Capítulo 18 – O Início do Silêncio

Ao concluir a leitura da mensagem escrita pela mãe, Miguel soltou o choro, que, também, queria sair da prisão em que foi mantido.

Lágrimas escorreram pelo rosto do menino e atingiram a fotografia, molhando-a e desbotando um pouco a tinta da caneta.

A luz azul que percorria as extremidades do teto desapareceu, deixando Miguel novamente no quarto parcialmente escuro, até que outra luz invadiu o ambiente.

Tal luz veio diretamente da porta, que, ao ser aberta pelo dono da casa, fez Miguel largar a fotografia, cerrar os punhos e avançar contra o velho, desejando batê-lo com a ínfima força que possuía nos braços franzinos.

Naquele dia, entretanto, Miguel nem sequer conseguiu tocar o corpo do velho, que se tornou o mestre dele e desenvolveu em pouco tempo os braços franzinos dele.

Miguel havia aceitado o árduo trabalho de despertar o próprio Poder Espiritual e desde o dia da aceitação privou-se da própria voz.

Cinco anos mais tarde, ele conseguiu atingir o desejado soco daquele dia contra o velho, que, no entanto, pôs o chapéu a sua própria defesa, como um escudo tão eficiente quanto o de um soldado da era medieval.

Miguel sentiu a mão ter atingido uma rocha de calcário e não um simples chapéu de palha. Por sorte, seu corpo já não era mais o mesmo. Ele estava crescido e forte. Nutrido de muito treinamento e alimentos naturais. Já se sentia forte e, em pensamentos, afirmava-se exaustivamente estar pronto para partir daquela pequena e velha cabana em busca do seu maior objetivo de vida: reencontrar os amados pais.

— Você ainda não está pronto — disse o mestre, atingindo o corpo suado e sem camisa de Miguel com uma esfera de energia azul-anil, que o fez cair a metros de distância. — Enquanto eu não disser que está pronto, você não poderá deixar esta casa, a menos que ela seja destruída.

Miguel deu ouvidos somente à última parte da fala dita pelo mestre. E, por dezenas de vezes, tentou destruir aquela sortuda construção, que sempre era salva pelo dono, das chamas, das machadas, das grandes pedras lançadas por Miguel.

Nada do que ele fizesse poderia destruir aquela cabana, pois ao contrário do mestre, Miguel ainda não tinha poder especial algum, senão as habilidades marciais aprendidas e a razoável força dos músculos desenvolvidos pelos cinco anos de treinamento.

Numa manhã ensolarada, Miguel e o mestre foram pescar no mesmo rio que um dia quase se afogou. Lá, as águas estavam tranquilas, pois só se agitavam quando chovia, principalmente, forte.

Lançando o anzol para além do limite das águas, Miguel, sem camisa e descalço, demonstrou a insatisfação por participar da pescaria da qual pouco gostava, pois, passavam horas tentando pescar os quase inexistentes peixes que havia ali.

— Não seja tão agressivo, Miguel — disse o mestre. — Pescar também faz parte do seu treinamento, pois se não sabe nem ao menos lançar um anzol com exatidão, como poderá lançar objetos com precisão contra o seu oponente.

Miguel, por sua vez, lançou a vara de pescar no rio e levantou-se da rocha onde estava sentado. Saltou para a margem do rio e, ignorando a ordem do mestre de permanecer na pescaria, deixou o local, adentrando a vegetação ao redor.

— Eu nunca tive um aprendiz tão teimoso e inquieto quanto esse — murmurou o mestre Zen consigo mesmo, persistindo com a ineficaz pescaria por mais um tempo, em que passou a assobiar, como se com isso fosse atrair os limitados peixes. — Hoje o rio não está pra peixe — aceitou a realidade, recolhendo o anzol e, por meio da levitação, trouxe de volta a vara de pescar de Miguel e uma dúzia de peixes que também flutuaram, para sua surpresa. — Vejam só, eu estava enganado! Olha só quantos peixes! Aquele meu aprendiz vai ter uma surpresa quando ver o que eu peguei de peixes.

O mestre Zen retirou o chapéu de palha da cabeça e pôs os peixes no interior do objeto, que cresceu e se expandiu para baixo, transformando -se visualmente de um chapéu para um cesto de palha.

Enquanto retornava à cabana, uma repentina neblina parecia aumentar à medida que ele se aproximava ainda mais da pequena moradia. Estranhando a situação, o mestre Zen saltou sobre a copa de uma árvore de onde enxergou com clareza a fumaça que emanava da velha casa em chamas.

