Nessa noite, quando as sufocados toses de Arden criaram um ritma respiração de sono, tomou a lanterna e corri para os túneis. No acampamento reinava a tranquilidade e o corredor sinuoso estava vazio. Depois de alguns dias vivendo ali, entedia a distribuição subterrânea básica: os cinco caminhos que deixavam a sala principal criavam uma formação de estrela com a montanha. Virme-ei e caminhei pelo segundo túnel, contando as portas pela escuridão.
Não deixava de pensar no irmão de Benny, Paul, que havida feito caligrafia em minha mesa de canto e havia dormido na mesma cama que eu, contemplo as fendas do teto de barro. Talvez houvesse pressentido o dia de sua morte se aproximando como uma tempestade, ou talvez houvesse colocado o arco e as flechas no ombro, como todas as manhãs, e havia saído para cassar. Certamente, havia saído antes de Benny acordar, sem saber que era a ultima vez que o veria: o tumulo de folhas que havia arrastado, afundando nas águas brancas e a água havia entrado nos seus pulmões.
Os roncos ressoavam meu passo na penumbra, enquanto o percorria, apalpando pedras na parede para me guiar. Enquanto me rodava muitas perguntas: o que acontecia no acampamento além do trabalho de transportar tijolos e pedras? Como havia ido parar no acampamento garotos tão pequenos como Benny e Silas? Não era o suficiente para detalhes soltos. Desejava o mesmo desejo que tantas vezes havia sentido no colégio e que a diretora denominada de ―sede de conhecimento‖.
Dobrei uma esquina a altura da sexta porta, e me deparei com ele: ali estava com a camisa enrugada e com as calças rasgadas. Suas pernas descansavam sobre o braço de uma cadeira estofada, e a cabeça sobre os braços.
-Caleb, dorme?- Perguntei.
Despertou-se, assustado, fazendo uma rápida olhada como se quisesse recordar onde estava. Esfregou os olhos, puxou o cabelo de seu rosto e sorriu,
-Bem vinda minha humilde vizinha. – Apontou um colchão no chão coberto de cobertas cujas costuras estavam desgastadas. Sobre a mesa estava um radio de metal com fones de ouvido, como os que eram vistos no colégio. Olhei os mapas pendurados na parede tinha as pontas dobradas por causa da humildade.
-O que faz com todos esses livros?- Quis saber e me aproximei do volume que estava no chão. Deslizei os dedos sobre os lombos e reconheci vários títulos que havia visto no colégio: O coração das Trevas, O Grande Gatsby.
Caleb se aproximou de mim e seu ombro quente roçou no meu.
-Às vezes acho coisas raras. – Confessou esboçando um sorriso zambeiro- Abri um livro e olho as pagina. Isso se chama ler.
-Eu sei o que é ler!- Exclamei rindo. Corei começando pelo pescoço até o meu rosto e eu o cobri. Passei as mãos pelo cabelo. Não havia visto um espelho desde que havia deixado o colégio. -Mas como? Benny disse que aqui ninguém sabia ler.
-Conheces Benny?- Procurei o rosto, parando nos lábios, nas sobrancelhas e nas bochechas.
-Sim, eu o conheci hoje. E Silas e a outros garotos. Silas era a garota que vi, estava contente e vestia um tutu.
-Eu o encontrei em umas das casas que roubamos um almoço- Declarou rindo- Leif e os garotos mais velhos sabiam quem era, mas como íamos explicar? Ele amava.
Sorri, notei os nervos a flor da pele. Levei O Coração Negro, contente que seu peso diminuísse o tremor de minhas mãos.
-Ele começou a ensinar a ler. Nunca haviam tentado aprender o alfabeto ou a escrever seus nomes?
-Me enviaram aos campos de trabalho aos sete anos, assim que tive tempo de aprender algo antes da epidemia. Minha mãe me ensinou o básico antes de morrer: as palavras e os sons mais breves. E depois de tudo isso, eu leio aqui de noite para... – Olhou para o teto. E havia crescido uma pitada de barba, formando um sombreado escuro no queixo e no pescoço. –Bem para evitar, suponho. Além disso, todos os dias e ao longo da jornada, os maiores tem que caçar pescar, vigiar o terreno que não havia soldados na proximidade. Necessitam mais de comida que de livros, por azar. - Suspirou e me olhou nos olhos.- Mas me alegro de que você os ensine.
Encarrou-me até que olhasse para o lado.
-Já leu tudo isso? –Observei Ana Karenina e Pé na Estrada, que sobressaia sobre um História da Artes para Tontos e O Grande Livro da Natação.
-Até a ultima palavra. Não são tão primitivo, certo?
Levava a desbotada e longa camisa cinza suja, que permetia ver alguma parte da pele queimada pelo sol.
-Eu não disso isso, ou disse?
