se mudar o quanto antes e caso você desista, eu queria avisar logo para ele.

Em seguida, o advogado foi embora, deixando para trás uma Marina pensativa e uma Cynthia bastante irritada. Ela queria que a menina fosse embora logo. Não tinha nada para pensar. Seria melhor para Marina ir embora e também para seu filho, Paulo, que era obcecado por ela. Cynthia queria que ele se casasse com a filha de outro fazendo da região, que era tão rico quanto eles. A união das duas fazendas seria incrível para os negócios. Marina não tinha nada de bom para acrescentar a Paulo. Por mais linda que ela fosse, atualmente ninguém queria somente uma esposa bibelô, ela tinha que ter posses para acrescentar alguma coisa a família de Paulo. Infelizmente, Marina não tinha isso. Era uma moça simples, como qualquer outra que morasse naquele interior esquecido por Deus.

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