Bernardo
Saí do barracão de produção a passos rápidos, passei toda manhã na reunião semanal com os encarregados e o gerente da produção, me deixou faminto. Ouvi o apito do restaurante, sinalizando o último horário de almoço, indicando que era exatamente às 12:30h. Entrei no prédio da administração, enquanto subia o elevador, pedi uma refeição pelo app do celular. Saí do elevador distraído, olhando mensagens no celular. Entrei na minha sala no automático, e me deparei com Elise no topo de uma escada, limpando o canto mais alto da janela, com dois panos, ora passava um, ora passava outro. Fiquei estático no lugar, ela estava no último degrau, sem apoio algum, sem segurança, descalça, o cabelo que sempre vi solto, estava preso num coque bagunçado no topo da cabeça. Quase que eu ia gritar aterrorizado! Se essa garota cair desta escada, e sofrer um acidente de trabalho?
Estaria ferrado!
Me contive, se gritasse agora, poderia assustá-la, e aí que faria ela cair. A passos lentos e silenciosos, me aproximei da escada, e fiquei numa posição que julguei segura, tanto para olhá-la, quanto para ampará-la se viesse cair.
Eu disse olhá-la?
Suspirei profundamente ao ver as pernas dela no alto, sei que não deveria, Elise é uma garota recatada e jamais se sentiria á vontade se soubesse que estou debaixo dela, mas não resisti em deixar meus olhos explorarem o que estava debaixo da saia justa que vestia, podia ver perfeitamente parte das coxas torneadas, uma pena que depois tudo ficava escuro...
Bernardo! O que está fazendo?
Foco! A garota pode cair a qualquer momento!
Ela estava tão concentrada limpando, enquanto cantarolava uma música, que nem notou que eu estava debaixo dela.
— Srta. Elise?— chamei-a o mais suave e tranquilo que pude.
Ela estremeceu na escada, mas conseguiu manter o equilíbrio. Me olhou com olhos arregalados.
— Oi...?— ela gaguejou.
— Será que pode descer daí, para conversarmos? — perguntei segurado a escada.
Ela fechou as pernas envergonhada, abaixei a cabeça para não mostrar o misto de emoção que sentia. Não sabia se ria da sua timidez, ou se gritava desesperado para que ela descesse logo!
Ouvi o ranger da escada de alumínio, e quando o cheiro doce, que já estava me viciando nos últimos três dias, ficou próximo, levantei a cabeça e dei de cara com sua nuca, fechei os olhos e aproveitei para inspirei o ar profundamente. Que cheiro maravilhoso!
Ela se afastou rapidamente e colocou os panos num carrinho de limpeza, que só agora reparei que estava na sala.
— Sabe que tem uma empresa terceirizada, que é responsável pela limpeza, não é? — falei fechando a escada.
— Desculpe, senhor... é que tinha uma manchinha e uma teia de aranha lá em cima, que não dá pra tirar só com um paninho no rodo...— ela falou se afastando da janela e olhando-a por todos os ângulos.
Deixei a escada num canto, e olhei para janela, onde ela olhava sem parar. A janela estava impecável! Nunca vi tanto brilho!
Franzi a testa incrédulo com o trabalho.
Ela parecia incomodada com alguma coisa na janela, mas se controlava para não dizer.
— Alguma coisa errada, senhorita?— perguntei intrigado.
— Posso subir de novo? Ficou uma manchinha que dependendo da luz, fica embaçado...— ela reclamou como se fosse um grande problema.
Eu não queria rir, eu juro! Mas não pude evitar! Soltei o riso preso em minha garganta.
Ela me olhou assustada e confusa.
— Desculpe... mas é que a janela está perfeita! Por que tanta implicância?— indaguei engolindo o riso.— Não deveria estar descansando agora? Não é seu horário de almoço?
Ela suspirou frustrada e calçou os sapatos.
— Eu tenho essas loucuras as vezes... desculpe... gosto de ver tudo limpo...
— Porque não falou para faxineira da "sujeira" que viu?— perguntei curioso, fazendo questão de colocar aspas na "sujeira".
