cap 2

Honey, 28 anos

Liam, 6 Anos

Cecí, 26 anos

Honey

Sabe aquele momento em que acordamos e precisamos de alguns minutinhos para a alma voltar para o corpo? Pois bem, faz muito tempo que não sei o que é isso.

- mamãe? - ouço gritos e algumas batidas vindo da porta do meu quarto. De olhos fechamos, me arrasto e abro me jogando em seguida na cama. ouço leves passinhos até pararem na minha frente. Continuei de olhos fechados na esperança de que meu pequeno super herói  se deitasse  ao meu lado e voltasse a dormir, porém, sou surpreendidas por vários beijinhos me fazendo rir do jeitinho desengonçado do Liam.

- Agora é sol ! acorda,  mamãe !!

Resmunguei alguma coisa, puxando-o para cima da cama.

- Ainda é muito cedo...Dorme mais um pouquinho com a mamãe !! - chamei-o ainda sonolenta

Se fez um silêncio e agradeci mentalmente por mais alguns minutinhos de sono. Ainda de olhos fechados, sentir algo pequeno em minhas costas.

- Olha, mamãe, a liga da justiça! - Meu filho travou uma lutar entre os super-heróis da Marvel em cima do meu corpo.

" Ho, céus ...adeus sono!"

- E quem está vencendo? - soltando um bocejo, pergunto esfregando os olhos.

- O Thor, porque ele é grande, forte e protege todo o mundo e ainda tem um " mantelo"

- martelo, filho ! - o interrompi

- isso aí, quando eu crescer vou ser forte igual a ele para te proteger de gente mal.

- Hum... Mas será que esse meu pequeno valente protetor poderia deixar a mamãe dormir só mais um pouquinho?

Liam colocou o indicador no lábios inferior e  olhou para o teto pensativo.

- Hum, não...- Negou, sorrindo mostrando o espaço temporário entre os dentes, mais conhecido como "janelinha".

Suspirei

- Bem, já que não posso dormir, que tal...- Aproximei lentamente do pequeno espertinho...- muitas cosquinha - joguei o na cama, pressionando os dedos contra sua barriga, fazendo-o gargalhar, enquanto o enchia de beijos estalados.

Parei quando achei suficiente

- já que não podemos dormir, que tal irmos  tomar banho para ir para escola? - deslizei minhas mãos pelos fios castanhos dos seus cabelos.

- Não quero tomar banho, tomei ontem! - sua expressão mudou deixando claro seu desagrado - Pode perguntar para tia Ceci.

- Tem que tomar banho todo dia, mocinho...se não tomar, você  vai virar um porquinho! -

- Não "subtime" minha inteligência, sei que não vou virar um porquinho - Deu de ombro colocando as mãos na cintura.

- Eu acho que é você que está subestimando a minha, tentando me enrolar - bati com o dedo indicador em seu nariz - Agora, vamos, antes que nos atrasamos!

Liam foi para o banheiro, frustrado, enquanto eu preparava seu café da manhã e arrumava seu lanche.

Bocejei, ainda sentindo o torpor do sono em meu corpo. Meu filho apareceu depois de alguns segundos, vestindo uma fantasia do superman ao invés do tradicional uniforme do colégio.  Fechei os olhos e respirei fundo ," lá vamos nós para mais uma guerra entre mãe e  filho"

- Cadê o uniforme ? - perguntei me aproximando para ficar na altura dos seus olhos.

- Não quero usar aquilo, não quero ficar igual as outras crianças .

- Mas nós já  conversamos sobre isso,  na escola as crianças tem que ficar iguais, tem que usar uniforme.- peguei em suas mãos e deixei um beijo carinhoso. 

- Mas, mãe...

- Por favor, filho!

Quando vi formar um biquinho muito fofo em seus lábios sabia que aquele round eu havia vencido. Pelo menos dessa vez eu não iria levar um sermão  da coordenadora pelo meu filho não estar vestido adequadamente. Aquela escola tinha tudo que eu sempre esperei de uma instituição, inclusive o ensino bilíngue, queria manter vivo minhas raízes brasileira. Apesar do grande número de crianças na fila por uma vaga em apenas  uma semana  fui chamada para fazer a pré-matrícula e não podia correr o risco de sermos expulsos, pois foi a ameaça  da dona Carmem da última vez que Liam apareceu vestindo uma fantasia do homem aranha.

