A garota moveu a cabeça de um lado para o outro quando a doutora se aproximou e lhe pôs a sobre a testa. Como continuava gritando, diversas pacientes adormecidas acordaram e tentaram soltar-se das correias que as prendiam, chorando e formando um patético choro quase inaudível. Imediatamente, em um rápido movimento, a doutora cravo uma agulha no braço da jovem, que ficou horrivelmente quieta; Rapidamente mostrou a agulha para as demais- uma ameaça -, e os gritos cessaram.
Minhas mãos escorregaram do peitoril da janela e cai para traz, arrastando o balde comigo. Rolei no chão, sentindo minhas entranhas arder. Agora tudo fazia sentido: as injeções que nos aplicava a doutora Hertz e que nos provocavam náuseas, irritabilidade e dor; as palmadinhas da professora, acariciando meu cabelo, enquanto eu tomava as vitaminas; o olhar vazio da professora Agnes quando começa a falar de meu futuro como pintora.
Não havia profissão, nem cidade, em apartamento com cama de casal e uma janela para a rua; não comeríamos em restaurantes cobertos de prata e toalhas impecáveis. Unicamente nos esperava este quarto, o cheiro podre dos berços usados, a pele esticada até se romper; só haveria criaturas arrancadas de meu ventre, roubadas de meus braços e levadas para algum lugar fora daqueles muros. Choraria, sangraria, estaria só e depois mergulharia no torpor provocado pelas drogas.
Me levantei fazendo um esforço e me dirigi ao lago. A noite era mais escura, o ar mais frio e o lago maior e mais profundo que antes. No entanto, não desviei o olhar. Devia me afastar daquele lugar, daquele quarto, daquelas meninas de olhar morto.
Tinha que fugir.
Quando regressei ao colégio, estava ensopada e com as mãos sangrando, pois havia me cortado e estava enrolando o machucado enquanto atravessava o lago novamente. Preocupava-me tanto em diminuir a distancia entre o edifício e eu que não me preocupava com os espinhos que arranhavam minha pele, estava insensível a dor, sem perder de vista a janela de meu dormitório.
Ao dirigir ao deposito da parte de trás de minha casa, sai da água; a camisola estava ensopada. Aonde havia algumas tochas acessas, no jardim reinava a escuridão e eu ouvi as corujas, como lideres de torcidas animadas, o que me fez me apressar a sair das arvores. Nunca havia quebrado uma norma até esta noite, ocupada com meu site antes de começar a aula e tinha os livros também, estudava por horas a mais de noite, e inclusive trocava a comida com muito cuidado, como haviam nos ensinado, pressionando as costas da faca com ao meu dedo indicador. Porem naquele momento eu só me importava com uma regra, ―Não ultrapassar o muro jamais‖ havia advertido a professora Agnes no seminário sobre ―Perigos de meninos e homens‖ para explicar a violação, ela nos fitou com aqueles olhos vermelhos e fortes, até repetirmos ―Não ultrapassar o muro jamais‖.
Mas um bando de homens ou uma manada de lobos famintos que haviam atravessado o muro seria pior que o destino que me esperava. No exterior havia uma esperança, por mais perigoso e terrível que fosse ao todo, ao menos poderia decidir o que iria comer ou aonde ir, e o sol aqueceria minha pele.
Talvez tivesse a possibilidade de esgueirar-me pelo portão, como Arden havia feito. Esperaria pelo dia que chegaria a ultima remessa de comida para a festa. Escapar por uma janela seria mais difícil, a da biblioteca estava junto ao muro, mas se encontrava a quinze metros do solo, e necessitaria de uma corda, um plano, algum modo para descer...
Uma vez dentro do colégio corri para a escada indo pelas sombras, procurando não fazer nenhum ruído. Parecia-me impossível salvar todas as minhas companheiras, mas tinha que ir ao meu dormitório e acordar a Pip, talvez Ruby também pudesse nos acompanhar. Não havia muito tempo para explicações, mas conseguiríamos uma bolsa e colocaríamos roupas, figos e os caramelos que ficavam em uma embalagem dourada que Pip gostava tanto.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Comments
Edinalva Batista
que horror coitadas
2024-09-04
0