— Aquele rapaz conseguiu me enganar desta vez — resmungou, irritado, o mestre Zen, salvando de uma árvore a outra com as varas de pescar numa mão e, por debaixo do outro braço, carregava o tal cesto de peixes. — Miguel! — gritou ao alcançar o destino. — Eu disse pra nunca mais tentar queimar a minha casa! — colocou as coisas de lado e, utilizando o próprio Poder Espiritual, quis apagar as chamas, salvar o que ainda restava da moradia, mas Miguel o impediu desta vez, enfrentando-o de igual para igual, graças às técnicas especiais descritas num dos antigos livros do mestre.

Os dois lutaram por um longo tempo, lançando rajadas de energia azulada de um lado a outro, anulando o ataque um do outro e trocando golpes marciais tanto em terra quanto no ar.

Miguel havia se preparado às escondidas para aquele momento em que não conseguiu ver o mestre durante a parte final da luta, mas já havia conseguido atingir o objetivo de destruir a casa dele.

No momento em que estavam no ar, o mestre Zen ficou invisível e, surgindo atrás do aprendiz, atingiu-o com um forte soco envolto de uma energia azul-anil contra o meio das costas desnudas de Miguel, que caiu daquela certa altura, marcando o solo com o formato do próprio corpo, como uma rocha abrindo um buraco no local atingido.

— Eu não quero que use essas técnicas apelativas — disse o mestre Zen, aproximando-se de Miguel, entre a consciência e a inconsciente devido ao golpe sofrido. — Se um dia você quiser levitar algo ou a si mesmo, ficar invisível, ler mentes, lançar rajadas de energia pelas mãos, terá primeiro de despertar o seu próprio Poder Espiritual e o elevar ao limite a partir do treino físico e da meditação diária — acrescentou, apagando da memória de Miguel o conhecimento adquirido do livro do Poder Espiritual Temporário que ele nunca deveria ter tocado.

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Comments

Imaculada Abreu

Imaculada Abreu

realmente muito estranha esta estória.
infelizmente parei de ler

2023-10-29

0

Sirlei Santos

Sirlei Santos

que história estranha nunca tinha lendo um livro tão estranha

2022-10-17

2

Ver todos
Capítulos
1 Capítulo 1 – O que é isso?
2 Capítulo 2 – Desafio de Racha
3 Capítulo 3 – Fim do Tempo
4 Capítulo 4 – Ação e Reação
5 Capítulo 5 – A Cliente
6 Capítulo 6 – Oculto Aos Olhos
7 Capítulo 7 – Estranho Remédio
8 Capítulo 8 – Esposa Sem Controle
9 Capítulo 9 – Par de Belas Pernas
10 Capítulo 10 – A Primeira Expurgação
11 Capítulo 11 – Destino ou Acaso?
12 Capítulo 12 – Amiga Irritada
13 Capítulo 13 – O Acordo
14 Capítulo 14 – Estátua Viva
15 Capítulo 15 – A Rainha
16 Capítulo 16 – Numa Manhã Chuvosa
17 Capítulo 17 – O Velho da Cabana
18 Capítulo 18 – O Início do Silêncio
19 Capítulo 19 – Mulher Bondosa
20 Capítulo 20 – Criança Demoníaca
21 Capítulo 21 – A Ilusão
22 Capítulo 22 – Que se Faça a Luz
23 Capítulo 23 – Promessas
24 Capítulo 24 – Não Há Espíritos
25 Capítulo 25 – O Telefonema
26 Capítulo 26 – Irmãos Sem Laços
27 Capítulo 27 – Sentimento Irresoluto
28 Capítulo 28 – Óculos Escuros
29 Capítulo 29 – Sei O Que Sinto
30 Capítulo 30 – Verde ou Vermelho?
31 Capítulo 31 – Outra Vez
32 Capítulo 32 – O Reencontro
33 Capítulo 33 – As Últimas Palavras
34 Capítulo 34 – Inevitável Descanso
35 Capítulo 35 – A Clínica
36 Capítulo 36 – Quase Um Espelho
37 Capítulo 37 – Novo Familiar
38 Capítulo 38 – Acalme-Me, Por Favor!
39 Capítulo 39 — O Altar Do Beijo
40 Capítulo 40 – A Primeira Vista
41 Capítulo 41 – O Retorno
42 Capítulo 42 – O Primeiro Atendimento
43 Capítulo 43 – O Convite
44 Capítulo 44 – Tudo Que Vai Volta
45 Capítulo 45 – Início de Noite
46 Capítulo 46 – Jantar Em Família
47 Capítulo 47 – Não Conte Ainda
48 Capítulo 48 – Além do Limite
49 Capítulo 49 – A Minha Vez
50 Capítulo 50 – A Proposta
51 Capítulo 51 – Sem Trânsito
52 Capítulo 52 – Três Batons
53 Capítulo 53 – Garras Ensaguentadas
54 Capítulo 54 – Amor de Homem Lobo
55 Capítulo 55 – O Fim do Bloqueio
56 Capítulo 56 – Só Uma Chance
57 Capítulo 57 – Garras Versus Agulhas
58 Capítulo 58 – Nem XX e Nem XY
59 Capítulo 59 – Sem Toques
60 Capítulo 60 – A Distração
61 Capítulo 61 – A Sombra
62 Capítulo 62 – Cura Por Acaso
63 Capítulo 63 – No Quarto
64 Capítulo 64 – Falta Saber
65 Capítulo 65 – Vida Normal
66 Capítulo 66 – Situação Delicada
67 Capítulo 67 – Fortes Emoções
68 Capítulo 68 – Prelúdio Ruim
69 Capítulo 69 – A Luz Apagou
70 Capítulo 70 – O Acidente
71 Capítulo 71 – Família Ferida
72 Capítulo 72 – Despertar do Dia
73 Capítulo 73 – Melhor Assim
74 Capítulo 74 – Um Tempo Distante
75 Capítulo 75 – A Esposa do Marido Misterioso
76 Capítulo 76 – Um Pedido
77 Capítulo 77 – A Visita
78 Capítulo 78 – Repentina Voz
79 Capítulo 79 – Novas Expurgações
80 Capítulo 80 – Ligações Perdidas
81 Capítulo 81 – A Emoção da Cela
82 Capítulo 82 – Inevitável Despertar
83 Capítulo 83 – O Percurso
84 Capítulo 84 – Eu Te Amo
85 Capítulo 85 – Trabalho Oculto
86 Capítulo 86 – O Grande Espírito
87 Capítulo 87 – Destruição da Matéria
88 Capítulo 88 – Duas Cabeças
89 Capítulo 89 – Ação Inesperada
90 Capítulo 90 – Em Casa
91 Capítulo 91 – Uma Confusão
92 Capítulo 92 – Os Curativos
93 Capítulo 93 – Um Novo Dia
94 Capítulo 94 – Café da Manhã
95 Capítulo 95 – Marcas Reveladas
96 Capítulo 96 – Evento Extraordinário
97 Capítulo 97 – A Vingança
98 Capítulo 98 – Os Disfarces
99 Capítulo 99 – Prelúdio do Fim
100 Capítulo 100 – A Força
101 Capítulo 101 – Amor Verdadeiro
102 Epílogo
Capítulos

