Estou na feira hoje, Ita veio comigo porque Caio está muito triste e não quer sair de casa. A vila está cheia de turistas, e as pousadas lotadas, Já vendi todos os queijos, falo para Ita ir buscar mais algumas peças que foram encomendas. Fico sozinha por um tempo e começo a me embolar no atendimento. Sinto que tem alguém atrás de mim colocando o avental. Olho e fico incrédula, o que ele pensa que está fazendo? Fecho minha cara para ele que faz de conta que não se importa. Heitor começa a vender os vinhos, ele realmente entende de vinhos. Quando a banca esvazia o questiono:
_ O que você pensa que está fazendo?
_ Você só sabe perguntar isso?
_ Eu não sei o que você quer de mim e da minha família, mais uma coisa eu tenho certeza, fica longe de mim.
_ Você é uma má agradecida! Estou te ajudando e você fica me pisando.
_ Pisar eu piso uvas, você eu atropelo.
Ele retira o avental e joga na banca. Me dou por vitoriosa, não quero esse mimado me rodeando.
Nossa produção vai ter que aumentar, os produtos na feira estão saindo com facilidade. Tudo tem sido vendido e até falta mercadoria. Vou conversar com pessoal lá de casa para ver em que podemos melhorar.
Estou entretida arrumando os queijos que chegaram e um rapaz muito bonito me aborda perguntando a respeito da qualidade do queijo, começo falando todo processo de produção, ele fica muito entusiasmado.
_ Posso conhecer de perto o processo? Tenho muito interesse em fecharmos uma parceria.
_ Claro! Será um prazer.
Amanhã, pode ser no horário que for melhor pra você.
_ Me passa seu telefone, te ligo pela manhã, é que tenho uma visita marcada a uma outra fazenda e quando sair de lá eu vou te encontrar.
_ Vou te esperar!
Falo pegando em sua mão selando o compromisso. Olho para frente e Heitor me encara com uma carranca que não me mete medo, finjo não ser comigo.
Ele passa o resto da noite me encarando, isso já está me incomodando. Fecho a banca e guardo tudo na picape, Ita como sempre vai ficar mais um pouco.
Estou entrando no carro sinto uma mão forte segurando meu braço.
_ O que te faz pensar que você pode segurar meu braço?
_ Eu não posso, mas aquele cara na banca pode segurar sua mão e ganhar até um sorriso.
_ Eu não te devo satisfação do que eu faço da minha vida, se eu quiser dar meu corpo para quem quer que seja, não é da sua conta!
_ Você não se atreva a me desafiar! Você não me conhece.
_ Eu não te conheço e não tenho interesse de conhecer. Agora solta meu braço!
Ele me olha dentro dos meus olhos e sua respiração está muito próxima ao meu rosto. Não me deixo intimidar, o encaro mostrando toda minha indiferença e repulsa ao seu toque. Ele vai afrouxando devagar e nossa respiração vai ficando pesada, sinto um frio percorrer minha espinha. Nossos rostos estão mais perto, passo a língua em meus lábios e ele olha para minha boca, sinto medo dele me beijar novamente. O empurro com as duas mãos em seu peito.
_ Não se atreva colocar suas mãos em mim novamente, ou não respondo por mim. E todo ódio que sinto por você vai virar uma tragédia.
Entro no carro e saio, mais uma vez não estou entendendo que jogo psicológico ele está fazendo comigo. Está armando alguma coisa, tenho que ficar esperta, essa gente é ordinária.
Fico na cama até mais tarde um pouco, só tenho hoje pra descansar.
Meu telefone toca e é o rapaz que quer conhecer o processo de fabricação do queijo, confirmo esperar para a visita.
_ Boa tarde!
Meu nome é Célio, sou exportador de queijos e vinhos.
Ele se apresenta e todos nós ficamos empolgados com a visita e a possibilidade de um grande negócio .
Mostro a ele nossa produção de queijos e depois a de vinhos.
Ele fica muito empolgado com nossa história familiar e como continuamos a tradição centenária.
_ Vejo um futuro promissor entre nós.
Ele fala e aperta minhas mãos selando compromisso de compra dos nossos produtos. Me sinto radiante. Despeço-me dele e entro dentro de casa com um sorriso de canto a canto, que logo é desfeito pelas visitas na sala de estar.
Prendo meu fôlego para entender o que está acontecendo.
_ Vejo que está muito feliz senhorita?
Heitor fala com sarcasmo, onde meu sangue ferve.
_ Estou! Tenho muitos motivos para isso.
Saio e o deixo com cara de tacho.
Minha mãe me segue até a cozinha e conto as novidades, ela bate palmas de alegria. Nos abraçamos para comemorar.
_ Serena! Seu pai está te chamando.
Heitor vem me chamar, o que acho muito estranho. Eu e minha mãe vamos até a sala, um clima estranho paira no ar.
Olho para o meu pai que está com os olhos transbordando. Não entendo o que está acontecendo!
_ Serena! Eu tenho uma dívida com o senhor Otávio, e toda nossa safra será para o pagamento dessa dívida, durante dois anos. Infelizmente você não vai poder fechar nenhum acordo comercial com outra pessoa, só vamos tirar as despesas. O senhor Heitor será o administrador da fazenda até o término da dívida. E se houver alguma quebra do acordo nós perderemos as terras.
_ Não posso acreditar! E a produção dos queijos?
_ Também!
_ Como o senhor deixou isso acontecer?
_Porquê?
Meus irmãos estão em choque, eu estou sem chão, e minha mãe não consegue ficar de pé.
Olho para Heitor e sinto asco, tenho vontade de socar a cara dele.
Não espero meu pai explicar e saio da sala correndo.
Heitor vem atrás de mim e me alcança.
_ Para de correr! Vai abaixar essa crista e deixar de ser petulante. Eu te avisei que não se bate na cara de um homem.
_ Você pode ficar com tudo isso aqui, por mim você pode ser dono de todo solo do mundo, mas eu não me curvo a você, e não trabalho pra você.
_ Você prefere ver sua família perder as terras?
Engulo em seco, respiro fundo.
_ Faço por eles, mas dorme com os olhos abertos, dois anos passam rápido e logo acaba. Quem sabe nesse meio tempo eu não me case e vou embora desse lugar.
Ele me olha com ódio, e nossa guerra só está começando.
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Atualizado até capítulo 96
Comments
Sonia
Que pai esconde uma dívida dessa? Eu iria embora com minha mãe, na marra.
2024-08-23
2
Alessandra Garcia não vi essa cena.
gostei da resposta kkkkk. ela é boa nisso
2024-07-19
2
Rose Abelha
ameiiii 🫣
2024-07-17
1