— Eu falei, mas ela não limpou direito... as vezes é melhor a gente mesmo fazer o serviço... não quis parecer chata...— ela argumentou levando o carrinho de limpeza para fora da sala.— Eu vou levar esse carrinho antes que a moça da limpeza sinta falta, por isso aproveitei o horário de almoço...
— Só te imploro, não suba nessa escada outra vez. Imagine se você cai!? — falei apreensivo.
Ela assentiu e saiu. Que garota mais engraçada!
Peguei a escada e levei ao almoxarifado, desci para buscar minha refeição. Comi no refeitório do primeiro andar, enquanto conversava com Luana e Rogério.
— Está gostando do serviço da sua assistente?— Rogério perguntou descontraído.
— Aquela é mais que assistente! Até o vidro da janela estava limpando! Quase me matou do coração!— comentei rindo.
— O bom é assim! Serviço completo!— Rogério respondeu rindo.— Mas, mudando de assunto, vamos fazer um almoço com a família sábado, comemorar o aniversário do Daniel. Aparece por lá, okay?
— Eu vou sim. Churrasco?
Rogério assentiu.
Fiquei conversando e jogando conversa fora, até voltar ao trabalho.
Subi de volta, e desta vez, no meu escritório, me deparei com o chão cheio dos meus contratos, todos espalhados. A estante estava vazia, os armários com as gavetas abertas e vazias, tudo estava no chão!
Arregalei os olhos incrédulo.
O que esta garota estava fazendo?
Ela andava no salto delicadamente, e não pisava em uma folha no chão. Tinha um prancheta na mão, com inúmeros post-its coloridos, uma caneta, que ela colocou nos lábios enquanto pensava concentrada, olhando para o chão.
— Posso entrar?— perguntei sem saber por onde podia caminhar.
— É claro! Só tenta não pisar nos papéis.— ela advertiu.
Fácil dizer, quando se tem apenas um pezinho que deve calçar no máximo 35, para alguém do meu tamanho, nos 43/44.
Fui andando nas pontas dos pés, sentei na minha mesa, e observei a linha de organização da minha nova assistente.
Tive que me manter na cadeira, apenas trabalhando no meu notebook. De quando em quando, eu observava-a por cima da tela do computador. Ela fez várias pilhas de papéis, e saía andando e lendo cada um, e colocando numa nova pilha. No topo de cada uma, um post-it de uma cor diferente, com algo escrito. Confesso que quando vi a bagunça, não enxergava um resultado, mas olhando Elise tão atenta e organizando tudo, chega a ser relaxante. Em dado momento, quando as pilhas estavam todas "etiquetadas" por ela, saiu do escritório e logo voltou com a moça da limpeza. Pediu para limpar as estantes e dentro de todas gavetas, não se dando por satisfeita pegou o pano e começou a fazer o serviço da senhora, que sem se incomodar, se apoiou no carrinho de limpeza e esperou Elise, que passava pano úmido e seco, até retirar todas as "manchinhas" que ela tanto vê.
Eu nunca me diverti tanto em um só dia, essa garota é obcecada por perfeição. Não vai sobreviver comigo, sou super desorganizado.
A moça da limpeza se foi e Elise começou a colocar as pilhas de papéis de volta nos lugares. Foi alguns minutos que me concentrei no meu trabalho, e quando levantei os olhos, ela já estava nas gavetas de arquivos. O rosto dela estava de satisfação plena, sempre cantarolando.
Quando ela disse que gostava de organizar as coisas, não estava exagerando!
Me levantei e fui ao banheiro, quando saí, tudo estava no lugar, minimamente encaixado.
— Senhor Bernardo, tem um tempinho?— ela perguntou-me olhando rapidamente.
— Claro!— respondi me aproximando dela.
— Eu organizei as coisas para ficar mais fácil para o senhor. Na estante, está apenas o contratos de serviços. Separei por pedidos, área automotiva, área da produção de máquinas, e por fim, produção de peças para instrumentos cirúrgicos. Cada área está organizada por datas, e período de contrato, um ano, dois anos...— Elise ia apontando para cada parte.— Bom, nos arquivos está a ficha e contratos dos funcionários que estavam aqui, Rogério, Luana, Roberto, eu, Renan, e outros que não me recordo o nome. Essa gaveta, está contratos que está analisando, na outra que já analisou e precisa assinar e comunicar os clientes, e na última os mais recentes que contratou, para ser precisa, dos últimos três meses.
