A senhora Luna fez questão de me levar até uma pensão e me deixar ali com tudo pago até o almoço do dia seguinte, me deixou com seu número e foi embora.
Eu estava feliz, sem absolutamente nada além da minha liberdade que acrescenta uma felicidade imensa. Tomei um banho, me arrumei e deitei na cama confortável que tinha naquele pequeno quarto. Fiquei pensando no meu pai, com aqueles homens agora sem mim para dar um pouco de limite e sem ajuda para tentar minimizar suas dividas. O que eles poderiam fazer com ele após minha fuga?
Adormeci em meio aos e pensamentos e quando acordei já eram 10:30 da manhã. Dei um pulo e fiquei olhando pro relógio por uns 10 segundos até tomar coragem e tomar um novo banho. Eu não conseguia pensar em alguma solução, então após me acalmar um pouco lembrei que eu poderia recorrer a Malu que era minha única amiga em todo esse tempo. Após terminar o ensino médio há poucos meses permanecemos o contato mas cada vez mais raro pois lá no cassino era tudo muito difícil, eu precisava trabalhar o dobro para tentar ficar com um pouco de dinheiro para juntar para uma fuga que estava tentando calcular e isso me fez lembrar que deixei todo meu sacrifício naquele fundo falso. Sai do quarto e fui até a moça da recepção.
Alice: Bom dia.
Moça: Bom dia. - disse com um sorriso largo.- O café está servido, pode ir. - apontando para o refeitório minúsculo.
Alice: Obrigada. - tentei da um sorriso ainda pensando no que eu faria a partir de agora.- Poderia me emprestar o telefone?
Moça: Claro.
Ela me entregou o telefone fixo do local no balcão e eu me lembrei que não tenho dinheiro algum.
Alice: Isso seria cobrado?
Moça: De forma alguma. Fique a vontade. - disse sorridente e se virando para atender um cliente.
Tentei ligar para o número da casa da Malu e para minha sorte a chamada foi atendida.
Alice: Alô?! É da casa da Malu?
Voz feminina: É sim, quem deseja?
Alice: Alice, meu nome é Alice Bettencourt.
Malu: Alice? Não acredito. -Disse ela animada.- Quanto tempo. Onde está? Aconteceu alguma coisa? Que número é esse? - Falou preocupada.
Alice: Preciso de você. Estou numa pensão - informei a ela o nome da pensão.- Você conseguiria achar e me encontrar? É urgente mas também é algo alegre.
Malu: Com certeza, devo chegar em 1 hora. Beijos.
Alice: Obrigada, beijos.
Desliguei a ligação e agradeci a moça da recepção indo até o refeitório e comendo um pouco de tudo que tinha disponível. Estava aliviada de não ter acordado com aqueles caras batendo na porta me mandando limpar os quartos do segundo andar, sem assédio nenhum e com uma comida boa. Comi devagar para ver se o tempo passava mais rápido pra encontrar logo a Malu.
Depois de comer fui para o meu quarto e aproveitei pra ver um pouco de tv até a Malu chegar. Assim que ela chegou a recepcionista telefonou e eu desci correndo.
Malu: Alice! - Disse me abraçando forte. - Que felicidade ter novamente.
Alice: Eu digo o mesmo. Mas eu preciso te dar um pouco de trabalho.
Malu: Diga, como veio parar tão longe de "casa". - Falou fazendo aspas ao mencionar o nome casa.
Alice: Você tinha razão. Meu pai não se importa comigo, ele teve a coragem de me vender e assinou um papel com o Oliver dando plenos poderes sobre mim. Me vendeu. Me trocou.- disse já com lágrimas escorrendo em meu rosto enquanto falava.- Ele não pensou em mim. Ele sabia que eles queriam fazer coisas nojentas comigo e me entregou de bandeja.
Malu: Não fique assim. - Ela me abraçou e continuou.- Sei que não é fácil mas agora as coisas vão melhorar porque você fugiu, não é?
Concordei balançando a cabeça sem sair daquele abraço que tanto precisava e sem parar de chorar baixo.
Malu: E suas coisas? Não conseguiu trazer?
