-Não será mais preciso assassino asqueroso- gritou outra voz. Entrei mais fundo na casa, pegando em uma parede áspera e instável. O ambiente era sufocante e denso: cheirava a mofo e algo mais penetrante, alguma substancia química. Cobri o rosto com a camisa para que os homens não me ouvissem respirar.
Estavam muito pertos. Ouvi seus passos quebrando galhos caídos e produzindo cliques inquietantes. Alguém parou diante da casa, e ouvi o som de alguém tossindo.
-O que está fazendo?- perguntou um deles. A voz soava distante, mas acima, talvez na estrada.
O que tossiu estava mais próximo, e o terror se apoderou de mim. Agarrei a parede e fechei os olhos, tentando me tranquilizar. ―Vá, por favor, vá‖ pensei.
-A fechadura esta solta! Vamos fazer uma busca.
Retrocedi quanto pude, desejando que as paredes frias cedessem, o que poderia me permitir desaparecer por sua superfície cheia de buracos. Eles haviam nos dado muitas aulas sobre o que nos esperava além dos muros: a professora Helena nos mostrou fotografias de uma mulher que um cão raivoso havia arrancado metade de seu rosto. Mas não nos havíamos sugerido apenas uma coisa caso estivéssemos fora. Não nos ensinaram técnicas de sobrevivência. Eu não sabia fazer fogo, nem caçar, nem era capaz de enfrentar aqueles homens. ―Voltem- a professora havia nos dito- Faça o que for preciso para voltar ao colégio.”
A porta se abriu em um golpe. Supus que o homem entraria e me tiraria de lá a força, gritando. Mas quando a luz iluminou a casa, deixaram de se importar com o grupo que estava na estrada, às imagens das aulas ou a intenção dos homens que estavam a virar a esquina, apenas a seis metros de mim, desde que revelou que havia paredes de pedra bruta, sendo formadas por centenas de crânios, cuja os olhos negros e vazios me encaravam. Tapei a boca para abafar um grito.
-Não é nada mais que um depósito de cadáveres- grito o homem, fechando a porta ao sair e me deixando na escuridão com os esqueletos. Eu fiquei lá por horas, tremendo, até que tivesse a certeza que todos foram embora.
No oitavo dia as minhas pernas doíam e minha garganta estava seca. Caminhava lentamente entre a extensa mata que acompanhava a estrada, afastando a folhagem de uma árvore com um galho usando-o como bastão. Tratei de me convencer que chegaria a Califia, dizendo a mim mesma que logo estaria a salvo, e que enquanto permanece nos arbustos, onde nada podia me ver, estaria a salvo. Mas havia dias que minha garrafa de água havia acabado, fadiga me vencia.
Andei indo para oeste, como a professora Florence havia me dito em direção ao sol poente. Mas pela noite, quando a temperatura abaixava dormia em armários de casas abandonadas ou em garagens, junto a armações de caros velhos. Encontrava-se um lugar seguro, ficava ali por um tempo comendo as maçãs que a professora havia me dado e pensando no colégio. Não poderia passar a noite sem pensar, o que poderia acontecido se isso tivesse sido diferente, e se poderia ter salvado a Pip também. Talvez tivesse que ter decidido arriscar. Talvez tivesse sido melhor desperta-la. Ao menos deveria ter tentado. Meu coração encolheu ao imaginar ela amarrada a uma cama, sozinha e assustada, perguntando-se por que eu a havia abandonado.
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