9 - O Casamento - Ep 8

Enquanto os homens estavam no escritório conversando, Karen levou a filha para a estufa, que era anexa a casa.

Karen tinha um hobbie, que era plantar bonsais. A estufa era uma lugar lindo, com vinhas subindo pelas paredes de vidro, mesas e prateleiras lotadas com vasos de bonsais de plantas frutíferas e de outras espécies.

Tinha uma mesa retangular central, onde as mulheres se sentaram  e começaram a podar as plantas, enquanto conversavam.

Minerva era uma boa companheira para a mãe, e por isso aprendeu com ela as técnicas de bonsai e às vezes praticava com mãe.

– Filha, ele foi carinhoso com você? – Karen pergunta do nada e deixa Minerva um pouco sem jeito. 

– Ele não me machucou… – ela diz sem saber como se portar, já que não aconteceu nada entre eles. Ela até teve medo de Giancarlo, mas além da primeira noite que parecia que ele iria tentar algo, ele nunca tentou novamente.

– Filha, pode ser sincera com a mãe. Olha, eu não vou ficar triste se seu casamento não der certo. Você pode se casar muitas vezes até encontrar o homem certo.

– Eu estou bem nesse casamento e também, daqui a poucos anos estarei formada. Eu quero fundar o meu hospital logo.

– Meu Deus, monstrinha! Você não precisa se sacrificar pelas pessoas. Olha, até lá o seu pai pode mudar de ideia e te dar a sua parte na herança, assim como pediu. Sem precisar estar casada.

– Mas eu estou bem, mãe… Posso te fazer uma pergunta?

– Pergunte de uma vez.

– O papai deu dinheiro ao Giancarlo para se casar comigo? 

– Pelo que eu saiba, não. Seu pai me disse que ele tem uma empresa de tecnologia que é muito lucrativa.

– A cobertura que moramos foi comprada pelo papai?

– Não, filha. Sabe aquela mansão dos Vieira? Aquela branca que tem uma pista de equitação? – Minerva acenou em positivo – O seu pai a comprou e deu para vocês de presente de casamento, mas Giancarlo recusou o presente.

– Recusou? – ela disse com um pouco de esperança no olhar.

– Sim, meu amor. – sua mãe acariciou seu rosto – Filha, você é linda, viu? Talvez esse rapaz consiga ver o que outras pessoas não conseguem ver.

– Você acha que ele gosta de mim?

– Acho que é possível. O seu pai me disse que ele não fez nenhuma objeção quando ele fez a proposta e aceitou de cara se casar com você. Não pediu nada em troca e aceitou todas as imposições. E mesmo depois do seu comportamento impróprio no casamento, ele não desistiu. Quem sabe ele não era um admirador secreto? Talvez ele já te amava antes e não tinha coragem de se aproximar. Ele é tímido?

– Ele é calado. – ela responde pensativa.

– Ser calado pode ser um traço de timidez. 

Nesse momento Giancarlo e Augusto aparecem da estufa, e Minerva olha para o marido e dá um leve sorriso involuntário. Giancarlo fica um pouco confuso, se perguntando o porquê da mudança de postura, já que ela tem sido um pouco indiferente com ele.

Finalmente o almoço é servido e Giancarlo mal consegue comer, observando o quanto Minerva comia. O tempo todo ele a via se servindo de mais e mais comida. Ele olhava para os pais dela que agiam normalmente, como se não estivessem presenciando aquela cena assustadora.

"Ela só pode ser magra de ruim." – ele pensou.

– Ei Gian? Você vai comer mais pudim?– ela perguntou na hora da sobremesa.

– Há… não. Eu estou satisfeito.

Ela sorriu e pegou a metade do pudim que sobrou na bandeja e colocou em seu prato.

– Você… você não é normal. – ele diz, pensando alto.

Karen ouvindo, começa a sorrir.

– Hahaha! Ela tem um metabolismo acelerado, Giancarlo. Tome cuidado, porque ela tem energia de sobra. – Augusto cutucou a esposa, sinalizando sobre não exagerar nas palavras.

