cap 7

Honey

Voltando do almoço pedi para o motoboy levar as assinaturas até o cartório era a última etapa para a compra do hotel em Londres e a última tarefa do dia. Enquanto esperava me mantinha ocupada com alguns processos, embora isso não tenha me impedido de pensar no filho do chefe do meu chefe em horários aleatórios. Analisar processos civis, pensar no Brady, analisar processos tributários, pensar no Brady, audiência trabalhista, pensar no Brady. Por fim, decidir me concentrar na proposta da fusão.

Meu escritório ficava a duas salas da presidência e de onde eu estava tinha total visão da  empresa, que estava completamente vazia, na verdade todo o andar estava estranhamente calmo, só conseguia ouvir o barulho do aspirador de pó da moça da limpeza enquanto eu falava ao telefone

- Senhorita, você consegue me entender? Eu preciso que você me transfira para o advogado do senhor Smith.

Tentava explicar pela terceira vez, já estava perdendo a paciência,  aquela história de fusão estava martelando na minha cabeça e se não  tivesse algo em mãos para estudar e me planejar, obviamente não conseguiria dormir à noite e nem aproveitar o final de semana.

- Senhora eu já anotei seu recado...

Se não fosse o barulho da unha sendo lixada e a mastigação excessiva, que deduzo ser de um chiclete, eu poderia jurar que eu estava falando com a caixa eletrônica.

- Eu não preciso que você anote o recado, eu preciso da proposta preliminar da sua empresa, você poderia me transferir para o advogado responsável, por favor  - mais uma vez expliquei pausadamente.

- Só na segunda feira, senhora!

Respirei fundo, levantando da cadeira e andando de um lado para o outro.

-Algum problema ?

Conseguir apenas piscar em resposta quando olhei para porta e vi Brady encostado no batente. Um sorriso lento e perverso surgiu em seu rosto. .

- Você precisa de alguma coisa? pensei que já estivesse ido - coloquei o celular no mudo sem nenhum remorso por deixá-la na linha.

- Então, estava pensando em mim?

Franzi o nariz

- Não... Apenas notei que estava tudo silencioso e deduzi que todos já estivessem ido. Afinal hoje é sexta e a maioria só trabalha até às duas e já são... - olhei no celular ficando pasma ao notar que a assistente do advogado do senhor Smith havia desligado. - Não é possível.

Tentei ligar novamente, mas a chamada ia direto para caixa postal.

- sua...sua cara de fuinha...

Brady expressou um sorriso espontâneo

- Eu gostaria de saber em qual escala se encaixa seus níveis de palavrão.  Qual é o pior? O cara de pudim ou o cara de fuinha ?

- Podemos dizer que o cara de fuinha ganha. Esse eu só uso quando estou extremamente nervosa, como é o caso !

Só percebi que ele estava com dois copos de cafés nas mãos  quando ele estendeu um em minha direção.

- Vai fazê-la relaxar!

O cheiro de café forte me deu água na boca. Sentei e estendi a mão em direção as cadeiras do outro lado da mesa, levando o copo até os lábios

- Hum... Delicioso, onde conseguiu? O café daqui é horrível... - assim que terminei a frase me arrependi de imediato, como uma pessoal reclama do café com um dos donos da empresa? - desculpa eu não queria...

- Tudo bem, eu também não aprecio o café expresso. Existe uma cafeteria, não muito longe que serve um café tradicional brasileiro, sinceramente é meu predileto.

- Já esteve no Brasil ? - perguntei curiosa

- Sim, estive lá há alguns anos quando fomos montar uma rede de hotéis em Fernando de Noronha e aproveitei para conhecer alguns estados ao redor.

- Meu pai era brasileiro, morei no Brasil até meus doze anos...

- Percebi isso no momento em coloquei os olhos em você.

Senti seus olhos passearam pelo meu rosto enquanto ele levava o copo com  café até os lábios. A sala de repente ficou pequena demais.

- Mas.. não me disse o que veio fazer na minha sala, posso ajudá-lo em alguma coisa? - mudei de assunto rapidamente.

- Só queria saber se você já tinha alguma notícia  sobre a proposta da fusão.

- Estava tentando conseguir isso no momento em que você chegou, mas a assistente dele ou não estava disposta a trabalhar ou o advogado do senhor Smith estava muito  ocupado para me atender

- Talvez possa ajudá-la. Vou ligar para o Smith e marcar uma reunião direto com ele na segunda feira. Pode ser ?

- pensei que você fosse embora! Não que eu esteja pensando em você de novo, mas é que você falou para o Eduard que ia embora e tal...- quanto mais eu tentava me explicar mais me embolava com as palavras.

- talvez fique um pouco mais !

Instantaneamente abrir um sorriso de orelha a orelha, um sorriso totalmente bobo.  porque ? Nem eu mesma sei. Mas corei no instante em que Brady percebeu e abaixou a cabeça abrindo um sorriso presunçoso.

O momento ficou um pouco constrangedor, pelo menos para mim que tentava a todo custo não  demonstrar minhas emoções, considerando-o um ato de fraqueza. 

Limpei a garganta enquanto verificava meu celular que vibrava em cima da mesa. Meu pavor ficou  evidente  quando apareceu na tela " escola do Liam". Com as mãos trêmulas, porque já sabia que isso só ocorria quando havia algum problemas, atendi a Chamada.

- Alô, algum problema com Liam? - falei me levantando de imediato com os  olhos do Brady atentos as minhas reações.

- Alô, senhora Honey,  fique calma.- a simples frase " fique calma" já me deixava extremamente nervosa -  Estamos ligando para avisar que o Liam está com a temperatura um pouco elevada, da primeira vez que medimos estava trinta e sente e meio, mas parece que tá subindo, acabamos de medir novamente e foi para trinta e oito. A enfermeira da escola nos  aconselhou a levá-lo no hospital.

- Claro que sim, é a melhor coisa a fazer. Chego aí em alguns minutos.

Desliguei o celular e arrumei as papeladas enfiando tudo na pasta e em seguida guardando-os na bolsa.

- Aconteceu alguma coisa? - Brady já estava parado na porta me esperando para sair.

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