Alice: Não.
Malu: Tudo bem, vamos arranjar uma solução e você fica lá em casa até se organizar.- Ela se afastou e enxugou minhas lágrimas.- Eu estou aqui, minha pequena.
Alice: Obrigada, amiga!
Eu a abracei novamente e saímos de lá. Ela me levou para andar um pouco, entramos em algumas lojas e, apesar de insistir para que ela não fizesse nada, acabou comprando algumas roupas pra mim. Ela era meu anjo da guarda com certeza. Sempre me ajudou quando eles me batiam e me trancavam no quarto. Mas eu estava literalmente começando do zero então não tinha muitas opções.
Malu: hoje é domingo, vamos aproveitar pra relaxar. Amanhã você vai comigo na universidade e tentarei falar com o diretor para fazer uma entrevista com você e conseguir um emprego, o que acha?
Alice: Você realmente é meu anjo da guarda.
No caminho até a casa dela fui contando como tudo aconteceu e ela ficava tão animada como quando assistia aqueles filmes de ação e terror.
Ela não era rica mas tinha uma boa condição financeira, trabalhava, estudava e morava sozinha então não me incomodei tanto em aceitar passar uns dias lá. O dia passou rápido e no dia seguinte fui com ela até a universidade. Estávamos animadas pois como ela havia se mudado para outra cidade e ninguém do cassino conhecia ela me senti segura. Chegamos a sala do diretor que aceitou me receber. Eu estava tão nervosa que ele deve ter notado o quanto tremia. Após uma série de perguntas, assuntos que não dei tanta profundidade para não assusta-lo, ele aceitou fazer um treinamento comigo e foi me mostrar a biblioteca onde eu ficaria responsável por administrar o básico e fazer uma pequena limpeza. Ele ficou de pensar sobre uma possível bolsa de estudo para que eu não parasse de estudar e animada com tudo isso fui até a Malu.
Malu: E aí? Conseguiu?
Alice: Siiim. Começo amanhã num tipo de teste e se der certo ele irá me contratar em um mês. Obrigada. - disse animada abraçando-a e logo após perceber que ela estava acompanhada de mais duas pessoas a soltei delicadamente.
Malu: Alice, essa é a Isabelly e esse é o Sam.
Alice: Olá.
Isabelly: Tudo bem? - disse sorridente.
Sam: Prazer conhece-la, senhorita Alice.- Disse dando um sorriso e acenanado.
Malu: Ela vai trabalhar aqui. Pertinho da gente. Como ela não conhece nada e nem tem contato com mais ninguém espero que vocês a ajude tanto quanto eu. Ela merece ser feliz finalmente.
Ela me deu um beijo na bochecha e me abraçou.
Alice: O que seria de mim sem você?! -falei dando uma risada curta e mantendo um sorriso.
Malu: Não quero nem pensar. - disse ela fazendo todos rirem. - Vamos almoçar?
Sam: Acertou no meu ponto fraco.
Isabelly: Eu escolho o restaurante. Você é péssimo com isso. - falou me olhando gentilmente.- com o tempo você se acostuma. O Sam é meu irmão mas não parece ter o mesmo bom gosto.
Sam: Eu tô ouvindo, irmãzinha. -falou debochando.- Eu sei escolher muito bem. Que tal, comida chinesa?
Alice: Eu gosto.
Sam: Há! Acertei de primeira. Tá vendo aí? - Ele veio até o meu lado e sorriu.- Não liga pra ela eu sei escolher bem as coisas.
Sorri para ele e seguimos até um restaurante próximo. Comemos e conversamos bastante. Eles eram super engraçados, brigavam, debochavam e riam um do outro. Ela parecia um tanto patricinha e o Sam um jogador de tênis galanteador mas nada tão chato e convencido ao ponto de ser entediante. Fomos até o centro e passeamos um pouco, era tudo tão lindo fora daquela prisão. A Malu me disse que tinha um celular meio velho e que não estava sendo utilizado então o Sam me presenteou com um chip para me dar as boas-vindas. Aproveitei que o chip veio com um pouco de crédito e quando chegamos na casa da Malu aproveitei pra colocar o chip em seu aparelho velho e ligar para Luna.