Giancarlo olhou assustado para Minerva, que apenas respondeu dando de ombros.

Ao tardar, eles se despediram dos pais de Minerva e foram em direção ao centro da cidade, onde moravam.

Quando estavam passando novamente pela comunidade carente, próxima ao condomínio de luxo dos Bragança. Observaram que tinha uma quadra de futebol, bem precária com o chão de terra e algumas crianças estavam lá brincando de jogar futebol.

De repente uma das crianças chutou a bola que veio em direção ao carro.

– Pare! Pare o carro! – gritou Minerva.

O motorista de supetão, pisou no freio com tudo, achando que havia algo errado com a princesa.

Assim que o carro parou, Minerva levou a mão na porta para abrir.

– Minerva, não! – disse Giancarlo, tentando a impedir sem sucesso, pois em poucos segundos ela já estava fora do carro com a bola das crianças na mão.

Algumas crianças vieram correndo e se aproximaram de Minerva.

– Ei, tia! Eu te conheço? – disse um dos moleques, com cara de travesso.

– Acho que não… – disse Minerva confusa, pois já fazia um tempo que ela não vinha até a comunidade.

– Ela parece com a foto que a professora mostrou na escola. – apareceu outro moleque, sorrindo, travesso.

– Que foto? – Minerva pergunta inocentemente e as crianças começaram a sorrir.

– A professora mostrou pra gente, a foto de um tucano! – nesse momento as crianças começaram a gargalhar e apontar para Minerva.

– Seu nariz é muito grande, tia! Hahahaha

– É mesmo! Ela tem um narigão!

As crianças continuaram rindo e zombando e Giancarlo percebeu que as feições de Minerva estavam sem fechando.

Ele saiu do carro para tentar colocá-la de volta para dentro, porém assim que saiu ela colocou a bola no chão e chutou para longe. As crianças pararam de sorrir e ficaram olhando a bola no ar.

– Minerva, deixa essas crianças e vamos embora. – disse Giancarlo, impaciente.

– Segure isso aqui, Gian! – ela diz ignorando suas palavras e entregando a ele seus sapatos – Agora essas crianças vão ver quem é que é o tucano.

As crianças olharam a mulher raivosa vindo em sua direção e elas começaram a correr gritando e Minerva correu atrás deles.

Giancarlo ficou sem reação, vendo Minerva correr de um lado para o outro pegando uma criança e depois pulando para outra.

De primeira, ele achou que ela queria bater nas crianças, mas depois percebeu que aquilo era como uma brincadeira de pique-pega, ela estava sorrindo e as crianças também, se divertindo em fugir dela.

Ele ficou lá, encostado no carro, com os braços cruzados, observando a cena que era até divertida de ver. Lhe fazia lembrar da infância que teve na periferia, brincando de futebol e correndo descalço por aí.

Depois de uma hora brincando, Minerva veio suja e descabelada, correndo em direção a Giancarlo. Ela não se parecia nem um pouco com a garota rica, que era.

– Ei, Gian! Me dá vinte aí! – ela diz animada.

– Vinte? – pergunta confuso.

– Uma nota de vinte, Gian!

Ele abre a carteira e antes que confira, ela toma de sua mão a carteira e olha o conteúdo.

– Ah, só tem de cem. Mas não tem problema, depois eu te devolvo! – ela lhe entrega de volta a carteira e sai correndo com a nota de cem na mão e as crianças gritam comemorando.

Algum tempo depois, volta com dois potes de sorvete nas mãos. Ela parecia uma menina de rua, mas parecia a menina de rua mais feliz que ele já viu. E isso o fazia se sentir diferente quanto a ela.

– Tome Gian! Esse é seu! – ela lhe dá um dos potes de sorvete e ele fica sem reação – Anda Gian! Pega logo, senão eu vou tomar o seu sorvete também.

Pela primeira vez ele dá um sorriso para ela e aceita o pote de sorvete.

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