Cap-4 Vincenzo Moretti

Vincenzo, 33 anos

No salão secreto no porão da propriedade Moretti, em uma terra isolada onde temos uma vinícola entre outras coisas, acontece as reuniões da família e membros da máfia, onde decidimos assuntos pertinentes aos negócios da máfia Siciliana.

Meu tio paterno, Giovanni Moretti, veio dos Estados Unidos há dois dias, e reclama da falta de atenção que a dona da Transportadora Dempsey tem tido conosco. Nossas mercadorias estão sendo estraviadas, quando não, roubadas ou furtadas. Faz alguns anos que venho reparando a negligência da nova empresária, mas só nesse mês é que dei uma atenção especial ao caso, os furtos e roubos se tornaram mais constantes. O meu tio acha que Katherine Dempsey, é a culpada, mas pelas minhas investigações particulares, não achei indícios disso, ela apenas está sendo negligente com a máfia.

Estamos sendo afetados com tudo isso, a máfia americana, nossa aliada, tem se abalado pela falta dos nossos produtos e prejuízos que estão tendo, isso tem pertubado os americanos, nos deixando numa posição ruim, e com uma fragilidade em nossa aliança.

Meu tio é um homem impulsivo e nervoso, acha que tudo se resolve com morte, e dessa vez, pelos olhares aprovadores dos que acompanham a reunião, ele parece ser ouvido.

Federico Moretti, 54 anos.

Meu pai, Federico Moretti, capô da máfia Siciliana, pensativo pondera as palavras do irmão mais novo.

— Não tem outra solução, temos que matar a Katharine Dempsey!— Giovanni exclama, como se tivesse a palavra final.

Eu, até agora, me mantive apenas observando as conversas e suas possíveis soluções. Odeio falar no meio de converseiros, quando falo, gosto de ser ouvido sem interrupções. Por isso sempre deixo falarem sem parar, quando sinto que meu pai está prestes a tomar uma decisão, ou pedir uma votação, eu levanto a minha mão, fazendo todos se calarem e olharem na minha direção.

— Fala filho.— Federico me olha sério.

Depois do meu pai, eu tenho a maior palavra, sou o sottocapo, e meu pai tem uma grande admiração por mim, me treinou a vida toda para substituir o seu lugar.

Eu faço tudo para impressiona-lo, é um líder nato, quero ser como ele. Diga-se de passagem, que já tenho um certo respeito por todos, menos pelo meu tio.

Deixo a postura relaxada, e me endireitando na cadeira, apoio meus cotovelos na mesa e cruzando as mãos, digo:

— Não acho que a melhor solução seja matar a senhora Dempsey.

Todos me olham incrédulos, até meu pai, mas sinto o semblante sério suavizar, sei que ele odeia quando temos que tomar atitudes drásticas, como matar alguém.

Aponto para um exemplar de uma revista famosa de Nova York, onde Katharine Dempsey é a figura da capa, de uma reportagem intitulada: "Mulheres de Sucesso".

Todos olham para revista sem entender.

São tão superficiais!

— Vou dizer por que mata-la, não é o melhor caminho. Primeiro, traria uma investigação incessante da polícia, ela é uma figura pública famosa, e não queremos a atenção do FBI em nós. Seria fácil, comprar a empresa das mãos da mãe frágil, mas seríamos alvo de investigação constante e desconfianças dos clientes estáveis, que migrariam para outro lugar. Sem os clientes legais, como vamos mascarar nossas atividades fora das leis do país?— todos me olham de queixo caído— Tenho uma idéia melhor, vou viajar para os Estados Unidos, e me tornar sócio dessa transportadora, e reafirmar nossa aliança com a máfia americana.

Meu tio me encara debochado e pergunta:

— Acho seu plano maravilhoso! Mas como pretende comprar parte da empresa da viúva e se tornar sócio?

Essa interrogação está estampado em todos os rostos. Um meio sorriso forma no meu rosto.

— Posso ser persuasivo, tio.

