Capítulo 04

Luísa Monti

O primeiro sinal de que algo está errado é quando eu entro na sala e o sorriso enorme de minha mãe me recebe, o segundo é a forma como o meu coração bate descompassado assim que os meus olhos enxergam o homem mais lindo que já vi em minha vida, ele é alto, forte, um tanto diferente, talvez isso seja por conta da forma de se vestir, o cabelo em um loiro escuro ou castanho claro no momento não sei dizer ao certo, pelo visto o homem à minha frente fez eu perder até a forma de enxergar com clareza, os olhos azuis me avaliam da mesma forma que eu faço com ele. Odeio quando me sinto avaliada, então para disfarçar que eu também o avaliei porque isso é horrível da minha parte, solto um pigarro e cumprimentei a todos. 

– Luísa querida, já ia chamá-la –Minha mãe diz animada, e para ela "perder tempo indo até o meu quarto boa coisa não é, olho para o meu pai em busca de informações, mas ele desvia o olhar me deixando desconfiada, se tem uma coisa que eu sou é desconfiada. 

– Don, Com o problema nas embarcações ontem a noite eu não tive tempo – O meu pai diz encarando o  Don como se fosse um pedido silencioso, mas o homem nega não parecendo se importar muito e se vira para mim. 

– Luisa querida – ele diz chegando perto o suficiente colocando as mãos em meus ombros, dar um beijo respeitoso em minha testa e se afasta, os olhos brilhantes de minha mãe diz que eu não vou gostar do que estar por vir. 

– Don Santoro – Digo em um sussurro, desconhecendo a fragilidade em minha voz, mas ergo o rosto e o encaro de frente – Gostaria de saber o que está acontecendo. 

– Esse é Enrico meu neto, futuro Don e seu marido – O Don diz apontando para o que agora eu lembro ser um dos netos que tanto falava, eu encaro a todos perdida, sem saber o que falar com essa "bomba" que foi jogada tão repentinamente em meu colo, Dominic Santoro é assim, ele não é um homem de rodeios o que tem para falar ele diz não se importando se o assunto tem que ser dito com cuidado ou não – Don Enrico Santoro, essa é Luísa Monti, a Sua futura esposa.  

– Babbo– é o que eu consigo pronunciar antes que uma raiva enorme cresça dentro de mim diante da tristeza e traição do meu pai, eu sempre reajo assim, ao invés da tristeza a raiva sempre vence, porque eu não consigo ficar triste acabo sempre perdoando rápido, então sempre optei pela raiva – O Senhor prometeu. 

– Filha – o meu pai tenta dizer mas minha mãe o impede. 

– Não seja ingrata – ela rosna baixinho, mas tenho certeza de que todos a escutaram podem pouco me importa, agora eu entendo o motivo da sua alegria exagerada, está acontecendo da forma como ela sempre quis, a sua "filhinha querida vai ter um grande casamento, vai casar com o chefe"  como ela pode ficar feliz com uma coisa dessas? Quem fica feliz vivendo um casamento forçado? Eu não fico, ainda mais para unir máfias, ou somente forças, isso não importa de qualquer forma o acordo feito entre os homens vale bem mais que aquele feito de pai para filha, e isso me deixa extremamente decepcionada.

– Era só o que faltava, uma mimada – A voz máscula do "meu" futuro esposo me faz encará-lo com ódio, não é possível que ele tenha aceitado isso e principalmente que ele tenha me chamado de mimada. 

– Eu sei da promessa que o seu pai fez para você – Don Santoro começa tentando se aproximar novamente, mas eu dou um passo para trás o impedindo, ele respira fundo e continua, sempre soube que ele não era um homem paciente, bom tenho uma péssima notícia para ele, eu sou paciente somente quando me convém – Estamos todos correndo perigo. 

– E o fato de eu me casar vai tirá-los do risco de morrer todos os dias?– indago sendo mal educada e desrespeitosa com o Don, porém agora não estou ligando para nada – Até onde eu sei, fazemos parte da máfia, correr risco é o que fazemos  para sobreviver,  vivenciamos esse tipo de risco vinte e quatro horas por dia desde o nascimento. 

