Elise
Quando meu celular despertou às 7h da manhã, minha vontade foi de meter o aparelho para longe. Mas tinha que levantar, afinal, promessa é promessa, e mesmo que o cansaço da semana tenha me exaurido as forças, me levantei arrastando e fui ao banheiro.
Amanheceu um dia frio, estamos em pleno inverno em São Paulo, vesti uma legging com uma bata de manga longa, botas, prendi o cabelo, porque ia trabalhar na cozinha.
Fui tomar o café da manhã, e minha mãe coava um café.
Dei um beijo nela, e pedi a benção.
— Deus abençoe, querida! Deu seu nome para participar do "Sopão" da igreja?— minha mãe perguntou.
— Sim...— respondi me sentando na cadeira do balcão da cozinha.
Minha mãe se chama Ana, já foi professora, mas quando nasci, abandonou a carreira e desde então, não mostrou interesse em voltar a lecionar. Uma baixinha de olhos verdes, cabelos castanhos claros, cacheados como o meu, corpo bem curvilíneo, que também herdei, além da estatura baixa. Uma amiga para todas as horas, essa é a minha mãe.
O aroma de café me encheu de desejo, me levantei e pegando uma xícara no armário, enchi e me deliciei, no cheiro e sabor amargo.
— A Abby vai com você?— ela perguntou.
— Ela deu o nome, mas pelo jeito não acordou...— murmurei.
Com toda paciência fui acordar minha irmã, ela resmungou, mas levantou.
Chamei um Uber, e logo estava na comunidade da igreja.
A esposa do pastor é a organizadora do programa, ela logo nos cumprimentou e entregou a touca e luvas, enquanto minha irmã foi organizar o refeitório com os jovens. Entrei na cozinha, e me juntando as senhoras, ajudei a cortar os legumes para sopa. O serviço estava árduo, corta tempero, carne, legumes... no meio do trabalho, meu celular não parava de vibrar no bolso, ignorei duas vezes, mas na terceira, lavei as mãos, e enxugando no avental, saí da cozinha e peguei o celular. Um número desconhecido.
— Alô?
— Srta. Elise?
Podia reconhecer aquela voz de qualquer distância, passei os últimos dias fascinada com o tom grave.
— Isso mesmo. Sr. Bernardo?
— Que bom que me atendeu... apaguei o email que me enviou com as suas organizações novas, e não lembro de nada... preciso assinar um contrato hoje, e não encontro...— a voz parecia desesperada.
— Está nas gavetas do arquivo, a terceira de cima para baixo.— respondi me lembrando perfeitamente do lugar.
— Hmm... espera aí...
Ouve um silêncio, que foi quebrado com o barulho de gavetas abrindo e fechando.
Eu não disse terceira gaveta? Porque tem que abrir todas?
— Achei! Obrigado! Desculpe incomodar...
— Sem problemas, senhor. Qualquer coisa é só me ligar.— respondi educadamente.
— Tenha um bom dia!
— Bom dia, senhor!
Desliguei o celular. Eliane, a esposa do pastor sorriu enquanto passava por mim.
— Problemas no trabalho?
— Meu chefe... não encontra as coisas... — respondi revirando os olhos.
— Sua mãe estava me dizendo que teve uma promoção. Parabéns!— Eliane falou com um sorriso.
— Ah... sim. Mais responsabilidade...
— Em tudo tem o lado positivo e negativo. Mas falar onde se encontram as coisas para o chefe, deve ser o menor dos problemas, não é?
— Com certeza! — respondi rindo.— Sabe o que é mais interessante? O escritório dele era uma bagunça total, e acredito que ele achava tudo... agora que organizei, etiquetei tudo, ele não consegue achar... vai entender!
Ela deu risada. Coloquei o celular no bolso e já ia entrar.
— Antes que eu me esqueça, meu marido aproveitou que está presente e te escalou para cantar um solo. Tudo bem?— Eliane perguntou segurando meu braço.
— Claro, sem problemas! — respondi com um sorriso.
Voltei a cozinha, com a voz de Bernardo ecoando no meu ouvido. Enquanto fazia meu serviço, meus pensamentos divagavam para os dias da semana que passou. Os olhos verdes e intensos, a presença marcante que sempre me impactava quando ele se aproximava, a beleza máscula e madura...
Meu Deus!
O que está fazendo Elise?
— Lise!— a voz da minha irmã me assustou, me tirando dos meus devaneios.
— Aiin!!! Que susto!
Ela me puxou para fora da cozinha toda eufórica.
— Os jovens vão sair para a Pizzaria de noite, vamos?
— Desde quando anda tão interessada nos jovens da igreja? — perguntei desconfiada.
— Não vêm ao caso. Vamos?
— Eu não sei... preciso tirar a tarde para estudar, e estou muito cansada...— murmurei.
— Eu sabia! Foi só começar trabalhar pro chefão, e a sua vida social já era! — Abby protestou revirando os olhos.
— Claro que não! Dramática! Eu vou! Pode dar meu nome.— respondi voltando para cozinha, mas ainda podia ouvir ela dizer:"Isso!"
A sopa foi terminada, retirei a touca, e o avental, saí da cozinha e o pátio que servia de refeitório para os sem teto, ou famílias da periferia, se alimentarem, estava lotado. Me ajuntei com a equipe, o pastor sempre fala umas palavras de ânimo e esperança antes de servir a refeição. Logo após, ele me chamou, para cantar.
O lugar estava lotado, minhas mãos tremiam, essa era a pior parte, enfrentar a timidez!
O pastor me entregou o microfone e soltaram o playback. Agarrei o microfone e fechei os olhos, deixei que a voz fluísse, sempre funcionava, conseguia me entregar de corpo e alma quando cantava.
Se Tu Quiseres Crer
(Soraya Moraes)
Muitos vão orar e querem encontrar alguém
Que garanta ao máximo a paz nos corações
Não há o que temer, embora o medo exista em nós
Mas a fé nos faz mover montanhas, com poder
Pode um milagre enfim acontecer
Quando você acreditar
A esperança em ti ninguém jamais
Irá matar, depende só
Se tu quiseres crer
O medo acabou pois ele agia sempre em vão
A esperança em ti fará aos ares flutuar
Não posso explicar o que o coração de alguém
Sente quando encontra a paz e a fé pra ir além
Pode um milagre enfim acontecer
Quando você acreditar
A esperança em ti ninguém jamais
Irá matar, depende só
Se tu quiseres crer
A coragem te fará vencer
Conquistando o reino em redor
É só assim que enxergarás que nada enfim lhe faltará
Ouça a voz, a voz que diz: Contigo eu estarei
Se tu quiseres...
Basta somente...
Crer, crer!...
Estava debruçada nos livros, dormindo e até sonhando, quando fui acordada por minha irmã.
— Elise?! Não acredito que ainda não se arrumou! Tem meia hora, até o pessoal passar aqui para nos buscar!
Levantei a cabeça atordoada. A quanto tempo estava dormindo?
Droga!
Abigail foi fechando meus livros e cadernos, tapando minhas canetas, e retirando tudo de perto de mim.
— Vamos, Lise! — ela me puxou pela mão.
— Já vou...— resmunguei.
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Atualizado até capítulo 99
Comments
RuthdaSilvaFerreira
kkk
2024-12-05
1
Cristina Leal
kkkk
2024-07-09
0
Analú
Essa irmã dela vai aprontar kkkkkk
2024-05-05
6