Perplexo, eu olhava para ela incrédulo. Como ela conseguiu fazer tudo isso em uma tarde?
— Programei sua agenda, para despertar uma hora antes dos compromissos, e receber uma notificação no seu celular. Esses post-its coloridos, vai ajudar a achar o que procura, é só ir pelas datas. Mas, se ficar perdido, meu número está nos favoritos do seu celular da empresa, e também te enviei um e-mail com tudo que falei.
— Teve alguma coisa que não pensou, senhorita? Estou perplexo!— falei admirado.
— Se estiver exagerando, me avise senhor, porque não quero parecer muito intrometida...— ela falou cabisbaixa.
Depois de revirar meu escritório, é que ela diz isso? Dei risada do comentário.
— De forma alguma, fique à vontade para organizar do seu jeito, nunca me importei com isso. Não esperava que ter uma assistente seria tão bom assim, devia ter te contratado antes.— afirmei abrindo as gavetas, e olhando a perfeição da organização.
Ouvi o suspiro de alívio dela.
— Que alívio senhor! Eu me empenho demais nesse aspecto, e na maioria das vezes, quando vejo, já fiz tudo... e... bom, se não gostar de alguma coisa e quiser mudar, é só me avisar. Já estou no meu horário.— ela falou guardando a prancheta na sua mesa e pegando sua bolsa.
— Amanhã, vai precisar que eu venha?— ela perguntou com a bolsa no ombro.
— Não. Tranquilo. Já trabalhou por duas semanas...— respondi olhando os fios dos cabelos, que se soltavam do coque deixando-a sexy. As bochechas estavam coradas, e os lábios entreabertos num sutil ofegar.
Ela devia estar exausta. E tudo que conseguia pensar, era nela se sentindo assim por estar comigo, fazendo ela gemer.
Balancei a cabeça, não posso pensar assim. Elise é diferente, não parece ser do tipo que se entregaria fácil. Talvez seja isso que me chama tanto a atenção.
— Eu já vou! Até segunda!— ela falou saindo do escritório.
— Até! Bons estudos!— respondi.
Precisava dar um jeito de não olhar para Elise com outros olhos, ou essa dinâmica no trabalho ia dar ruim. Ela toda doce e inocente, e eu pensando como um pervertido.
Voltei para mesa, e fechei todos programas abertos no notebook, arrumei minhas coisas e resolvi que iria embora, e antes de ir para casa, visitar minha avó.
Saí da sala admirando a limpeza e organização. Fechei a porta e tranquei, quando cheguei no elevador, Elise estava parada em frente, esperando. O cabelo estava preso num rabo de cavalo, usava calça jeans e uma camiseta baby look rosinha, tênis Allstar e uma mochila delicada de florzinhas.
Ela se virou e me encarou.
— Já está indo, também?
— Sim... me cansei só de observá-la trabalhar.— falei sentindo a fragrância doce intensamente.
Ela deu risada. Devia ter tomado um banho, porque o perfume e leveza que exalava dela, parecia tão fresco.
O elevador abriu, observei o "cachorrinho fofo" na camiseta, ela parecia uma adolescente de 14 anos indo para escola, com o tamanho dela, agora sem os saltos, realmente parecia uma menininha.
Fiquei ao lado dela, podia sentir a tensão sexual que ficou entre nós dois, talvez só em mim, mas o universo não estava sendo compreensivo comigo! Me mandar num elevador sozinho com ela?
A olhando de soslaio, os lábios carnudos num batom natural, um lápis nos olhos, destacando a cor de mel que me fascinava. Como queria só me aproximar e sentir de perto o perfume que devia estar em seu pescoço... e tocar o cabelo dela... sentir a textura, que devia ser macia e sedosa...
O que estou fazendo?
Quando foi que fiquei tão à mercê de uma garota?
Na época do colégio?
Estou perdido...
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Atualizado até capítulo 99
Comments
RuthdaSilvaFerreira
❤
2024-12-05
1
Lalá Rodrigues
estou amanda a história, parabéns autora👏❤️✨
2024-07-10
3
Lalá Rodrigues
até eu 😂😂😂
2024-07-10
0