-Não tem por que saber.
Aproximei de um outro monte de livros, e ele me seguiu, pisando nos meu calcanhares, como se fosse uma sombra em uma especie de baile.
-Eu estava errada.- Reconheci. Estava tão certa que distingui as manchas marrons de seus olhos nas iris verde claro.
Caleb desenhou um circulo ao meu redor, risonho, como se fosse uma criatura encantadora que havia encontrado no matagal.
-É serio?- Ironizou.
-Oh, este...- Levei Al Faro. Tinha as paginas dobradas nas pontas.- Charles Tansley! Que chato! Quem acredita que as mulheres não sabem pintar ou escrever? E o senhor Ramsay, que esquece sua esposa quando a pobre mulher, e no final se derrete por Lily!
-Suponho que sua educação era parcial, mas não imaginava a este ponto.
-A que se refere?
Caleb se aproximou ainda mais, e percebi que o odor de fumaça que sua pele tinha.
-O senhor Ramsay está muito triste, destroçado. Por isso leva a James ao farol, assombrava-se com a discussão que havia tido com sua mulher anos antes.- Fiz uma careta, tentando entender o que ele me explicava- O livro mostra que ocorre a falar da senhora Ramsay, o importante de ser uma mãe, e tudo se desfaz rapidamente sem ela. Todos que a queria.
Recordei-mei das aulas do colegio, onde a professora Agnes nos falava do desejo que os homens sentiam por mulhers mais jovas ou com incapacidade dele satisfazer as necessidades emocionais de seus semelhantes. Então tudo parecia muito claro.
-Essa é sua opniãoo. – Disse negando com a cabeça.
Mas Caleb não cedeu. O resplancer de uma lanterna iluminava parte do rosto, suavizando os traços.
-É o que ocorre nessa historia, Eve.- Deu uns golpes na capa dura.
Deixei o livro e me sentei na cadeira, sem me importar pela primera vez com o cheiro almiscarado que permanecia onipresente no acampamento.
-É que...- disse, cheia de vergonha. Recordei da noite da consulta a doutora, antes de deixar o colégio. A professora Florence havia me explicado que o rei poderia querer repovoar a terra de forma eficaz, sem as complicações das familias, do casamento, do amor. Segundo ela, as garotas haviam sido as primeiras com boa vontade. Tinha certa logica torturadora. Seguramente pensaram que, se termos os homens, nunca los veremiamos e jamais necessitariamos de amor nem ter familias proprias. E assim haveriamos de fazer melhor qualquer coisa que nos pedissem.- Ensinaram me dessa forma.
Desviei o olhar para que ele não visse meus olhos, alagados por causa da emoção. Havia estudamo muito no colegio, tomando notas detalhadas de cada lição, escrevendo nas margens do caderno ate que meus dedos ficassem dormentes. E pra que? Para encher minha cabeça com mentiras?
-Parece-me que você não sabe as coisas que deveria saber, e que, pelo contrario todo o que sabe é totalmente falso.- Clavei as unhas na mão,frutada, e a furia transbordou. Me dirigi para a porta, mas Caleb me segurou pela mão e me obrigou a retroceder.
-Espera.- Entrelaçou seus dedos com os meus um instante antes de me soltar- A que se refere?
-Doze anos em um colégio e... Ninguém sabia nadar- Comentei,recordando do panico que havia sentido na noite do rio. Não sei caçar nem pescar, ne sabia em que mundo vivia. Era alguém totalmente inútil.
-Eve- disse tomando o exemplar de Al Faro do chão.- Pegue o livro. Podes voltar a lêe-lo... sozinha.
Permanecemos um instante pisando na lama do corredor, a cabeça de Caleb batia no teto. Acariciei a capa dura do livro, pensando no que ele havia me dito.
Talvez ali, no refugio, longe das professoras e das aulas, o livro fosse diferente. Talvez eu tambem fosse ddiferente. Escutei nossa respiração sincronizada.
-Issõ não soluciona meu problema em nadar.- Respondi sem abrir um sorriso.
-Esso é o mais fácil.- Apoiou a mão na parede, a alguns centimetros de minha cabeça. Uma sombra de barba mal feita cobria o queixo e brilhava na luz interna- Posso te ensinar a nadar um dia.
-Em um dia?- Estremi-me e perguntei se ele ouviria meu coração.- Não creio.
-Pode acreditar.- Entramos em uma luta para ver quem desviava o olhar antes.
―Um-contei mentalmente- dois,três...‖
Acabei por ceder, me deslize por baixo de seu braço e me dirigi ao tunel.
-Certo, aceito isso- aceitei e andei para minha habitação. Quando olhei devolta seus olhos estavam cravado em mim.- Boa noite- sussurei sentido o calor de seu olhar caminhando pelo meu corpo e o frio passando enquanto voltava para minha cama.
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