Luna: Alô?!
Alice: Ola, sou eu, Alice. Lembra de mim?
Luna: E como poderia esquecer? Como você está?
Alice: Graças a senhora, eu consegui dormir bem aquela noite e no dia seguinte consegui contato com uma amiga de colégio que me acolheu em sua casa e está né ajudando. não quero tomar seu tempo mas queria agradecer mais uma vez pelo que fez por mim.
Luna: Fico feliz com essa notícia. Esse é o seu número?
Alice: Sim.
Luna: Você não incomoda de forma alguma. Poderíamos nos encontrar novamente e continuar a nossa conversa.
Alice: Claro.
Luna: Ótimo, onde sua amiga mora?
Alice: Um pouco longe daquela pensão. - informei a ela mais ou menos a localização.- é tudo que lembro. Ainda estou me familiarizando com tudo isso.
Luna: Não se preocupe, sei onde fica e até mais próximo de mim. - uma voz masculina a chamou.- Preciso ir agora. Mas irei te ligar para marcarmos um encontro.
Alice: Tudo bem, muito obrigada mais uma vez.
Desligamos e fui para o banheiro tomar um banho. A Malu tinha ido trabalhar no fim da tarde então fiquei na sala assistindo tv.
~ Alguns dias depois ~
O emprego estava dando certo e finalmente tudo estava caminhando, fiz o teste para a bolsa de estudos na qual fui aprovada no curso de Economia. Nenhum sinal de que estavam me procurando mas achava estranho. Será que eles tinham apenas desistido? O que será que aconteceu com meu pai? A Malu diz que sou doida por ainda me importar com ele mas ele seria a única família que tenho ou tinha. Eu estava indo encontrar a senhora Luna finalmente.
Luna: Oi, minha querida.- disse me abraçando.
Alice: Boa noite, senhora Luna.
Luna: Não fale assim. Pode me chamar de Luna. Não acho que sou tão velha assim, sou?
Alice: Não. - disse um pouco envergonhada. - Desculpe, Luna. Irei te chamar como prefere.
Luna: Obrigada.
Alice: A senhora está bem? - olhando pra que estava parecendo um pouco branca demais.
Luna: Sim, estou. - Disse tentando disfarçar. - Acho que só preciso descansar.
Alice: Podemos remarcar esse jantar.
Luna: Não. Eu quero jantar com você. É só um mal estar.
Estávamos seguindo para entrar num shopping quando de repente ela foi caindo ao meu lado. Eu consegui segurar um pouco e ir abaixando ela no chão junto comigo. Comecei a gritar desesperada, eu não tava conseguindo entender. Ela estava bem, falando comigo e do nada começou a ficar pálida e atordoada. As pessoas começaram a ligar para a ambulância e em poucos minutos conseguimos chegar no hospital.
Eu não conseguia pensar direito, estava tudo tão bem, as coisas estavam começando a dar certo e tentei me manter positiva. Eu sabia apenas o nome e sobrenome dela então foi o que pude dar na recepção. Em sua bolsa encontraram documentos e enquanto o hospital entrava em contato com a família eu fui até o quarto em que colocaram ela após receber a medicação.
Luna: A-Alice?!
Alice: Estou aqui, Luna. O que está sentindo? -disse segurando a mão dela ainda sem saber se tinha intimidade suficiente pra isso ou estava passando dos limites
Luna: Se acalme. Deve ter sido a pressão. Apenas fique comigo.
Após falar sua última palavra ela dormiu profundamente e fiquei ali sentada numa cadeira aí lado da cama em que ela estava.
Eu estava nervosa e com muito medo do que estaria acontecendo com ela. Ela me salvou e eu ainda não tive tempo de retribuir. .
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 90
Comments
rita freitas
com medo também
2025-01-08
0
Cleise Moura
Ansiosa pra saber quem é essa Luna e se ela vai ajudar mesmo a Alice ou será mais uma silada na vida dela
2022-12-17
10
Rosiglei Muniz
Será que ela tem idade de ser mãe da Alice?
2022-11-27
2