Doze

“ Já está pronta? Se demorar mais um pouco, darão a festa sem nossa presença!”

Eu ri da mensagem de Jake assim que terminei de ler.

_ Você é um idiota, Jake. _ murmurei, tentando não me mover muito enquanto minha mãe terminava a minha maquiagem.

Encontrei seu olhar através do espelho e a peguei sorrindo.

_ Vocês são ótimos amigos, não é mesmo? _ ela comentou. _ Fico satisfeita que o Jake irá com você, assim posso dormir tranquila sem imaginar as coisas terríveis que todas as mães devem imaginar ao deixar a filha ir para uma festa cheia se rapazes e...

_ Hei, mãe! _ protestei, me virando para ela quando ela finalmente terminou. _ É apenas uma festa e sabe que pode confiar em mim.

Bem, mais ou menos, pensei.

Se ela ao menos desconfiasse do que eu pretendia fazer aquela noite, acho que ela seria capaz de me amarrar ou me prender no meu quarto.

_ Eu sei, minha querida. _ ela murmurou, levantando-se e me puxando para fazer o mesmo. _ Você devia se vestir assim mais vezes, sabia? Você está tão linda...

Ela me fez virar novamente para o espelho, mas agora, de pé,  e me olhando no reflexo, eu não reconheci a mim mesma.

_ Eu estou... diferente. _ foi o que consegui dizer.

Minha mãe riu.

_ E eu usei o mínimo de maquiagem.  _ ela disse, se afastando e pegando sua bolsa. _ Essa é você de verdade, sem aquelas roupas largas e com os seus cabelos livres do prendedor.

Eu me virei de um lado para o outro, observando cada detalhe da minha roupa.

Alguém me reconheceria na festa, vestida daquele jeito? Pensei.

_ Você está pronta? _ meu pai perguntou da porta do quarto, estacando no lugar ao me ver. _ Oh... nossa! Você está...

_ Estranha? Diferente? _ eu perguntei,  enquanto sorria.

Meu pai sorriu de volta, recostando-se no marco da porta e cruzando os braços, enquanto me olhava com admiração.

_ Deslumbrante. _ ele terminou. _ Eu acho que vou ter uma séria conversa com o Jake antes de saírem. Pedirei para ficar de olho em você.

_ Pai! _ resmunguei, pegando a bolsinha de mão que minha mãe me emprestou, onde manteria meu celular, as chaves de casa e documentos.

_ Eu coloquei algum dinheiro na sua bolsa, para o caso de acontecer algum imprevisto. _ minha mãe avisou.

Peguei meu celular e digitei rapidamente, avisando ao Jake que já estava pronta,antes de guardá-lo novamente na bolsa.

_ Não sei que tipo de imprevisto poderia acontecer. Debbie mora a alguns quarteirões de distância. _ retruquei e saímos do quarto, descendo as escadas para esperar pelo Jake na sala.

_ Vai estar tarde para virem embora e a gasolina pode acabar ou o carro pode estragar no caminho... _ minha mãe foi citando vários contratempos que poderiam acontecer e olhei para o meu pai, divertida.

_ Relaxa, Hellen. _ meu pai pediu, puxando minha mãe para os seus braços no mesmo instante em que a campainha da casa soava.

_ Deve ser o Jake. _ eu avisei, me apressando para a porta com o coração acelerado.

_ Espere, eu ainda preciso falar com ele... _ meu pai disse, mas foi interrompido por minha mãe, que o manteve no lugar enquanto o encarava com uma expressão zombeteira.

_ Relaxa, Carter. _ ela disse.

Meu pai a encarou, estupefato,  enquanto eu abria a porta e me deparava com o Jake de costas para mim.

E quando ele se virou eu...

Era normal um coração bater tão rápido quanto o meu estava batendo naquele instante? Pensei.

Sempre vi Jake se arrumar para sair com seus amigos ou algumas garotas, mas naquele momento era...

Diferente.

Porque ele estava muito bonito.

Lindo, para ser mais exata, vestido com aquela camisa preta que lhe dava um ar perigoso e sexy ao mesmo tempo e com aquela calça jeans que cobria suas coxas fortes e bumbum perfeito...

_ Me desculpe, acho que bati na casa errada. _ ele disse, gracejando. _ Eu pretendia chamar na casa da minha amiga Calíope,  uma garota que não se veste como garota e adora fazer coisas de meninos.

_ Não seja um babaca, Jake! _ ordenei, mas acabei sorrindo também.

_ Quantos caras terei que deixar de olho roxo essa noite? _ ele brincou.

