Iniciando o plano do Gabriel

...Clara Lua...

Acordei com muita dor de cabeça, mal consegui dormir essa noite, ainda não entendo por que eu agi daquela forma, caramba, até dias atrás eu nunca tinha beijado ninguém e ontem quase tive a minha primeira vez no balcão da cozinha com o meu chefe. O que está acontecendo comigo? Eu nunca agi dessa forma.

É óbvio que o senhor Santini iria estranhar, mas me chamar de beata puritana, logo após ter se declarado e me pedido em namoro, isso foi inaceitável. Quem ele pensa que é?

Eu tenho que manter distância dele daqui pra frente, o máximo possível.

Me arrumo e decido descer pra tomar café da manhã, é um dos únicos momentos que vejo o senhor Santini sentado a mesa, eu e a Maria somos os únicos funcionários que sentam na mesa para as refeições, os demais comem na cozinha mesmo.

A Maria é como se fosse dona da casa também, ela coordena tudo, a limpeza, a comida, as roupas, o trabalho do motorista, enfim, todo mundo obedece as ordens dela, até o senhor Gabriel.

Ela me contou que cuidou dele e da dona Gabriela desde que eram crianças, ela trabalhava na casa dos pais deles, e que quando o senhor Gabriel casou, decidiu se mudar e trabalhar aqui, ela o tem como um filho.

As vezes eu tenho a impressão de que todos precisam cuidar do senhor Santini de alguma forma, e não entendo o porquê. Ele é um homem adulto, é dez anos mais velho que eu, bem-sucedido na carreira. Por que precisa de tanta atenção? Sim, ele sofreu e dizem que mudou muito desde a morte da esposa, mas é como se todos quisessem protegê-lo de alguma forma. E acho que isso só tem prejudicado a saída dele desse luto. Ele precisa de apoio, porém também precisa de liberdade e tomar as rédeas da vida dele.

Mas enfim, chega de pensar no senhor Gabriel, agora preciso de coragem pra enfrentar ele como se não tivesse arrancado a camisa dele no meio da cozinha. Que situação Clara Lua.

Quando chego na sala de jantar, ele já havia saído "ufa" pelo menos não preciso enfrentar ele agora. Sento na mesa e tomo café com a Belinha e a Maria.

— Aconteceu alguma coisa essa noite? — A Maria perguntou do nada e quase cuspi o pão no meio da mesa.

— Por que a pergunta?

— O Gabriel estava mais estranho que de costume, e perguntou por você umas 5 vezes.

— Vai ver ele precisava falar algo sobre a Belinha, não aconteceu nada Maria. — Tentei desconversar.

— Pode me ajudar na cozinha um instante?— Ela se levantou e fui com ela até a cozinha.

— Não quero que a Belinha escute, mas eu sinto que existe algo entre você e o Gabriel. — Agora sim, ferrou, meu coração quase sai pela boca, ela vai me demitir, nem sei pra onde vou, e sem trabalho, por que eu fui me meter nessa confusão. — Saiba que fico muito feliz!!

Quê? Feliz? A Maria tá feliz, mas por quê?

— Tudo mudou desde que você veio morar aqui, a Belinha voltou a falar, a agir como criança, o Gabriel anda mais falante, passa mais tempo em casa, brinca com a Belinha. — Rla falava emocionada. — É claro que você transformou essa família. E se decidirem ficar juntos eu vou ter muito prazer em te servir como senhora dessa casa.

Senhora dessa casa? Mas que conversa é essa?

— Não ta acontecendo nada Maria, eu não vou ser senhora dessa casa, imagina, tudo isso não passa de um mal entendido. Eu só quero continuar o meu trabalho e fazer a Belinha evoluir cada vez mais. Apenas isso.

— Sei... Tudo bem então, de qual quer forma se precisar de apoio para essa coisa que 'não está acontecendo', saiba que estou aqui e pode contar comigo.

— Hummm... É... Obrigada Maria.

Eu saí confusa da cozinha, é melhor me ocupar com meu trabalho e parar de pensar besteira.

O dia passa bem rápido e não vi o senhor Gabriel, chego da faculdade faminta, mas decido evitar ir à cozinha a noite, por motivos óbvios, vou deitar com fome mesmo.

No dia seguinte

Acordei com muita fome, me arrumei rápido e fui ver se a Belinha estava acordada, graças a Deus ela já estava de pé, ajudei ela se arrumar e descemos pra tomar café.

E lá estava o senhor Gabriel sentado à mesa. Meu coração disparou tão forte que jurei que dava pra ouvir as batidas. E agora faço o quê?

