Capítulo 03

LUISA

Ouvir dizer que o jatinho do Don já de pouso no hangar privativo do chefe da máfia, mais uma vez meu babbo não me levou para Nova Iorque, do que adianta ter tanto dinheiro se eu não posso gastar? Assim  como as filhas fúteis dos capos e de alguns capitães? Claro que nem todas são assim, mas Francesca que gosta de dizer por aí que o seu nome é apenas “Fran” vive em shoppings, em viagens e baladas e eu a pobre Luísa filha do conselheiro do Don vive somente para ... nada. Sou uma mera pobre mortal presa em uma redoma de ouro, apenas estudando e vendo filmes, lendo, fantasiando histórias que provavelmente vão acontecer somente em minha cabeça. 

Enganasse quem acredita que eu faço somente isso, pelo menos as vezes, quando estou entediada, quem irá julgar uma mulher prestes a completar vinte e um anos que mal deu um beijo na boca?  Descobri uma diversão maior, conhecer o meu corpo, me masturbar. Tudo bem, assunto pesado para começar, depois falamos sobre isso.

Então vamos falar sobre ter quase vinte e um anos e ainda não ser casada, o meu pai me prometeu que eu seria diferente de outras mulheres da máfia, garantiu que eu me casaria apenas por amor. Eu sei irônico, não é? Como eu vou conhecer alguém e me casar por amor se eu só vivo presa nessa mansão? 

Confesso que eu tenho inveja de outras meninas com uma liberdade maior que a minha, eu queria poder sair e voltar sempre que eu quisesse, mas babbo e o Don disseram que estão acontecendo coisas demais para que eu possa sair, antes eu ainda podia ir tomar um chá com pelo menos cinco seguranças, mas agora nem isso eu posso mais, já tentei sondar Dante o meu segurança principal para ele me contar alguma coisa, mas o homem odeia o que ele chama de “fofoca”, mas eu chamo de informação previlegiada, nem isso estou tendo direito ultimamente. 

– Não vá perturbar o seu pai com bobagens menina – Ana diz entrando em meu quarto atraindo a minha atenção, provavelmente lendo os meus pensamentos, mas logo volto a olhar pela minha janela que dá diretamente para o jardim da mansão, o meu lugar preferido da casa, na verdade o preferido é a cozinha onde eu tento fazer algumas coisas a maioria Ana diz que nem os cachorros comeriam, mas eu tento. 

Ela quem praticamente me criou, minha mãe vive para dar festas e tomar chá com as amigas, ela não é uma péssima mãe, mas ficou ressentida quando eu fiz meu pai me prometer que eu não casaria com o Andréa filho de um dos conselheiros, ou com qualquer outro sem que eu esteja apaixonada, ela diz que se casou com o meu pai sem estar apaixonada, mas que se apaixonaram com o tempo, não querendo ser grosseira e muito menos desrespeitosa Mas o que minha mãe se apaixonou primeiro foi pelo dinheiro do meu pai, ela era filha de um dos soldados mas o pai dela morreu para salvar o don e este decidiu dar a ela um “futuro” brilhante ah casando com oeu pai. 

Ana era esposa de um dos soldados que foi morto a muitos anos, ela não quis se casar de novo e Don acatou a sua decisão ela na época quis apenas ser a minha “babá” e está comigo até hoje,  meu pai acha que eu tenho dificuldade em fazer amizade, ele diz que eu sou introspectiva, mas na verdade é as pessoas que não me interessam, principalmente as da máfia.

– Ana, você sabe porque eles foram tão repentinamente para Nova Iorque?– pergunto olhando no fundo dos seus olhos, porque Ana anda por todos os lados e ela sempre sabe de tudo, e quando mente ela não consegue esconder e sempre pisca. 

– Não, não sei mia ragazza – Diz olhando no fundo dos meus olhos eu concordo e começo a roer as unhas, uma mania que me irrita, porém não consigo controlar – Tire essas mãos da boca ou é capaz de sua mãe ter um troço.  

– Eu não sei o que está acontecendo comigo Ana, sinto uma sensação de inquietude gritante dentro de mim – falo não sabendo explicar como de fato estou me sentindo desde que soube que os dois embarcaram, mas tenho a sensação de que isso vai mudar a minha vida, eu só não sei ainda como. 

– O nome disso é fome minha querida, vem o jantar já está sendo servido  – Ela diz e eu não seguro a risada principalmente quando o meu estômago ronca alto concordando com ela, a ansiedade não me deixou comer nada durante o período da tarde, principalmente depois que minha mãe recebeu visita das amigas as quais continuam questionando porque na idade em que estou ainda não estou grávida do segundo filho. 

