| Martirizar

Chego em casa e fico algum tempo olhando no espelho. A minha admiração é interrompida por gemidos.

— Cacete! Esse cara é uma máquina de fazer sexo. Vontade de ir lá e bater na porta dele e mandar ele tomar vergonha.

Mas tomada pela curiosidade de olhar... quem é a vítima da vez... Espio pela fresta na janela. Uma mulher com cabelos escuros e pele branca. Eles estão numa posição que nem sequer consigo descrever, e me pergunto se existe a mesmo no kama sutra.

O que você está fazendo Anne?

Reclamo comigo mesmo a notar que desejaria estar ali... Desejava muito.

Por fim envolvo os cabelos em uma touca de cetim. Voltando a realidade sigo para vou um banho, minha atual fonte de prazer, opto um banho de banheira. Fico la algum tempo e depois e depois de sair coloco uma blusinha e me deito.

A minha cabeça viaja até o meu início com o Robert.

Ele era o tipo de homem que toda mulher queria. Quando nos encontramos eu não senti nada por ele instantaneamente. Mas ele ficou tanto no meu pé que acabei me apaixonando por ele. Fizemos faculdade juntos. Ele estava la apenas porque os pais o obrigaram, pensando que ele se interessaria em gerir um dia as empresas da família. Sempre o ajudava nas aulas de cálculo.

Os primeiros anos de casamento foram incríveis... estávamos em sintonia com tudo. Parecia um verdadeiro conto de fadas.

Mas depois que meu pai faleceu, e eu me afundei na depressão, afastei todos de mim, meu pai era minha referência, por não ter tido uma mãe presente eu me apeguei a ele demais, e quando ele rle se foi eu perdi o rumo, não tinha animo para nada. E apesar dos pesares Robert estava comigo.

Uma raiva surge no meu interior. Ha quanto tempo ele deveria estar mantendo esses encontros extraconjugais? Enquanto eu alimentava a esperança de reconstruir a vida com ele, me esforçando para me aproximar dele, o que ele estava fazendo? Me apunhalando pelas costas. É assim que me sentia.

Quantas vezes eu provocava-o na cama... Comprava ‘lingeries’, me arrumava para ele, tentava me envolver em tudo que ele gostava. E cada vez mais ele me afastava.

Lidei com a dor da rejeição achando que era apenas uma crise... que ia passar, que a falta de desejo era temporária.

E agora alem de rejeitada eu também havia sido traída.

E ainda me chamou de frígida - não posso esquecer de pontuar isso. Aquele desgraçado.

Bato os punhos na cama e cerro os dentes.

— Você me paga Robert!

Acabo de pensar que aquele idiota esta na minha casa. enquanto eu estou aqui ouvindo gemidos alheios.

— Amanhã eu vou ligar para Rita. Quero saber se aquele idiota está levando alguém para casa.

Adormeço após tanto pensar em tudo que estava acontecendo.

Acordo no dia seguinte e ligo para Rita que me informa que o cafajeste sai de casa só volta tarde da noite.

Certamente aproveitando agora que não tem mais a frígida no pé dele. Saio para fazer caminhada e esfriar a cabeça. Me sento no banco e fico pensando que eu não ia deixar aquela palavra me ferir.

Eu estava concordando com o que ele disse. E aquilo não era verdade. Eu não vou me martirizar, me diminuir. Não tem justificativa o que ele fez. A falta de carater era dele. Não iria aceitar ele me culpar pelas suas traições.

Me levanto e volto para o apartamento. Quando estou entrando vejo a autora dos gemidos de ontem. Subo até o apartamento faço um café e começo a organizar a agenda da semana. Fico tanto tempo organizando tudo que não lembro nem de almoçar.

No fim da tarde decido ir ao shopping passo no mercado e compro algumas coisas que estava precisando.

Retorno para casa e abro uma garrafa de vinho me sento no sofá e assisto a um filme qualquer. Faço um macarrão com molho quatro queijos e me sento no sofá.

Lavo os pratos, organizo a cozinha e tomo um remédio para dormir e vou me deitar.

Sentia um vazio terrível, não era essa a vida que queria para mim. Não mesmo.

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