Parou no beco com cheiro de peixe que levava a casa dele. Franzia as sobrancelhas grossas e crispava os lábios inchados. Não queria ir para casa agora. Era noite.
Socou a parede até que em suas mãos surgissem feridas horrendas. Analisou as mãos feridas e trêmulas. A dor o trazia de volta e tornou-se a única forma de se lembrar de que estava vivo!
Ignorou o odor de peixe podre. Socou novamente a parede até sentir o sangue escorrer por sua mão e a dor o lembrar que estava vivo novamente.
E com essa sensação vinha o indescrítivel prazer de se lembrar de que sua carne também ainda fazia parte de seu corpo. Chang sentiu a ardência de sua carne castigada percorrer todo o seu corpo.
Caminhou até o lugar com o beco cheio de gatos esfomeados brincando com espinhas de peixe, parando em frente a casa com pintura descascando, que era também um pequeno restaurante que agora estava fechado e só abriria na hora do almoço.
Seria um desgosto para a mãe dele não seria, se ela ouvisse falar que seu único filho se tornou um bandido? Podia fazer isso discretamente. Usar uma máscara para que ninguém conhecesse sua identidade e usar um codinome. Daria um jeito de não envergonhá-la.
Chang entrou no pequeno restaurante. A encontrou no quintal da casa, tratando e cortando os peixes que seu avó comprava na feira. e deu um longo suspiro sabendo que ela se preparava para o pequeno restaurante que tinham. Chutou um banquinho que ficava próximo a uma mesa.
Tanto esforço para o filho dela acabar como mafioso! Mas se fizesse isso, a dívida do pai dele que os abandonou e vivia com outra mulher na China, sumiria. Precisavam tanto desse recomeço! Não era algo a ser descartado fácil assim, não mesmo. Honra? Viver uma vida honesta? O que era isso comparada a dificuldade real na qual viviam? Por que tinha que ter honra quando o mundo tentava arrancar qualquer resquício disso?
Deu um longo suspiro. Porcaria! O que devia dizer a sua mãe? Não gostava de esconder as coisas dela. Mas sem chance de contar a ela sobre a proposta de Dragão. Como diria a ela afinal que estava considerando se tornar um agiota… quer dizer, trabalhar para um. E tem diferença?
— Consegui um emprego. Paga bem. Oferecem comida e um dormitório. — Chang apenas soltou antes que perdesse a coragem. Ele se recostou contra a parede de tijolos. A mãe dele se permitiu olhá-lo.
— É mesmo filho? Como é esse emprego?
— Bem. Uma empresa de segurança. — Chang inventou.
Foi impulsionado pelo seus sentimentos contraditórios de que honra não importava, quando tudo o que se podia fazer no mundo era sobreviver como os gatos do beco com restos de espinhas de peixe e não de fato viver como um ser humano. Pelo menos se virasse um cachorro de Dragão, ....teria ração de boa qualidade e sua mãe ganharia também.
— Eu devo treinar com eles antes, mas é uma coisa boa. Vai ser como se eu me alistasse no exército, mamãe. Seu filho vai ficar forte e musculoso e ainda ganhar dinheiro para isso. Isso não é uma coisa boa?
— Ah, isso é maravilhoso filho. — A voz de mulher preencheu os ouvidos de Chang, a única voz de mulher que era capaz de mexer com ele. .O semblante cansado de sua mãe se desfez. Substituindo pela alegria rara. Sua mãe seria uma mulher linda se pudesse enchê-la de luxo. Maldito fosse seu pai.
— E o que é mais perfeito… Se começar nesse emprego consigo pagar a dívida do pai em um ano, mamãe. — Chang continuou sentindo a coragem de arriscar sua vida em prol de Dragão aumentar ao ver uma nova perspectiva de futuro surgir em seu anseio suicidida. Podia morrer por alguém, antes estava disposto a morrer de modo egoísta. Proteger a vida de alguém e ganhar em cima disso não soava tão errado assim. Não quando a outra opção era só morrer por estar exausto de viver.
O peso do mundo as vezes suprimia violentamente a vontade de Chang de viver. E as surras de Dragão eram como se o pescassem de sua apatia. Chang estava ciente de que em algum momento nos seus quinze anos, a surra humilhante que levou a primeira vez, não era nada além de uma afrodisíaco porque o enchia de raiva e ao mesmo tempo prazer pela vida novamente. Era perturbador. Gostava de apanhar? Ou gostava especificamente de que era Dragão que batia nele? Perturbador das duas formas por isso não pensava muito nisso.
— Que tipo de emprego é esse? — Chang foi questionado por seu avô, que surgiu por trás da cortina da cozinha do restaurante coberto de sangue de porco.
— Bem serei treinado para me tornar o segurança particular de um cara rico aí. — Chang deu de ombros. Não mentiu. Deu de ombros..
— Nada ilegal né? — O seu avó exigiu.
— Não. — Essa parte era a mentira na qual Chang era mestre desde seus quinze anos quando Dragão começou a descontar nele a raiva contra o pai de Chang. E o garoto mentiu dizendo que tinha brigado na escola. Pelo menos depois da surra, Dragão parou de aparecer no restaurante da mãe de Chang e quebrar as coisas por lá. Chang podia aguentar um dia inteiro apanhando se isso significava que Dragão não incomodaria mais sua mãe. — Ele precisa de pessoas fiéis somente. Nada ilegal. E aí? Acham que devo aceitar? — Chang perguntou calmo.
— Depois pensamos nisso, meu menino. .— A mãe de Chang falou calma. — Hoje é seu aniversário. Seu avô e eu conseguimos juntar um dinheiro, querido.
Chang assistiu sua mãe tirar o envelope vermelho do bolso da calça e o entregar.
Chang respirou fundo, aceitando o presente porque seria rude não o fazer segundo a tradição. As lágrimas surgiram em seus olhos e elelambeu o lábio inferior inchado pelo soco de Dragão. Se sentia culpado de não poder cuidar da sua mãe e ser ela a cuidar dele. Mas Chang guardava cada envelope vermelho que recebia em seu aniversário. E tinha 5 mil guardados na sua gaveta. Os daria a sua mãe antes de partir para se tornar um dos homens de Dragão.
— Mãe, nós já …— Chang ia argumentar, mas calou-se vendo o desespero de sua mãe.
— Aceite. — Ela implorou. A mãe de Chang, tirou as luvas sujas de peixe e tocou o rosto do filho. — É meu bom menino. Te amo muito. Obrigada por ser meu filho.
Chang apenas forçou um sorriso a ela. Ele aceitou o envelope, mas isso só porque devolveria a ela no fim. Já havia tomado sua decisão e seria um dos cães fiéis de Dragão.
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Atualizado até capítulo 35
Comments
♪𝓢𝓾𝓵𝓵𝓮🩰
agora eu entendi o porquê das pessoas depressivas se auto-multilarem
2023-05-22
0
Janetf Ferreira
Meu Deus! fui arrebatada por Você minha estimada autora. Sinta muito orgulho de sua escrita pois ela vem directamente de sua alma, para aquecer a nossa. Obrigado por existir!
2023-01-29
2
Doidinha-da-farofa
desse geito eu vou chorar
2022-07-10
5