— Não pense que essa mulher, é a garotinha frágil que se casou com Richard Walker. Ela é uma mulher implacável, chegou a matar o marido, não é á toa que é conhecida como viúva negra. Acha que já não tentei comprar a empresa dela? Ela nunca venderia, tem um apego sentimental com a transportadora, acho que tinha uma aproximação grande com o pai.— Giovanni argumenta.

— Eu não sou o covarde do Richard!— exclamo indignado, sei dos abusos violentos do homem morto— Quem disse que terei que comprar a empresa? Tem outras formas de conseguir a sociedade. Eu quero que ela continue sendo a imagem da transportadora, precisamos dela para prosperar. Vou forçar um casamento com ela. Como gentileza, darei minha parte em dinheiro para assumir 50% da empresa. Um casamento vai ser perfeito, ganho cidadania americana, ela continua com os negócios legais, sendo quem ela é na empresa, e enconbrindo nossos contrabandos. Eu estarei do lado dela, garantindo segurança das mercadorias, e vou investigar de perto o motivo de tantos furtos e roubos nesses últimos meses.

Meu tio ri sarcástico.

— Tá na cara que ela é culpada! Ela nos traiu!

— Discordo.— retruquei.

Meu pai me encara pensativo.

— Filho, por mais que eu adoraria vê-lo casado, não acha uma missão impossível? Mesmo que consiga forçar a mulher a casar-se com você, como vai controla-la? Na melhor das hipóteses, ela vai morrer de raiva de nós, pode se tornar vingativa e nos prejudicar, isso se ela não for uma traidora. Prefiro que case com alguém da nossa família.

— Se ela nos trair, dou carta branca para matarem ela, uma vez casado, tudo vai ficar no meu controle. Ela vai ter que escolher, a morte, ou se casar comigo. Pai, um casamento com a viúva, será mais lucrativo do que com uma prima qualquer. Eu posso controlar uma mulher.— falei determinado.

— Sabe que sou contra abusos e violência em mulheres, espero que o seu controle seja sem violência!— advertiu Federico.

— Ameaças, chantagens, são o melhor caminho, pai. O senhor mais que ninguém, sabe que jamais praticaria violência contra uma mulher.— falei sério— Se ela ama a vida dela, vai se casar comigo.

Termino de falar, olhando a foto da mulher empoderada na revista que está jogada na mesa central.

Saio ganhando em todos os sentidos, a mulher é de uma beleza exótica, sei que me dará trabalho, mas adoro um desafio.

Sempre soube que me casaria sem amor, os casamentos na máfia sempre tem interesses próprios, seja econômico ou para alianças. Pelo menos não vai ser com alguma prima distante, que os pais cuidam para que se casem com alguém de cargo importante na máfia. Odeio a idéia de ter uma novinha de dezoito anos submissa nas minhas mãos, o que eu quero mesmo, é uma mulher madura e desafiadora, e essa "viúva negra", me parece perfeita.

Um silêncio constrangedor fica na sala, até que meu pai declara:

— Está decidido! Vou permitir que Vincenzo conduza seu plano— ele me encara com seriedade— Mas tem que me garantir, o respeito da sua futura esposa, as regras da máfia. Não vou tolerar qualquer quebra de regras, e muito menos traição. Se ela nos trair, perderá sua chance de ser meu sucessor. Seu tio vai te acompanhar, e pode usar todos os recursos que precisar.— advertiu meu pai.

Apesar de insatisfeito, meu tio sorriu astuto. Sou desconfiado, para mim, ele ainda vai atrapalhar o meu caminho.

— Se não se importar, gostaria da permissão do senhor, para levar meu primo Matteo comigo.

— Permissão concedida.

Matteo Moretti, 31 anos.

Matteo não esconde a emoção dos olhos. Se não respeitasse as reuniões, certamente estaria pulando agora, conhecendo seu jeito faceiro e o gosto por viajar pelo mundo.

Tendo o Matteo comigo, ficarei mais tranquilo, ele é meu amigo fiel.

A reunião se encerra, fico a sós com o meu pai. Nos levantamos simultaneamente, meu pai se aproxima e me encarando com preocupação diz:

— Fico feliz de ter você cuidando dos negócios nos Estados Unidos, mas temo não conseguir lidar com a viúva.

— Não se preocupe pai, eu não vou decepciona-lo.

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