Capítulo 3 Acertando as dívidas

kally pediu para que estivesse sonhando, ou melhor, tendo um pesadelo, ao vê-lo ali, sentado, com aquele sorriso prepotente nos lábios, o qual ela teve vontade de arrancar a unha.

A moça teve certeza que bufou. Ele era um provocadorzinho de merda e se ela não estivesse em seu ambiente de trabalho, do qual ela muito necessitava, já teria derramado suco na cabeça dele.

Entretanto, ela só respirou fundo, abaixou os olhos para o pequeno caderninho que havia em suas mãos e pôs-se a falar.

— O que deseja? – perguntou. – Já sabe o que pedir?

Ele riu mais.

— Um cheeseburguer, fritas, molho extra e um suco de laranja. – a bebida ele pediu mais alto.

— Um momento.

Ela saiu dali antes que não pudesse se controlar e o matasse ali mesmo. Cadeia, àquela altura do campeonato em sua vida, não seria bem vinda.

kally não era o tipo de pessoa que odiava as pessoas instantaneamente, mas aquele garoto pediu. E ela sequer sabia seu nome.

Fez o pedido dele e foi atender outra mesa.

Aquele não era seu emprego dos sonhos, porém necessitava muito dele, então precisava ser simpática com as pessoas, mesmo que seu íntimo pedisse que cometesse um homicídio e não estivesse no clima. Era novata ali, e ficar desempregada agora não era uma opção.

— Ka, mesa cinco! – alguém gritou da cozinha e ela foi pegar a bandeja.

Era o pedido dele.

Num suspiro pegou a bandeja em mãos e saiu em direção a ele, que para sua sorte, falava ao telefone com alguém e nem sequer lhe olhou.

Ela agradeceu mentalmente e saiu rapidamente.

Um sorriso apareceu nos lábios de kally e antes que pudesse controlar, já estava andando em direção à moça do caixa.

Dante falava com seu irmão ao telefone quando o seu pedido chegou. Ele chutou-se mentalmente, queria irritá-la, soltar alguma piadinha com suco. Notou que, mesmo sem conhecê-la, gostava de vê-la irritada. Não sabia por que.

Comeu depois que desligou a chamada e pouco depois pediu a conta, estranhou ao ver um rapaz trazê-la.

— Mas e a menina? – ele questionou ao receber o papel.

— Ela está um pouco ocupada agora.

— Tudo bem. – ele suspirou.

Ele olhou rapidamente para a conta, a fim de ver o valor cobrado e estranhou ao ver que o suco não estava incluso ali.

Dante era um rapaz honesto e então dirigiu-se ao caixa.

— Senhor? – a moça ali lhe sorriu.

— Você esqueceu-se de cobrar o suco.

— Não senhor. O seu suco já foi pago.

— Mas eu… – ele começou e olhou para trás, vendo-a em outra mesa, colocando ali o pedido. – Ela não é?

— Exatamente.

Ele suspirou e pagou o valor estipulado.

Viu a Morena vindo em sua direção, quando estava para sair.

— Estamos quites agora? – ela perguntou atrevida. – Eu não gosto de ficar em divida com ninguém, ainda mais com alguém feito você.

— Alguém feito eu como? – ele agarrou o braço dela com força.

— Um mimado. – ela disse enquanto puxava o braço para livra-se das mãos dele. – Um playboyzinho que mais vale a merda de uma camisa de marca do que um pedido de desculpas. – ela o empurrou levemente. – Com licença.

kally agradeceu mentalmente por logo estar longe dele.

Era um idiota. Ela tinha medo que aquilo fosse contagioso. Foi em direção ao banheiro e trancou-se em uma das cabines. Logo um sorriso estava estampado no rosto dela.

Que bom que também podia chocá-lo.

Recuperou-se depois de alguns minutos e voltou ao trabalho.

Às oito da noite, quando kally chegou em casa, teve certeza de que poderiam jogá-la em algum caixão, que ela de certo não iria importar-se.

— Chegou tarde. – ouviu a voz da mãe, assim que jogou-se no sofá.

— Estou cansada. Duas horas em um engarrafamento, você acredita? – ela resmungou, fechando os olhos.

— Essa cidade está cada vez mais impossível.

— Também acho. – ela suspirou e abriu os olhos. – Onde está papai?

— No quarto. – Fernanda aproximou-se mais da filha e lhe alisou os cabelos. – Vá tomar um banho. Tem sopa quentinha.

— Ah mãe, você agora ler pensamentos? Nossa, que fome.

— Então vai logo moleca.

Kally riu, enquanto recolhia sua mochila e ia em direção ao corredor. Passou no quarto dos pais, antes de ir ao seu.

— Querido, cheguei! – ela brincou, enquanto via um sorriso nos lábios do pai.

— Já não era sem tempo, princesa. Você demorou.

— Engarrafamento. – deu de ombros. – Como você está.

Ela viu o pai fechar os olhos, para logo abri-los e pôde ver ali que o homem estava com dor.

— Indo.

— Foi para a quimio hoje?

— Sim, eu fui. – ele suspirou. – Me deixa mais cansado.

— Eu sei. – a Morena mordeu o lábio. – Mas ei, é para que você fique bem, sim? – alisou os cabelos dele, que estavam ralos.

— Eu sei. – Mike pegou a mão da filha e a beijou. – E você? Como foi lá?

— Tudo bem, a universidade é incrível!

— Eu imagino que sim. Mas… Vá cuidar de você agora, sei que está cansada.

— Venho te dar um beijo antes de dormir.

— Eu vou esperar. – ela sorriu e saiu do quarto.

Há seis meses, a vida da singela família havia mudado da água para o vinho. Mike descobrira um tumor no intestino e precisou operar, imediatamente. Agora sua vida era a quimio e radioterapia. Kally precisou arrumar o emprego na lanchonete, que estava certa de duas semanas, para ajudar nas despesas da casa, já que o seguro desemprego do pai, havia acabado.

Estava complicado, mas era para que ele ficasse bem. Todo dia era uma batalha com leões, a qual ela agradecia por sair vencedora na maioria das vezes. E ela enfrentaria o mundo pelo homem que sempre a cuidou e a amou, até mesmo aqueles riquinhos mimados com quem agora precisava lidar.

Mike Pai de Kally.

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