O Amor Acontece
Elise Alves, 21 anos
Observava o trânsito lento em plena Avenida Francisco Morato, na grande São Paulo, dificilmente não ficamos parados nesse trecho. Olhei as horas, provavelmente chegaríamos atrasados. O rádio estava numa estação FM de notícias, sem dar atenção para as "novidades" repetitivas, meus pensamentos divagavam para o pedido de entrevista da minha chefe, com o grande CEO, Bernardo Almeida. Me perguntava o porquê de alguém que já trabalha há dois anos numa empresa precisa de outra entrevista?
O trânsito parou de vez, meu pai colocou seu CD preferido, de músicas sertanejas, mas das antiga, como "Tião Carreiro e Pardinho". A ansiedade acelerou meu coração, e ficar parada na estrada, não me acalmaria em nada. Cantarolei a música a fim de distrair.
O meu pai é funcionário da empresa metalúrgica há mais de dez anos, consegui um estágio na administração, a vantagem é poder ir ao trabalho com ele, pelo menos quando ele está no mesmo horário que eu.
Meu pai é um homem de 44 anos, estatura mediana, usa um bigode preto, como seus cabelos, que nos últimos meses andou ganhando alguns cabelos brancos. Ele é um homem de poucas palavras, não demonstra muito seus sentimentos verbalmente, mas jamais diria que não ama a família pois sempre nos proporcionou boa vida, incentiva eu e minha irmã a estudar e pagou por isso, como minha faculdade de Administração de Empresa, no qual estou no último ano. Temos uma boa casa, um carro, passeamos regularmente... enfim, uma família normal e bem estruturada, se comparar com algumas por aí, não somos ricos, mas somos felizes.
O carro voltou a andar lentamente, suspirei ansiosa, meu estômago revirou, me arrependi de ter ficado sem comer, mas não era fome que sentia, e sim um enjôo de ansiedade. Passei as mãos pelo tecido da minha saia, e tentava distrair meus pensamentos.
Toda minha dificuldade, está na timidez excessiva que sofro desde a infância, além do TOC (transtorno obsessivo compulsivo). Evito lugares cheios de pessoas, odeio falar em público, nunca namorei, não frequento boates, não vou a bares, não tenho amigos na faculdade, só colegas mais velhos que eu. Sou tão organizada e com mania de limpeza, que chego a ser chata, nem eu me suporto às vezes.
Aí vocês podem se perguntar:"Elise, onde está sua diversão?"
Bom, eu diria que na família, amo ficar na minha casa, na companhia da minha mãe e irmã, assistindo um filme, às vezes uma série ou até novelas, também gosto de sair com elas, o que é bem frequente. Acompanho meus pais na igreja, e participo do grupo de jovens, em saídas de fim de semana, acampamentos em feriados prolongados, programa de sopas para moradores de rua, venda de pastéis para adquirir dinheiro para a juventude... essa é a minha vida, pacata, sem movimentação, e dentro do controle e rotina que preciso manter para minha saúde mental. Talvez alguém pense:"Elise é muito santinha"!
Acredite, estou longe disso!
Só nunca tive interesse em nada que os jovens de hoje gostam.
E não é criação, porque minha irmã é exatamente o meu oposto, pinta e borda na escola, vai em todas as festas, até aquelas que meus pais proíbem, Abigail, sempre acha um jeito de burlar as ordens, e agora que completou 18 anos, se acha a mulher mais livre do mundo. Acho que ela fez os cabelos brancos do meu pai se tornarem presentes ultimamente. Mas é uma boa menina, bem intensa, exuberante e irritante às vezes, mas eu não viveria longe dela.
Quando minhas crises de ansiedade ficam intensas, costumo cantar, me ajuda muito a aliviar a tensão, e é o único momento que não me sinto tímida. Também pratico exercícios físicos regularmente, academia e caminhada, (mesmo morrendo de preguiça), mas se deixou de fazer, as crises acabam piorando, e o médico diz que terei que partir para remédios controlados, então, faço um esforço para minha saúde física e mental.
Chegamos na empresa "Metalúrgica Almeida Ltda, Usinagem de Precisão". Desci do carro rapidamente, ajeitei minha saia justa e me equilibrei no salto alto do scarpin preto. Peguei minha bolsa e andei correndo pelo amplo estacionamento aberto, o quanto meu salto permitia.
— Boa sorte, filha!— Meu pai exclamou, mas já está á uma distância considerável.
Mandei um beijo e acenei para meu pai, que andando tranquilamente, se encaminhou para o barracão de produção, onde é encarregado de um setor. Peguei meu crachá na bolsa, e "piquei o cartão" com dois minutos de atraso na entrada. O prédio possui muitos andares, cada ala administrativa, é responsável por uma parte da produção da empresa, o setor que trabalho, é uns dos menores, onde lidamos com a parte burocrática da produção de peças para instrumentos cirúrgicos e de utilidade da medicina, tudo gira em torno da aprovação e selo da Anvisa.
Entrei no departamento de trabalho, cheguei a minha mesa e como de costume, peguei um paninho na gaveta, o álcool e borrifei, limpando tudo.
— Nossa encarregada estava te procurando, a chefe quer falar contigo. É pra você ligar.— Jacqueline, minha colega de trabalho, falou sentando na minha mesa.— Chegou atrasada... trânsito?— perguntou pegando um enfeite da minha mesa.
