Capítulo 8

E o tempo passa...

Dois anos se passaram, Alice conta com seus dezoito anos, Mônica se transformou no seu "anjo da guarda", como fazia faxina na casa da diretora da escola e eram amigas conseguiu com um jeitinho conseguindo matricular a menina na escola, onde concluiu o segundo grau, nas horas vagas elas faziam tiaras, arquinhos para venderem aos domingos em uma feirinha próximo da casa delas! Eram muito unidas!

"Mônica, estou procurando trabalho, enviei meu currículo para algumas vagas! Passei no supermercado e deixei também um currículo lá!"

"Alice, não quero que trabalhe ainda, e seu sonho de entrar na faculdade? Se começar a trabalhar em horário fixo, não vai ter tempo de se preparar para o vestibular! E sério, quero muito ver minha pupila se formar! Até agora temos dado conta!"

"Mas não é justo! Só você trabalha e muito! Agora não estudo mais tenho tempo livre, e posso estudar a noite! Olha talvez dê até para fazer um cursinho!"

"Ah, mas penso que seria melhor ficar com mais tempo para estudar, se começar a trabalhar em empresa corre o risco de ficar parada no tempo !"

"Já estou há muito tempo nas suas costas! Isso não está certo, pode ficar tranquila, vou estudar, quero fazer direito, e vou ser delegada da Polícia cívil, você sabe o que me motiva! Nem que passe a noite toda estudando vou fazer faculdade, e vamos ter uma vida melhor!"

"Ah meu doce, tenho certeza que vai conseguir Tudo isso que planeja!"

"Mônica, é a pessoa mais importante que tenho hoje, foi Deus que lhe colocou no meu caminho para ajudar-me, pode ter certeza cada conquista minha só será possível porque me estendeu a mão!

"Não, não sabe como minha vida era sem graça, passava os fins de semana sozinha, e o Natal então, não tem idéia do quanto a solidão dói! Você trouxe luz para a minha vida! Foi Deus que lhe pôs no meu caminho, foi você que me salvou, tenho motivo para acordar de manhã e seguir a minha vida! Se soubesse o quanto sou mais feliz depois que está aqui!"

As duas se abraçam, Mônica seca os olhos "-Nunca lhe falei sobre a minha vida! Fui abandonada numa lata de lixo, passei uma boa parte da minha infância num orfanato, até que uma família me adotou, estava com oito para nove anos, pensei que seria a maior felicidade do mundo, mas enganei-me, eles não queriam uma filha e sim uma babá pro filho que tinham mais novo que eu, uma empregada fazia de tudo, mas até aí tudo bem, ai fui crescendo, formando o meu corpo de mocinha, então o meu "Pai" adotivo começou a chegar por trás e pegar nos meus seios! Tentava sair ele segurava-me e falava no meu ouvido "Tá virando uma mocinha, estou gostando!"

"Meu Deus! Mônica, e você não disse para mulher dele?"

"Um dia ela chegou, eu estava lavando vasilha na pia, pegou ele esbarrando em mim, ela gritou ele disse que eu estava provocando, por isso não resistiu! Ela pegou-me pelos cabelos e deu-me uma surra! Estava com doze anos! Depois desse dia decidi ir embora dessa casa, a noite enquanto eles dormiam, peguei fiz uma trouxa e fui embora, fugi, andei a noite toda! Queria sumir..."

"Santo Deus! Que sofrimento!"

"Fiquei morando nas ruas, escondia-me no meio dos usuários de drogas, uma vez vi ele passando na rua, parecia estar-me procurando! Mas escondi-me! Viver na rua não é fácil, agente passa frio, fome, mas os outros moradores protegem uns aos outros! Uma senhora cuidou de mim, fiquei com ela até que um dia amanheceu morta! Aí já estava mais crescida! Já conhecia um pouco mais da vida, então fui sobrevivendo! Tinha uns caras que dava um dinheiro para quem entregasse drogas nos sinais, fui ganhando um dinheirinho aqui, outro ali até conseguir alugar um quartinho, aí conheci a Marilda a diretora da escola que você estudou! Ela levou-me para limpar a casa dela e aí fui pegando outra faxina e outra é aqui estou, virou a minha profissão! Tenho horror a homem, nunca quis ter namorado, só de pensar em alguém me tocando lembro-me daquele homem asqueroso me tocando, quando lhe vi naquela estrada, foi como um filme passando pela minha cabeça, e você contou-me o que havia acontecido, quis ampará-la, foi a melhor coisa que já fiz na minha vida!

"Você disse aquele dia que estava indo no enterro de uma tia?"

" É estava, era irmã daquela senhora que cuidou de mim na rua, antes dela morrer deu-me um papel com o nome e telefone da irmã! Depois que já estava em melhor condição liguei para ela, conversamos contei sobre a sua irmã, passei a ligar sempre, nunca nos vimos, eu chamava ela de tia, quando ela morreu acharam o meu contato, mas com o nome da irmã que já havia morrido, me ligaram avisando-me senti na responsabilidade de ir ate lá, o resto você já sabe!"

"Haa minha amiga, já passou por um pedacinho também, até mais sofrido que eu! Pelo menos tive a minha mãe que cuidou e protegeu-me e agora tenho você! Obrigada por estar ao meu lado!"

"Quando fui adotada sempre que podiam falavam para mim que tinha que agradecer por terem-me recebido na casa deles, que eu era um traste que nem a minha mãe me quis, preferiu jogar-me no lixo! Não sabe como isso me doía, chorava a noite toda! Sentia-me realmente um lixo! Mas essa senhora dizia-me que eu era uma benção de Deus, ela deu-me tanto amor, carinho coisa que nunca havia recebido na minha vida! Quando ela se foi fiquei muito triste! Deixava de comer para que pudesse alimentar-me! Você e ela fizeram sentir-me importante para alguém, por isso filha não me agradeça, sou eu que fico grata por tê-la comigo!

"Mônica amo-lhe muito, pode ter certeza tenho-a como minha segunda mãe, jamais lhe deixarei sozinha na vida!"

"Ahh filha, você é também uma filha para mim! Sinto como se lhe conhecesse há muito tempo!"

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