— Bom dia meu amor!— E-Ele me chamou de meu amor?

— Bom dia papai!!!

Ele falou com a Belinha, meu Deus eu tô ficando louca. É melhor eu me sentar e agir normalmente.

— Bom dia Lua! Está tudo bem? — Ele me cumprimentou com a maior cara de pau.

Ai que cínico!

— Bom dia senhor, está tudo ótimo, graças a Deus.

— Maria vou trabalhar em casa hoje, pode pedir pra Stela deixar o escritório pronto. Vou só passar na empresa pra pegar uns documentos e volto pra casa.

— Claro Gabriel, a Stela fez a limpeza ontem, não se preocupe. — A Maria respondeu sorrindo.

Trabalhar de casa? Nesses 4 meses que trabalho aqui nunca o vi trabalhar em casa. Por que isso agora?

Terminamos o café da manhã e ele saiu. Eu decido subir para o quarto da Belinha e fazer as atividades dela por lá na esperança de evitar o senhor Gabriel durante o dia.

Algumas horas se passam e ele decide me chamar no escritório, respiro fundo e vou até ele.

— Mandou me chamar senhor?

— Sim Lua, sente-se por favor. — Ele apontou para uma cadeira à sua frente e sentei. — Primeiro eu quero te pedir desculpas pelo modo como falei com você naquele dia na cozinha, eu fiquei nervoso e falei um monte de besteira.

— Senhor, eu realmente não gostaria de falar sobre aquele dia. Então, ta tudo bem, não precisamos de desculpas nem nada disso.

— Tudo bem! Esse fim de semana é aniversário da filha de uma cliente muito importante do Grupo Santini e ela convidou a Belinha, eu recusei os últimos convites com a justificativa do luto e a Belinha não estava bem, mas agora penso que seja bom pra Belinha socializar, brincar com outras crianças.

— Sim, acho importante que a Belinha saia e tenha esse contato, mas precisamos preparar ela antes, se ela chegar assim do nada numa festa, pode ser ruim.

— É, eu pensei nisso, é por isso que decidi trabalhar em casa essa semana, pra ter mais tempo com a Belinha e levar ela pra passear esses dias e ver como ela reage. O que me diz?

— É uma ótima ideia senhor, pra onde pretende leva-la?

— Hoje vou a levar pra almoçar, num restaurante da família.

— Sua família tem restaurante? — Perguntei intrigada.

— Sim, meu primo Fábio é chef, tem uma rede de restaurante Italiano espalhado pelo país. Vai ser bom pra Belinha.

— Se não for incômodo eu gostaria de ir, pois, a Belinha pode ficar desconfortável e quero estar lá pra ajudar. — Falei, ele sorriu de um jeito estranho quando eu pedi pra ir, parece que ele esperava por isso.

— Mas é claro, eu vou precisar do seu apoio. Então saímos ao meio dia.

Eu saí do escritório pensando, por que eu me ofereci pra ir, eu nem tenho roupa pra ir a um restaurante chic, ai meu Deus, eu me meto em cada uma.

Corro pro quarto e vejo o que tenho de melhor pra vestir, decido por um vestido rosa, é a minha melhor roupa, um vestido tubinho de manga curta, coloco um colar e brincos combinando e uma sandália de salto, faço uma trança embutida na lateral do cabelo e uma maquiagem básica, ta ótimo.

Vou ao quarto da Belinha pra ajudar ela a se arrumar.

— Por que vamos sair? — A Balinha estava meio emburrada hoje.

— Você não quer ir?

— Quero, mas tenho medo! — Pobrezinha!

— Não precisa ter medo, vai ser como ir na casa da tia ou da vovô, e eu e seu pai estaremos lá com você.

— Se eu ficar com medo, posso te chamar de mãe?

Levei o maior susto com esse pedido da Belinha, por que me chamar de mãe? O que o pai dela vai pensar?

— Pode me chamar como preferir Belinha, desde que se sinta bem com isso.

— Obrigada. — Ela me deu um abraço apertado.

Antes de sairmos eu decido falar ao senhor Gabriel do pedido da Belinha.

— Fico surpreso com esse pedido da Belinha, mas se ela se sentir melhor assim, não vejo problema. — Ele falava sorrindo, até parecia fiz. — Ela só teve mãe por 2 anos e ela gosta muito de você, afinal é você quem cuida dela. Fico satisfeito que ela tenha você como uma mãe.

Depois da conversa saímos para o restaurante dos Santini.

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