— O trânsito estava mais lento que o normal... vou ligar para Luana e dizer que cheguei, deve ser a entrevista...— falei pegando meu cachorrinho de vidro da mão dela.— Pode sair de cima da minha mesa?
Ela revirou os olhos.
— Boa sorte, amiga! — Saiu impaciente.
Peguei o telefone e liguei direto para a diretoria, onde Luana tinha linha direta. Ela atendeu e me pediu para subir.
Agarrei minha bolsa e fui até o elevador, entrei na caixa metálica e me olhei no espelho. Cabelos soltos e cachos alinhados. Maquiagem bem feita, mas nada muito estrondoso, roupa no lugar...
O apitar do elevador me fez virar em direção a porta, que logo abriu. Saí do elevador observando uma ampla sala, com sofás, mesas de centro, dois vasos grandes de plantas ornamentais, e dois corredores que davam para muitas portas, provavelmente de diversos escritórios. Uma loira tingida, maquiagem marcante, estava sentada no sofá, ela me olhou de cima a baixo com superioridade. Deveria ser uns cinco anos mais velha do que eu, vestia um vestido tão justo, parecia que as costuras estourariam a qualquer momento, tão curto que as coxas bem torneadas ficavam à vista, e o decote estava longe de ser recatado. Olhei minha blusa de manga longa na cor goiaba, larguinha no corpo, com um laço no decote, por dentro de uma saia midi preta. Estava exatamente o oposto da loira.
— Elise?— a voz de Luana me chamou atenção.
— Oi...— murmurei voltando minha atenção à ela.
— Pode se sentar, depois da Jéssica, será a sua vez.— Luana falou com um sorriso.
Assenti e me sentei do lado oposto da tal Jéssica, não gostava do jeito que ela me olhava.
Luana saiu apressada, ela é uma morena de olhos castanhos, cabelo num corte chanel, e a barriguinha que sobressaiu nos últimos dias, denunciou a gravidez.
Uma mulher, alta e de cabelos negros, vestida tão ousada quanto a loira, veio do corredor direito, deu uma piscada para a loira e se encaminhou até o elevador de nariz empinado.
— Jéssica Oliveira? Pode vir.— Luana chamou a loira, encaminhando até a sala do grande CEO.
O tempo de espera só fazia minha ansiedade crescer, pareceu ser horas, mas sempre que olhava no celular, só tinha alguns minutos. Vinte minutos mais tarde, a loira saiu rebolando e me olhando com desdém, apertou o botão de descer do elevador.
— Elise Alves? Me acompanhe.— Luana me chamou.
Me levantei atordoada, respirei fundo e consegui firmar as pernas trêmulas. Aceitar essa entrevista já foi um desafio, imaginem passar pela entrevista?
Estava lutando com todas minhas forças para vencer a timidez. Como é difícil!
Andei atrás de Luana pelo corredor, até chegar na última porta, onde a placa dizia: "Bernardo Almeida CEO". Respirei fundo, já havia visto o Bernardo de longe, em algumas revistas de fofoca, o seguia no Instagram, mas ele não era de postar vida pessoal, apenas sua avó e às vezes um irmão. Mas nada muito explícito.
Luana abriu a porta e colocou a cabeça para dentro.
— Beny? A última candidata. Elise Alves. — Luana anunciou.
— Ela pode entrar.— Uma voz grave soou da sala.
Luana abriu totalmente a porta. Com as vistas baixas, observei o carpete escuro do chão. Era uma sala comprida, andei a passos curtos e lentos, na minha direita tinha um sofá de couro na cor cinza, uma mesinha com um pequeno armário de bebidas. A esquerda uma estante, que deveria estar cheia de livros, mas apesar de ter algumas literaturas, o que mais tinha era pilha de papéis desorganizados.
— Srta. Elise Alves...— Bernardo balbuciou sem levantar os olhos do notebook.
— Sim...— respondi me obrigando a encará-lo.
Mas só consegui olhar a grande janela de vidro que ficava no fundo, nas costas do CEO.
— Sente-se!— Bernardo finalmente olhou para mim.
— Com licença...— respondi me sentando na cadeira que ele apontava.
Houve um instante de silêncio, podia sentir os olhos dele me analisando, mas não era capaz de levantar os olhos e fitá-lo. Mexi nos cantos da minha unha, passei a mão pelo tecido da saia um tanto nervosa. O silêncio estava cada vez mais constrangedor, precisava olhá-lo. Respirei fundo e levantei os olhos, dando de cara com um par de olhos verdes, que olhava a tela do notebook atentamente.
⚠️ Aviso da Autora ⚠️
Esse livro está em revisão, os comentários podem não bater no decorrer dos capítulos, pois algumas coisas foram mudadas, e ainda está em processo de atualização. Tudo para uma leitura mais convidativa, atraente e gostosa de se ler.
Pode conter erros de digitação, se encontrar, pode me avisar nos comentários, que eu corrijo. Faço tudo sozinha, então algumas coisas podem passar despercebidas, mesmo com a revisão.
Agradeço a compreensão ☺️
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Atualizado até capítulo 99
Comments
Conceição Andrade
Já começo parabenizando a autora pela humildade em dizer que aceita opiniões e que podem existir erros.
2024-09-23
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imaculada lima
avenida Francisco morato, conheço bem, passo por ela, para pegar a linha amarela do metrô /Speechless/
2024-08-28
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Elise Farias
Começando 08/08/2024
2024-08-09
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