Capítulo 8 Elevador

Elise

Sentei na cadeira da minha mesa, me reclinei e alonguei os músculos, sexta-feira é sempre o dia que seu corpo parece entender que vai ter uma folguinha, e já começa a ficar preguiçoso. É até estranho poder sentar, e sentir que o dever foi cumprido, pois o último mês, não teve um dia se quer, que não trabalhei intensamente. Mas tudo já está sendo processado por mim, a maioria das coisas, já faço no automático, e as dúvidas, tem diminuindo a cada dia.

Depois daquele dia na pizzaria, Bernardo tem estado mais distante, nem mesmo um aperto de mão me ofereceu mais, e de certo modo, parece evitar ficar próximo de mim, ou a sós. Bernardo me confunde a cabeça, nunca fiquei tão próxima de um homem como naquele dia, e os toques sutis de sua mão, a proximidade, a maneira que segurou meu cabelo e cheirou, foi algo surreal. Senti coisas que achei só ser possível em filmes, mundo paralisar, borboletas no estômago, a respiração ofegar pelo coração acelerado, é tudo um misto de emoções novas, que se repetem, todas as vezes que meu nome é pronunciado pela voz grave, e sempre que aqueles olhos verdes penetrantes me fitam. Mas guardo tudo isso dentro do meu coração, fechado a sete chaves, estaria perdida se me apaixonar por Bernardo, seria aquele tipo de paixão não correspondida, e fora que não sou o tipo que um homem galante e milionário procura. Sei muito bem, no que dá relacionamentos com o chefe. Eles se aproveitam da secretária, e quando enjoam, as demite e contratam outras. Mesmo o coração sendo um traidor da consciência, eu sempre estou em alerta, odiaria me apaixonar pela primeira vez, e acabar com o coração ferido.

Bernardo entrou na sala, acompanhado de Rogério e Luana. Os dois são pessoas maravilhosas, Luana é muito compreensiva e atenciosa, Rogério é do tipo que alegra o ambiente, sempre com suas piadas e riso contagiante.

— Ainda aqui, Elise? Já deu seu horário, não deixe o Bernardo te prender! — Luana falou sentando-se no sofá e erguendo os pés inchados.

— Eu não prendo ela aqui. Elise fica à vontade para sair quando desejar. — Bernardo respondeu sentando em sua mesa.

— Já piquei o cartão, estava apenas deixando a minha alma voltar ao corpo, para enfrentar mais um noite de aula... — murmurei abrindo minha bolsa e colocando meu celular e alguns pertences.

— Não está esquecida do meu chá revelação, amanhã não é? — Luana perguntou.

— Não, já comprei o presente. Eu vou sim. — respondi me levantando.

— Vamos te esperar, o Daniel não para de perguntar sobre você. — Rogério comentou se apoiando na mesa de Bernardo e pegando o retrato que havia.

Sei que é meu TOC falando mais alto, mas não aguento ver pessoas sentadas na mesa, ou tirando um objeto de enfeite do lugar. E a mesa nem é minha! Se controla Elise!

— Ele é muito fofo! — exclamei com um sorriso, voltando ao comentário inicial de Rogério.

— Eu já vou, tenham uma boa noite!— falei acenando para os três na sala.

Bernardo apenas me olhou ligeiramente e piscou.

Saí do escritório, e fui direto para sala onde dividia com Luana, tomei um banho e troquei a roupa, minha vontade era de ir direto para casa, deitar no sofá e maratonar uma série com minha mãe e irmã... Puxa! Já fazia tanto tempo que não fazia isso com elas!

Espantei os desejos, e quando parei no elevador, lá estava Bernardo, atrás de mim. Não podia negar a tensão que era quando ele se aproximava, todo meu corpo queria tremer, e a boca travava de tal maneira que não conseguia falar uma única palavra. Assim que a porta do elevador abriu, ele tomou a frente e a segurou para eu entrar.

— Obrigada...— respondi tímida.

Ele apenas assentiu e sorriu. Ficar confinado num lugar tão pequeno, me fez sentir falta de ar... desde quando era claustrofóbica?

Bernardo se manteve estático, olhando os números do andar. E eu, estava completamente sem ar, sem entender o que estava acontecendo comigo.

— Está bem, Elise? — ele finalmente me encarou preocupado.

— Sim... — respondi tentando disfarçar tudo que meu corpo sentia, mas a voz saiu ofegante.

Bernardo me fitava preocupado, mas eu mantinha meus olhos firmes na porta do elevador, que parecia não chegar nunca ao térreo. Quando a porta abriu-se, saí em disparada, buscando o ar para meus pulmões.

— Está tudo bem mesmo, Elise? Parece pálida...— Bernardo me observou.

— Sim! Eu tô bem... acho que só foi a minha pressão que baixou... as vezes acontece...— falei tentando despreocupá-lo, mas meus pés se embaraçou e acabei tropeçando no degrau da porta de saída, já ia para o chão, se não fosse as mãos ágeis do meu chefe. Antes de qualquer acidente vergonhoso, estava nos braços de Bernardo, o que acabava sendo vergonhoso também, mas bem elhor do que cair no chão. Quem acha que esse momento onde os olhos se encontram tão próximos que parece enxergar a alma, onde me sinto amparada por um homem absurdamente lindo e forte, me segurando a cintura, é muito clichê, não sabe o que fala. Porque nada que já tenha acontecido na minha vida, foi melhor do que esse momento. Não existe nada que te faça querer sair desses braços, porque não existe sanidade em mim, ela se ausentou do meu corpo, enquanto eu viajo ao espaço sideral.

— Se sente bem, Elise? — Bernardo perguntou me firmando no chão.

A voz grave dizendo meu nome, me trouxe a realidade, e minha consciência voltou com tudo.

— S-sim... eu me sinto b-bem... é que eu sou desastrada...— gaguejei me afastando dele e passando as mãos pela minha camiseta, estava totalmente atrapalhada.

— Não acho que seja desastrada, parece nervosa... — Bernardo afirmou me analisando.

Olhei para ele apreensiva, não sabia o que dizer, ou explicar o meu nervosismo. Ele colocou um meio sorriso nos lábios, e os olhos tinham uma certa malícia, enquanto ele colocava a mãos nos bolsos.

— Vou te dar uma carona, para garantir que vai ficar bem.— Bernardo tirou a chave do seu Ferrari do bolso.

— Não precisa, senhor! Eu vou de Uber, estou bem! — atropelei as palavras.

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