Cap-5 Confissão

Vincenzo

Quando saio da reunião, Matteo me espera, se aproxima e diz:

— Não acredito que vamos para América!

— Se contenha Matteo, temos um trabalho melindroso nas mãos.

— Quer dizer você, não mandei colocar essa idéia maluca, de casar com a viúva em ação.

— Se não pode me ajudar, não precisa me acompanhar nessa viagem.— falo erguendo a sobrancelha.

— É claro que vou te ajudar, primo querido! Sou amigo de todas as horas.— ele diz dando murrinhos no meu ombro.

— Já vou.— entrando no carro, me viro ligeiramente— Se prepare, por que pretendo viajar ainda essa semana.

Entro no meu lamborghini, Matteo se abaixa e apoiando a mão no teto do carro pergunta:

— Vamos comemorar? Que tal uma bebida no bar do Grand Palladium?

— Hoje não Matteo, tenho outros planos.

Ele me olha malicioso e pergunta:

— Vai se despedir da pequena Anna?

— Não.— respondi frio.

Ele revira os olhos.

— Vai na igreja...

— Não sei porque o incômodo com a minha fé, tia Andrea é mais religiosa do que eu, deveria seguir os passos dela.

— Você e minha mãe, já rezam o suficiente para mim.

Ele se levanta e dando dois toques no carro, dá sinal para o motorista seguir.

— Para Catedral Palermo, senhor?

— Sim, Mario.

Pode parecer hipocresia minha, mas me sinto bem quando vou na igreja e rezo, sinto uma paz interior. Obviamente, só visito a catedral, quando está vazia, gosto do silêncio do lugar, de olhar os bancos vazios e encarar as velas do altar.

Como a maioria dos italianos, fui criado na igreja, e a máfia tem um profundo respeito a religião.

Depois que tenho meu momento íntimo e introspectivo, me levanto e o padre Antonio, meu confessor, me observa de longe.

Vou até ele e o cumprimento.

— Benção, padre.

— Deus te abençoe, meu filho.

— Quero me confessar.

— Claro, me acompanhe.

Entro no confessionário, e suspirando na pequena cabine, início minha confissão.

— Padre, eu quero confessar um pecado que vou cometer...

— Não entendo, confissão é para algo que já praticamos.

— Eu sei... mas terei que forçar um casamento com uma mulher.

— Se sabe que isso é pecado, porque insiste em cometer? Ainda está em tempo de desistir disso.

— Não posso, como futuro líder da família, tenho que resolver certos problemas, e provar meu valor ao meu pai e todos membros da máfia.

— Sim, desde que não afete a sua fé.

— Esse é o problema, me sinto bem e confiante. Meu coração está feliz em ter maquinado esse casamento. Sei que deveria me sentir um homem ruim por isso, mas desde que pensei nesse plano, me sinto ansioso, não vejo a hora de obrigar a moça a se casar comigo... é isso que tem me pertubado a alma. Porque estou sentindo como se estivesse fazendo algo bom?

— Você a conhece?

— Não, só a vi por fotos, é linda como um anjo.

— Seria possível ter se apaixonado pela mulher?

Sorrio por dentro.

Um absurdo!

Eu, Vincenzo Moretti, me apaixonar? Ainda mais por alguém que não conheço. Definitivamente impossível!

— Não padre, eu não estou apaixonado...— respondi com um risinho irônico.

— A quanto tempo está planejando o casamento?

Pode parecer estranho o jeito que o padre Antonio conduz a confissão, mas ele me conhece desde que era um garotinho, temos uma relação profunda, só ele conhece os meus temores, fraquezas... O meu íntimo.

— Um pouco mais de um mês eu tive essa idéia, mas só hoje declarei e tive a permissão do meu pai.

— Além de estar gostando de ter que praticar isso de forma grosseira e sem amor, o que mais o pertuba?

— Ficar longe do meu país... gostaria de poder resolver tudo daqui. Eu amo esse lugar e vou sentir sua falta, padre...

— Te entendo, filho. Sei que não gosta de mudanças, foi feito para estabilidade. Mas me diz uma coisa, não seria possível conquistar essa mulher primeiro, para depois casar com ela?

— Poderia... mas não tenho tempo... a minha vaidade, é o fato de ter impedido a morte dela... mas estou sem tempo para fazer ela se apaixonar por mim. E algo me diz que ela não é do tipo fácil, passou por momentos traumáticos.

Tudo que passa na minha cabeça agora, é a vida dela, que minusiosamente investiguei. Tive acesso aos antecedentes criminais dela, vasculhei minuciosamente o caso dela, já sei tudo sobre a sua vida, o que passou, onde mora atualmente, roupas preferidas, restaurante preferido, hobbies... enfim, a conheço, sem a conhecer, estranho, né?

— Eu te absolvo pelos pecados da sua mente, no nome do pai, do filho, e do espírito santo!— ouve um breve momento de hesitação— Quanto aos desejos errôneos do seu coração, aconselho a não submeter uma mulher a um casamento sem amor. Tem idéia do que um matrimônio significa, Vincenzo?

— Sim... mas sabe que minha vida não é como a dos comuns, nunca me casaria por amor. Mas quem sabe depois do casamento? Minha mãe é apaixonada pelo meu pai, e tiveram um casamento por conveniência.

— Não maltrate a moça, filho.

— Jamais, se tem uma coisa que aprendi com meu pai, é respeitar uma mulher. Sou um homem, padre, não um covarde. Não sou de paixão, mas vou trata-la bem.

— Interessante falar dessa mulher assim, ela já sabe dos seus planos?

— Não, nem sabe que eu existo.

— Hmm... está com uma certa obsessão com a mulher, não acha?

Não respondo, o padre tem razão, com a minha necessidade de um grande desafio, tornei ter essa mulher um dos meus objetivos centrais, e eu nem sei o que esperar dela, é o que torna tudo mais excitante para mim.

— Padre, perdoe a minha euforia, mas ainda continuo num desejo grande de enfrentar esse desafio...

— Filho, o futuro está nas suas mãos.

Pensei que ficaria com a alma tranquila, após a confissão, mas estou mais ansioso ainda.

Gostaria de ir para minha casa agora, mas o meu desejo carnal vence, e sigo para casa da pequena Anna, uma "amiga", que satisfaz meus desejos sombrios.

Descendo do carro, falo para Mario:

— Volte em duas horas, Mario.

Ele assente e se retira.

Aperto a campainha da casa, avisto a pequena mulher, ela vêm correndo para me atender.

Com seu jeitinho peralta, ela sabe exatamente como me consolar.

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