_ Nenhum, eu espero. _ foi meu pai quem disse, quando conseguiu se livrar de minha mãe e parou para nos observar da porta. _ Nada de violência, Jake. Mas fico feliz em saber que vai tomar conta da minha bonequinha...

_ Claro, senhor Jones. _ Jake concordou, estendendo o braço para me ajudar a descer os degraus na frente de casa, enquanto me olhava de lado e ria baixinho quando viu minha careta diante do apelido que meu pai me deu.

Estava claro o quanto ele estava se divertindo com tudo aquilo.

_ Eu trarei sua... bonequinha, de volta.

Lancei um olhar afiado para ele.

_ Boa noite, pai, mãe! _ eu disse, decidida a ignorá-lo.

Pelo menos na frente deles.

_ Boa noite para vocês dois. E se comportem! _ minha mãe pediu, aparecendo por trás do meu pai. Jake abriu a porta para mim e logo em seguia estávamos a caminho da casa da Debbie.

_ Você está linda, Callie. _ ele disse de repente, me pegando de surpresa.

_ Eu... _ eu gaguejei, desconcertada. _ Obrigada, Jake.

_ Ah, eu já ia me esquecendo de uma coisa. _ ele comentou, segurando o volante com apenas uma das mãos enquanto procurava por alto no bolso de sua calça com a outra. _ Isso é para você. É o meu presente de aniversário.

Olhei para a pequena caixinha que ele estendia para mim e a peguei, abrindo-a.

Dentro da pequena caixinha, havia um colar de prata com um pingente em formato de barra 3D. Era pequeno e delicado, e quando virei de um lado para o outro, vi nossos nomes gravados. E nos dois lados restantes, estava escrito “para sempre”.

_ É lindo, Jake. Obrigada. _ agradeci, tirando o colar da caixinha e o colocando no meu pescoço.

_ Você gostou mesmo? _ ele perguntou, inseguro.

Sorri, com sinceridade.

_ Claro que sim. _ respondi. _ Para sempre?

Eu o provoquei.

Jake parou o carro em frente a casa da Debbie, mas não fez menção de sair de imediato.

Então eu apenas o imitei e ficamos ali sentados.

_ Tá, eu sei que o “sempre” não existe, mas é uma forma carinhosa de mostrar a você o quanto prezo nossa amizade, Callie. _ ele disse, sorrindo. _ Eu nos vejo ainda como amigos daqui a alguns anos e nossos filhos brincarão juntos.

Eu não consegui me conter e acabei rindo.

_ E diz o cara que não se envolve em relacionamentos! _ provoquei. _ Como terá filhos se não tem nem mesmo uma namorada?

_ Sabe, Calíope... _ ele disse depois de um suspiro. _ Você fica muito mais bonitinha quando está calada.

Dei-lhe um soco no braço, chocada com suas palavras.

Jake sorriu, então se voltou para mim com um olhar preocupado.

_ Quanto a... _ ele não disse mais nada por um momento.

_ Jake, eu não quero forçar você a nada. _ eu disse rapidamente.

Ele era o meu melhor amigo e por isso havia pedido aquilo a ele.

Porque sabia que ele faria qualquer coisa por mim, assim como eu faria por ele.

Mas talvez não tivesse sido uma boa ideia.

_ Não é isso, é que eu prefiro que seja lá em casa. _ ele disse.

_ Tudo bem. _ eu concordei imediatamente. _ Podemos nos encontrar aqui por volta das vinte e três horas.

_ Não vou encontrá-la aqui, Callie. _ ele disse, me deixando confusa por alguns segundos. _ Porque eu não pretendo sair de perto de você.

_ Você não está exagerando um pouco? _  brinquei, pois sabia que quando passassem daquela porta, Jake encontraria uma companhia, seja feminina ou masculina, e esqueceria de minha presença.

Jake apenas piscou para mim antes de abrir a porta e sair do carro.

Ele deu a volta e me ajudou a descer.

Dava para ouvir a música tocando de dentro da casa e pelas janelas podíamos ver muita gente dançando.

Respirei fundo antes de colocar a mão sobre a maçaneta da porta.

_ Está pronta, aniversariante?

Bem...

Desejar me virar e sair correndo era o mesmo que me sentir pronta? Perguntei a mim mesma.

Porque se fosse isso, então, estava mais que pronta.

Respirei fundo e abri a porta.

E no instante seguinte era recebida com um grito de surpresa enquanto Abie e Alissa se jogavam em cima de mim, para um abraço.

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