Fico me questionando porque essas senhoras não perguntam como vai a faculdade ?  Quais os planos para o futuro? Quantas línguas eu sou fluente? Às vezes isso me deixa completamente irritada, elas precisam entender que a vida não é só casar e ter filhos. Já tentei fazer com que o meu pai coloque uma regra de que seja possível todas na máfia fazerem faculdade sem se preocuparem com o casamento, mas infelizmente falei com as paredes, ele me trata como uma “principessa” dentro de casa, mas fora praticamente finge que não me conhece. 

Infelizmente na máfia quem sofre são os mais fracos, os inimigos sempre procuram aqueles que podem desestabilizar o seu oponente, então para evitar isso eles nunca demonstram afeto em público o que é compreensivo.  

– Porque você está com essa cara amassada Luísa? – minha mãe reclama assim que eu chego a sala, Ana me abandona indo para a cozinha – Não vai cumprimentar as visitas ? 

Só então notei a esposa de um dos capos aqui presente e tinha que ter também a presença da “minha querida Fran” 

– É claro que sim querida mamãe, mas a senhora foi mais rápida – ironizo e o olhar de repreensão da minha mãe já é costumeiro então não me afeta tanto. 

– Não se preocupe querida Giovana, já estamos acostumadas – “Fran” diz em deboche e sua mãe a doce Felícia a repreende. 

– O meu pai já chegou?– pergunto e minha mãe confirma 

– Só mais uns minutos e vamos todos jantar – Noto um nervosismo na voz de minha mãe, mas não falo nada sabendo que o seu nervosismo é apenas curiosidade, e não me passa despercebido também que Fran ostenta um anel gigantesco em sua mão

 

– Lindo não é?– comenta atraindo a minha atenção para seu rosto, eu sorrio e confirmo, não, não é lindo é extravagante demais, tanto que chega a ser cafona, mas se eu dizer ao contrário vão me acusar de ser invejosa. 

– AH querida, estou tão feliz por vocês – minha mãe comenta em uma falsa alegria, não sei porque ser tão falsa, não tem necessidade disso, provavelmente é só mais um casamento. 

– Já sabia que a minha filha está noiva de Andrea? – eu a olho com os olhos arregalados sem saber como agradecer, porque assim o homem talvez pare de me importunar sempre que tem a chance, ele é um dos melhores partidos na máfia, principalmente quando todos acreditam que ele será herdeiro no futuro.

– Que bom querida Fran, desejo um casamento lindo e muitos filhos – digo contente, antes ela do que eu e sorrio para todas, Fran levanta uma sobrancelha questionadora, porque sabe o quanto todo mundo esperou que eu que fosse a senhora Andréa Faccini, porém se empolga quando minha mãe começa a perguntar se já estão fazendo planos para que o casamento saia perfeito. 

E eu querendo apenas comer e que acabe logo essa tortura, não aguento mais ouvir a palavra casamento, acredito que isso não é para mim, já basta viver sobre "as leis" do meu pai, imagina como será de um marido? Sou totalmente contra, principalmente olhando para Felícia e Fran completamente empolgadas mesmo sabendo que o capo Santiago tem uma amante "Claro" que juram que é só boatos, porque é contra as regras o homem trair a sua esposa. 

Me assusto quando vejo Don Santoro saindo do escritório do meu pai e esse se encontra vermelho de raiva, o Don sempre me comprimenta e eu respondo educadamente. 

– Tem até amanhã Luciano, às nove horas eu estarei aqui com o Enrico – o Don diz para o meu pai que apenas concorda, o capo Santiago está aparentemente com inveja, mas quando nota que eu estou o encarando tenta disfarçar. O Don sai em seguida deixando todos desconfortáveis. 

– Luciano, preciso ir – o Santiago diz rapidamente arrastando a sua esposa e filha com ele, isso foi muito deselegante mas parece que a tensão é tanta que o meus pais não estão ligando muito para isso. 

– Luciano, você vai me contar agora o que está acontecendo – Ordena a minha mãe, e meu pai apenas massageou a têmpora 

– Agora não Giovana, agora não – Ele diz caminhando para a sala de jantar, noto que ele me ignora, mas no estado de nervosismo em que se encontra eu decido deixar para saber qualquer coisa depois, porque eu o conheço o suficiente para saber que quando está com raiva ele não gosta muito de conversar – Será que podemos apenas comer e depois conversar ?  

