Cap-14

Kath

Depois que saímos do restaurante, Vincenzo se mostrou mais quieto do que o normal. O silêncio no carro está constragedor para mim, pricipalmente porque fiz duas coisas de que me arrependo profundamente, deixei a lembrança do bebê que eu perdi, arrancar lágrimas minhas, na frente dele. O que por instantes pareceu comove-lo, o gesto carinhoso dele, acariciando meu rosto, fez eu perder o controle do corpo. Usei todas minhas forças para voltar ao meu normal, e ao invés de ficar quieta na minha, o provoquei, provando a fatia de cheesecake sensualmente.

Agora me sinto envergonhada pela minha atitude, e com certeza ele não gostou nada, do que eu fiz.

Quando vejo que saímos da capital e entramos numa estrada mais deserta, fico apreensiva.

Não sei onde eu estou com a cabeça, aceitando sair sem rumo e sem saber para onde serei levada, com um mafioso. Reparo pelo retrovisor, que estamos sendo seguidos por dois utilitários pretos de vidro fumê.

— Estamos sendo seguidos, Vincenzo.— murmurei preocupada.

— É mesmo?— ele sorri irônico.

— Não está vendo os dois utilitários nos seguindo?

— Nos seguiu o tempo todo, Kitty. São meu pessoal.

Suspiro aliviada.

Já estou ficando paranóica com os inimigos da máfia?

Passei as duas semanas lendo, assistindo filmes, tudo o que encontrei sobre a máfia italiana na internet. Tenho que confessar que me assustei com algumas coisas, e desde então, sempre acho que alguém me segue, que tem escutas no meu apartamento, que meu celular está clonado... Estou até cogitando um segurança particular, idéia que abominava.

Me acalmo com a paisagem arborizada da estrada, começamos a passar por várias propriedade de milhões de dólares, em terrenos extensos.

Vincenzo desacelera o carro, parando em frente a um muro de predras com um portão de ferro grande, a voz do GPS anuncia que chegamos no destino.

O portão se abre automaticamente, me dando a visão da propriedade privada, que de primeira vista parece toda fechada e vedada.

O que me tira o fôlego é a mansão, toda revestida em pedra coríntia, uma construção impecável, parece arquitetada especialmente para realeza.

O espaço é extremamente amplo, de perder de vista.

Vincenzo para o carro a uma distância onde podemos observar a casa como um todo.

— O que acha?— ele pergunta sem retirar os olhos do palácio.

— É linda!— exclamo com mais emoção do que gostaria de demonstrar.— Porque?

— Foi a única coisa que arranjei longe da capital. Comprei esse lugar. Será a nossa casa.

A voz grave e determinada me intimidou.

— Mas eu não quero sair de Manhattan...— reclamei.

Ele me olha incrédulo.

— Eu nunca vou entender, o gosto das pessoas pela cidade grande, ainda mais Nova York, a capital mais agitada do mundo.

— Deveria ter pensado nisso, antes de vir pra cá, e querer casar com uma nova-iorquina.— respondi irônica.

Ele bufa contrariado e sai do carro, contornando para abrir a porta para mim.

Assim que desço do carro, o cheiro de campo invade minhas narinas. Eu não posso negar o quanto o lugar é lindo e exótico.

— Um lugar desse, vai exigir muitos funcionários...— reclamei de novo, só para contraria-lo.

— O que tem contra ter funcionários, Kitty?— ele pergunta levantando a sobrancelha.

Dou com os ombros.

— Não é como a casa da família na Sicília, mas vai servir.— ele pega a minha mão e me puxa para a entrada principal da casa.— Fica a vinte cinco minutos da capital, não vai interferir no nosso trabalho. O lugar é seguro e posso ter controle de tudo na propriedade, tem sistema de casa inteligente.— ele chega na porta de madeira rara, e abre.— Posso posicionar meus soldados por todo canto, e até fazer reuniões secretas com a máfia americana.

Não estou nem ligando para o que Vincenzo fala, meus olhos se encantam com a arquitetura européia do lugar.

Desde o piso brilhante num tom marfim, as colunas esculpidas, o terraço superior que dá para o interior do grande salão de entrada, o teto que parece uma obra de arte, o grande lustre de cristal, me fazem sentir em um filme de época, como "Orgulho e Preconceito", onde as danças clássicas aconteciam, na alta sociedade.

— A casa ainda está vazia, não possui muitos móveis, vou te deixar na liberdade de decorar o espaço.— ele fala andando pelo lugar.

— Decorar? Esse lugar está perfeito! — exclamo rodando pelo lugar.— E fora que não saberia como decorar uma casa dessas...

— Para isso existe designer de interior. Vamos marcar um dia e conversar a respeito.

— Qual o tamanho desse lugar?— pergunto curiosa.

— Toda propriedade possui 4,5 hectares. A casa é aproximadamente 4500 metros quadrados.

E eu já achava a casa do meu pai no Queens, uma mansão, com seus 2000 metros quadrados.

Eu não contenho meu fascínio, quando nos aproximamos do fundo e contemplo a piscina coberta, com queda de água.

Fiquei deslumbrada com o lugar, que ainda conta com sauna á vapor e spa, terraço em todos os suítes, tudo em mármore com um design personalizado.

Vou até o terraço de um dos quartos, o que mais gostei, que me dá a vista para um jardim lindo, um lugar perfeito para a prática de yôga. Me apoio no parapeito e observo o crepúsculo iniciar, não existe nada nesse lugar, que não seja lindo e mágico.

Nem percebi a tarde passar, encantada com esse lugar, que é como um oásis no deserto.

— Vai escolher esse quarto?

A voz grave e suave, me trás a realidade.

— A melhor vista.— respondo me virando para encara-lo.

— Com certeza...— ele confirma.

Mas os olhos castanhos, estão em mim, não na paisagem do lugar.

— Preciso ir, tenho que ficar com a minha mãe. — Tento ignorar o efeito dos olhos me encarando.— Sabe que minha mãe, vai ter que morar com a gente, né?

— Claro, eu nunca separaria vocês. Aliás, precisamos ser apresentados.

— Vou te convidar um dia...— hesitando continuei.— Ela ainda não sabe do nosso noivado... não sabe nada sobre a máfia. Se não se importar, prefiro manter assim. Contarei uma estória qualquer, e vamos parecer um casal normal.

— Como quiser.— ele assentiu — talvez não seja da minha conta... mas porque se emocionou no almoço?

Sabia que algo o incomodava, mas nem de longe imaginei, que meu momento emotivo o preocupou.

Esse é um segredo íntimo, ninguém sabe, nem mesmo a Hailey. O Ethan é o único que descobriu, quando eu fiz exames períciais para provar a violência do Richard, mas eu não deixei ele usar a perca do meu bebê na minha defesa, e fiz ele usar sigilo advogado cliente, para não contar a ninguém. Não queria usar a minha dor da perda, para sensibilizar ninguém, já bastava o que sentia por dentro.

— Tem razão, Vincenzo, não é da sua conta...

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