Fui para meu quarto e rapidamente tomei um banho me vestindo casualmente e fazendo uma maquiagem básica. Liam apareceu usando a camisa social claramente torta, o suéter azul por cima e a calça que fazia parte do uniforme na cor cinza do avesso. Sorri caminhando em sua direção e levando-o para o quarto a fim de arrumar a sua roupa.

Liam, assim como eu, havia herdado as principais  características do meu pai, um viajante brasileiro, cabelos encaracolados, olhos verdes e no meu caso, muitas curvas. Minha mãe me contava que quando se conheceram ela o confundiu com um dos funcionários do restaurante, um lugar que só contratava imigrantes perto do campus onde ela cursava a faculdade de Direito, como forma de desculpa ela convidou-o para jantar. Mesmo quando papai voltou para seu país eles continuaram se comunicando por cartas. Um ano depois, se reencontraram no mesmo lugar, a essa altura já apaixonados.

Sem a aprovação do meu avô, minha mãe grávida,  largou tudo e se aventurou ao lado do meu  pai. Considerando a união um erro, ele nunca aceitou o relacionamento deles, consequentemente, eu também acabei me  tornando renegada.

Quando meus pais faleceram, em um acidente de carro, eu tinha apenas doze anos. Minha avó materna me levou  para morar com eles em Nova York. Mesmo com pouca idade, eu já sabia que não seria fácil, ainda que minha avó realmente quisesse cuidar de mim, meu avô, com certeza, tornaria minha vida impossível. No início, ele costuma ignorar minhas tentativas de aproximação, fingia que eu não existia e quando me dirigia a palavra, era apenas para me humilhar ou exaltar a sua bondade em me acolher. Conforme o tempo foi passando, aprendi a evita-lo me isolando dentro do quarto ou em qualquer outro cômodo da casa em que ele não estivesse.

Anos mais tarde, decidida a seguir a mesma profissão que minha mãe escolheu, me escrevi na universidade de Chicago e com apenas 600 alunos no programa de juris Doctor conseguir ficar entre os primeiros. Orgulhosa por ter consigo a vaga e por ser também a profissão do meu avô,  liguei para ele  para contar a novidade, porém ainda assim não tive sua benção me jogando na cara que logo  estaria igual a mulher que me colocou no mundo.

Eu jurei que faria diferente, que conquistaria seu afeto e deixaria-o muito orgulhoso. Então, foi um enorme susto quando, ainda cursando a faculdade , faltando pouco para me formar e começando um trabalho que acreditava deixá-lo feliz, me descobrir grávida.Tinha feito tudo certinho, mas algo falhou!

Scott, meu noivo, pai do meu filho e também estudante de Direito,  sumiu logo depois de ter lhe contato sobre minha gravidez  - outro motivo de vergonha para o meu avô.

Minha avó, com seu coração imenso, insistiu para que eu voltasse a morar com eles, mas conviver com ele seria padecer no andar de baixo sem passagem de volta.

Eu precisava me formar e viver minha própria vida sem depender de ninguém. Foi quando Ceci me convidou para morar com ela, me garantiu que me ajudaria com tudo.

Mesmo com uma criança pequena, que chorava o tempo inteiro, e sem nenhuma obrigação ou laço sanguíneo, fui muito mais acolhida pela minha amiga de faculdade do que por aquele que deveria ser como meu pai.

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Comments

Celia Maria Chagas Badu

Celia Maria Chagas Badu

Perdeu os pais, um avô preconceituoso mais foi forte 😃😃

2023-10-22

6

ivone lima juliace

ivone lima juliace

Aí coitada que estória linda de seus pais
misericórdia que avó é esse horrível 😡😡😡

2023-08-24

1

Maria Izabel

Maria Izabel

o apoio familiar é imprescindível infelizmente muito ficam a desejar ,pelo menos ela teve uma amiga 🤔♥️

2023-08-17

0

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