Cap-7 Entre a Vida e a Morte

Kath

Tento de alguma forma me lembrar de ter assinado esse contrato, mas foi a nove anos.

Quando meu pai morreu, lembro de ter assinado muitos papéis que o Richard me entregou, provavelmente esse contrato estava no meio.

— Senhora Dempsey, jamais fechamos contratos com apenas um dos cônjuges. Gostamos de garantias de ambos os lados do casal.

— Vocês são muito ingênuos! Eu era apenas uma garota de dezoito anos, de luto pelo pai, Richard nunca me falou sobre vocês, assinei algo que eu nem sabia o que era.

— Eu sinto muito, mas quer explicar isso tudo a um bando de homens sedentos pelo seu sangue?

Meu coração acelera, mas disfarço com um sorriso irônico.

— Veio me fazer ameaças, senhor Moretti?

— Receba como quiser, mas para sua sorte, intervi a seu favor, e impedi que perdesse sua vida tão cedo, isso é, se aceitar a minha proposta.

— Deveria te agradecer então?— pergunto com sarcasmo.

— Não.— ele sorri com perspicácia.— Vim aqui, para propor duas opções, e uma escolha.

Ele hesita por um instante, juntando as mãos sobre as pernas.

— Estou ouvindo, senhor?!— perguntei impaciente.

— Bom, você pode se casar comigo...

Dou uma risada alta, o interrompendo.

— Esse foi o pior pedido de casamento de todos os tempos!

Ele me olha sério, apesar de se manter imóvel, a expressão é de desapontamento, e num tom imperativo diz:

— Não é um pedido, senhora Dempsey. É uma escolha, e se ama a sua vida, vai aceitar se casar comigo.

— O quê?! Jamais!!!— esbravejo indignada, levantando da minha cadeira.

— Prefere perder a vida então? A escolha é sua, tem 24 horas para me dar a resposta. Nem pense que poderá evitar o seu destino. Temos policiais, promotores, advogados, políticos... Bom, não é tão simples quanto parece, senhora. Aconcelho, optar pela sua vida, e continuar sendo a mulher incrível que é. Não envolva terceiros na sua decisão, isso pode custar a vida de outras pessoas.

Eu pisco os olhos várias vezes, tentei evitar, mas meu coração bate tão acelerado que acabo ofegando, me inclino e apoio as mãos na mesa.

Ele me encara observando minhas feições. Apesar do pânico, uma raiva toma conta de mim, não vou me submeter a um casamento novamente, para mim, bastou um.

Eu não vou passar por chantagem desse homem!

— Eu não vou aceitar nada! Minha escolha é permanecer como estou! Livre!— minha voz sai decidida e obstinada, apesar do terror interior. Consigo estabilizar meu corpo e volto na minha compostura implacável.

Vincenzo nem se abala, ele permanece seguro de si, difícil saber o que passa naquela cabeça. Num gesto calmo, ele apoia as costas na cadeira e me olhando com frieza, diz:

— A senhora tem 24 horas, apartir de agora. Não vou considerar o que disse, sei que é uma notícia chocante. Mas amanhã, pense bem no que vai me responder. Eu prezo pela sua vida senhora Dempsey, é uma mulher linda e tem a minha profunda admiração como empresária. Não cometa o erro de desafiar a máfia italiana.

Volto a me sentar.

Como o homem, pode ser tão cínico?

Ele me força a algo que eu não quero, e ainda acha que está me salvando.

Eu busco forças no fundo do meu ser, não posso cair nessa, sem poder lutar ou me defender. Deve haver uma maneira de me livrar disso, sem perder a minha vida.

"É claro!"

— Não acredito que vocês queiram me matar. Se quisessem de verdade, já estaria morta. Precisam de mim.— argumentei orgulhosa.

Ele me olha, e por mais que não seja de muitas expressões, observo os lábios querer desenhar um sorriso.