Ele pergunta porém não espera resposta, minha mãe também sabe quando deve ficar calada, ela parece arquitetar algo enquanto fazemos a nossa refeição, todos com os pensamentos longe, primeiro eu quero tentar me lembrar de onde eu ouvir esse nome, Enrico. 

Antes de terminar o jantar o meu pai recebe uma ligação e sai sem dizer mais nada, minha mãe fica furiosa, mas se levanta da mesa sem me dizer pelo menos um boa noite e vai também, como eu perdi a fome apenas subo para o meu quarto procuro estudar sempre que posso, conhecer novas culturas e idiomas, me apaixonar por todos e nunca visitá-los, trágico.  

Na manhã seguinte eu acordo com olheiras enormes, não dormi praticamente nada, a ansiedade me fez assistir séries quase a noite toda, confesso que metade dela eu passei olhando para a porta do meu quarto esperando o meu pai entrar e me dizer o que está acontecendo, porém nada aconteceu. 

Quando saio do banho me assusto constatando que já passa das nove horas, se me lembro bem essa é a hora em que o Don disse que viria até a minha casa com o "Enrico" não sei porque estou tão curiosa sobre ele, mas só de pensar que ele pode estar no andar de baixo me causa arrepios, iria vestir mais um dos meus jeans, porém como teremos "visitas" se eu aparecer na sala de Jeans e blusa de algodão é capaz da minha mãe cometer o seu primeiro assassinato, principalmente se essa visita for o Don. 

– Minha querida, pensei que não sairia desse banheiro nunca – Ana diz sempre dramática, sorrio para ela e lhe dou um beijo na bochecha. 

– Bom dia Ana – Eu digo e quando eu vou perguntar se tem alguma novidade ela já despeja. 

– Não vi e  nem ouvi nada, senhorita – Diz e sem me dar tempo passa as mãos na boca como se fechasse um zíper. 

– É assim que você me trata depois de anos de amizade e companheirismo?– finjo que estou magoada ela revira os olhos e dá de ombros, perdi o respeito nessa casa mesmo, antes de ela falar sobre outra coisa para mudar de assunto não foi preciso, porque Grazi, filha de um dos soldados e minha amiga está me ligando, e cedo demais só pode ser fofoca, peço licença e corro para atender. 

– Amigaaaaaaaaa – Grita tanto que eu preciso afastar o meu celular do ouvido ou ficarei surda por um bom tempo – como assim a vadi4 da Fran está noiva?

– Primeiramente bom dia – Eu digo irônica 

– Que bom dia o que, foca na fofoca Luísa – ela diz e eu reviro os olhos, desconheço pessoa mais fofoqueira que ela. 

– Sim, eu vi ontem, e você já soube com quem?– indaguei 

– Sim, e como assim não houve uma festa para ocorrer o anúncio do noivado?– diz indignada e logo arregala os olhos como se tivesse descoberto a maior das fofocas – Será que ele tirou a virgindade dela a coitada engravidou e por isso eles anteciparam as coisas?

– E ela é virgem ainda?– pergunto maldosa e ela começa a rir 

– Você é mal – Acusa ainda rindo – eu ouvi dizer que ela dá sempre o de trás para manter o que importa intacto. 

– Informação desnecessária – Sussurro enojada e logo ouço Ana me chamando, eu reviro os olhos mas logo anseio ir até o andar de baixo quando ela me lembra de certa visita. Não sei qual o motivo da minha ansiedade, mas eu sei que eu não vou me dar bem com ela – Tenho que ir, estou morrendo de fome e temos visitas. 

– Eu liguei para fazer mais um dos convites da sessão ignorar – ela diz e eu já nego de prontidão, não é que eu não quero, é que o meu pai não deixaria de modo algum ir a festas, principalmente as que Grazi gosta, minha amiga não é santa e nem virgem, ao contrário de mim, nunca se esperam casamentos com as filhas dos soldados, o que a fazem ser mais sortuda ainda. 

– sessão ignorar ativada – digo sorrindo dando um tchauzinho ela revira os olhos e eu fico triste porque eu queria sim ir em uma boate pelo menos uma vez e cometer loucuras se jogando na pista fechando os olhos e dançando como se não houvesse o amanhã. 

Luísa

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Comments

Livia Marina Romao Salmazo

Livia Marina Romao Salmazo

Adorei esse capítulo, talvez já sinta que vem chumbo grosso para ela e futura gravidez da empregada do Lorenzo

2024-03-24

8

Maria Aparecida

Maria Aparecida

informação privilegiada, ao invés de fofoca, gostei

2024-02-06

11

Maria Aparecida

Maria Aparecida

vai mudar sim sua vida Luiza, vc vai casar

2024-02-06

1

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