– Agora é diferente filha – meu pai diz e eu nego  

– Diferente como? tem alguém tentando matá-los?– pergunto ele confirma o que é bem óbvio – um mês atrás, um ano atrás, também não tinha gente tentando matá-los?

Eles confirmam, porque eu estou certa, corremos riscos todos os dias, até mesmo quem não faz parte da máfia, porque viver é um risco constante. 

– Ela tem razão – Respiro aliviada quando o tal  Enrico concorda, porém logo passa assim que o bastardo continua – Precisamos mudar a forma como criam as moças da máfia, e eu não vou perder meu tempo com uma mimada. 

– Não vá por esse caminho rapaz – O meu pai o alerta, Don nada diz deixando que o neto comande tudo e eu sinto vontade de tacar a primeira coisa que eu pegar na cabeça desse brutamonte idiota.  

– Vou sim, eu era um ótimo conselheiro para o meu irmão, e estava feliz em meu lugar, vocês foram atrás de mim e cá estou eu, não são nem dez horas da manhã já estou ouvindo chiliques de uma mimada que não foi preparada para viver na máfia, quem dirá para ser esposa de um Don– Enrico despeja todo esse sarcasmo me olhando, eu me sinto exposta de uma forma como eu nunca fui, me sinto pequena de uma forma que me deixa tão vulnerável que me faz odiá-lo mesmo sem o conhecer e ainda odiaria mais se fosse possível.

– Você está na minha casa me chamando de mimada ?– pergunto dando passos curtos em sua direção – Como ousa vir de onde judas perdeu as botas para dar uma de todo poderoso chefão dentro da minha casa? Quem você pensa que é? Porque de onde eu vejo não enxergo um futuro Don, os olhos arroxeados indicando que passou a noite na farra e Deus sabe usando sei lá o que, usa jaquetas de couro parecendo um adolescente, só faltou jaqueta colegial para completar a vestimenta de garoto universitário.

– Aparência não quer dizer nada – Enrico diz simplesmente sem deixar de encarar os meus olhos, noto que todos deixaram que nos enfrentamos, sabendo que ele não partiria para cima de mim, já eu não posso dizer a mesma coisa. 

– Ah, agora ela não quer dizer nada, mas você chegou em minha casa me julgando, para você uma promessa não significa nada, mas para mim sim– eu digo com uma voz magoada  e olho para o meu pai que tenta esconder o máximo a vergonha de quebrar uma promessa – se você não é capaz de cumprir uma promessa não é digno de absolutamente nada. 

– Já chega senhorita Monti – Esbraveja Don Dominic Santoro, sinto todo o sangue fugir do meu corpo porque ele nunca foi tão grosseiro assim em minha presença, porém não tô me importando muito com nada no momento– O casamento será no dia do seu aniversário. Assunto encerrado. 

– Mas …. – tento dizer qualquer coisa mas ele levanta as minhas mãos pedindo para que eu pare. 

– É o meu legado, acha que eu queria sair do meu posto de Don agora?– ele diz encarando os meus olhos sinto frio, e isso é nada mais nada menos do que medo, porque ele usa aquela voz imponente de mafioso comigo –Estão tentando me matar garota, e se eles conseguirem Advinha o que vai acontecer com o seu pai, com a sua mãe e nem queira saber o que eles fariam com você, não cogitei a hipótese de nenhuma outra mulher da máfia casar com o meu neto porque a única que eu acredito que tenha força, e classe para ser sua rainha era você – Ele continua dizendo os meus olhos estão vermelhos, eu engulo em seco e o chefe continua – Você é ou não essa mulher Luísa? A vida de vocês está em jogo, vai entrar na linha de frente ou vai fugir como um coelhinho assustado? vai liderar ao lado do seu marido o futuro Don ou vai esperar a morte bater em sua porta? 

Ele me desafia, o velho me desafia porque sabe que eu não fujo de um desafio seja ele qual for, quando um sorriso brota em seus lábios tenho certeza de que ele sabe qual é a minha resposta, eu nunca deixaria que nada acontecesse com a minha família, e principalmente porque Luísa Monti nunca foge de um desafio mesmo que seja ter que casar com um mafioso que usa jaqueta de couro e tenha um sorriso perturbadoramente sexy. 

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