— Mulher inteligente e astuta!— ele diz com admiração.— Acredite senhora Dempsey, ninguém da máfia viu valor na senhora. Foi considerada a culpada pelos roubos, e traição para nós é pena de morte. Eu sei que não é culpada, mas precisava agir com uma solução, para que não a matassem. Mostrei o seu valor para máfia, e com isso a garantia de estar do seu lado vigiando tudo, foi a única maneira que encontrei de salvar a sua vida.— ele suspira, e pela primeira vez, tem uma aparência de preocupação.— Acredite, eu estou salvando a sua vida. Não deveria ter brincado com a gente, somos pessoas honradas, mas não admitimos negligências, ou traição. Se tivesse mantido o contrato sem nos prejudicar, estaria na sua vida tranquilamente, sem preocupações. Suas atitudes, nos deu um grande prejuízo, não só financeiro, como nas alianças que temos, e para piorar, atraiu a atenção da polícia para nós.

— Eu não pedi essa vida! Eu não quero isso! Não me entende?— protestei indignada.

— Então porque não vende a sua empresa para nós? Pagaremos um preço justo, e te dou a chance de fugir para que ninguém te encontre.— sugeriu com sinceridade.

Abandonar tudo o que meu pai construiu, e que conquistei com mérito?

Eu não deixaria esse lugar, é a minha vida, o que me faz seguir em frente, sou orgulhosa demais para desistir de tudo.

Fito os olhos castanhos a me olhar, a presença dele é tão impactante. Parece ser um homem de respeito, mas já me enganei com as aparências, sou péssima para julgamentos.

Tudo o que me resta, é aceitar a proposta, mas como uma mulher de negócios, não vou aceitar tudo, sem as minhas condições.

— Supondo que eu aceite a proposta de casamento, terei minhas condições.— falei cruzando os braços.

Ele parece surpreso.

— Sou todo ouvidos!

— Será um casamento de aparências, não vamos dormir juntos, teremos quartos separados. Nada de beijos e sexo.

— Tudo bem, eu não toco numa mulher que não me quer, sou um cavalheiro.— respondeu arqueando a sobrancelha.

— Na empresa, não quero que se intrometa nos meus clientes legais, eu cuido deles.— continuei convicta.

— Esse é o plano, só cuidarei dos contrabandos.

— O casamento será simples, não quero nada glamouroso.

— Se não se importar, quero me casar na Sicília, na Catedral Palermo.

— Viajar para Itália não está nos meus planos.— retruquei.

— Prometo que será rápido, e só com a minha família, três dias no máximo.

Nunca imaginei na minha vida, que chegaria a essa posição, aceitar um casamento desse jeito, ainda mais eu! O negócio é ficar no controle, e não demonstrar fraqueza.

— Senhor Moretti, se por hipótese alguma, levantar a sua mão contra mim, me forçar a dormir com o senhor, ou me dizer palavras abusivas, eu prometo que eu te mato, com minhas próprias mãos. Tolerei muitos abusos no passado, e veja no que deu, não pense que não faço o mesmo com o senhor, se precisar.

Dizer essas palavras, me trouxe um alívio no peito. Consegui relaxar os músculos tensos, e até manter uma postura elegante cruzando as pernas.

— Então já tenho minha resposta?— ele pergunta com uma discreta animação.

Eu e minha precipitação! Hailey, cadê você?

— Sim, não tenho o que pensar mais. Vou mandar meu advogado, fazer um contrato a parte, para que assine os meus termos.

Ele me olha sério e diz:

— Tudo bem. Mas asseguro a senhora, de que sou contra violência em mulheres e estrupo, não sou covarde. Com contrato ou sem contrato, vou respeitar seu espaço, até que mude de idéia.

Dou risada. Ele esboça um sorriso malicioso no rosto.

— Jamais mudarei de idéia! Estou blindada para paixões!

Ele só acena com a cabeça e se levanta, fechando os botões de seu terno.

— Foi um prazer negociar com a senhora.

Mais uma vez ele estende a mão, me levanto e o encarando, dessa vez aceito o cumprimento.

Não deveria, o aperto firme da mão dele, o toque quente da pele, pareceu me eletrizar.

Solto a mão rapidamente, ele também ficou estranho e em poucos passos, se retirou da sala.

Me jogo na cadeira, colocando a mão no meu rosto, fecho os olhos e penso:

"Loucura!"

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