Atualizado até capítulo 102

1
Capítulo 1 – O que é isso?
2
Capítulo 2 – Desafio de Racha
3
Capítulo 3 – Fim do Tempo
4
Capítulo 4 – Ação e Reação
5
Capítulo 5 – A Cliente
6
Capítulo 6 – Oculto Aos Olhos
7
Capítulo 7 – Estranho Remédio
8
Capítulo 8 – Esposa Sem Controle
9
Capítulo 9 – Par de Belas Pernas
10
Capítulo 10 – A Primeira Expurgação
11
Capítulo 11 – Destino ou Acaso?
12
Capítulo 12 – Amiga Irritada
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Capítulo 13 – O Acordo
14
Capítulo 14 – Estátua Viva
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Capítulo 15 – A Rainha
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Capítulo 16 – Numa Manhã Chuvosa
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Capítulo 17 – O Velho da Cabana
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Capítulo 18 – O Início do Silêncio
19
Capítulo 19 – Mulher Bondosa
20
Capítulo 20 – Criança Demoníaca
21
Capítulo 21 – A Ilusão
22
Capítulo 22 – Que se Faça a Luz
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Capítulo 23 – Promessas
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Capítulo 24 – Não Há Espíritos
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Capítulo 25 – O Telefonema
26
Capítulo 26 – Irmãos Sem Laços
27
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Capítulo 28 – Óculos Escuros
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Capítulo 30 – Verde ou Vermelho?
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Capítulo 33 – As Últimas Palavras
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Capítulo 34 – Inevitável Descanso
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Capítulo 41 – O Retorno
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Capítulo 42 – O Primeiro Atendimento
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Capítulo 52 – Três Batons
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Capítulo 76 – Um Pedido
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Capítulo 78 – Repentina Voz
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Capítulo 86 – O Grande Espírito
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Capítulo 95 – Marcas Reveladas
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Capítulo 96 – Evento Extraordinário
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Capítulo 97 – A Vingança
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Capítulo 98 – Os Disfarces
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Capítulo 99 – Prelúdio do Fim
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Capítulo 100 – A Força
101
Capítulo 101 – Amor Verdadeiro
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Epílogo

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