Ao concluir a leitura da mensagem escrita pela mãe, Miguel soltou o choro, que, também, queria sair da prisão em que foi mantido.
Lágrimas escorreram pelo rosto do menino e atingiram a fotografia, molhando-a e desbotando um pouco a tinta da caneta.
A luz azul que percorria as extremidades do teto desapareceu, deixando Miguel novamente no quarto parcialmente escuro, até que outra luz invadiu o ambiente.
Tal luz veio diretamente da porta, que, ao ser aberta pelo dono da casa, fez Miguel largar a fotografia, cerrar os punhos e avançar contra o velho, desejando batê-lo com a ínfima força que possuía nos braços franzinos.
Naquele dia, entretanto, Miguel nem sequer conseguiu tocar o corpo do velho, que se tornou o mestre dele e desenvolveu em pouco tempo os braços franzinos dele.
Miguel havia aceitado o árduo trabalho de despertar o próprio Poder Espiritual e desde o dia da aceitação privou-se da própria voz.
Cinco anos mais tarde, ele conseguiu atingir o desejado soco daquele dia contra o velho, que, no entanto, pôs o chapéu a sua própria defesa, como um escudo tão eficiente quanto o de um soldado da era medieval.
Miguel sentiu a mão ter atingido uma rocha de calcário e não um simples chapéu de palha. Por sorte, seu corpo já não era mais o mesmo. Ele estava crescido e forte. Nutrido de muito treinamento e alimentos naturais. Já se sentia forte e, em pensamentos, afirmava-se exaustivamente estar pronto para partir daquela pequena e velha cabana em busca do seu maior objetivo de vida: reencontrar os amados pais.
— Você ainda não está pronto — disse o mestre, atingindo o corpo suado e sem camisa de Miguel com uma esfera de energia azul-anil, que o fez cair a metros de distância. — Enquanto eu não disser que está pronto, você não poderá deixar esta casa, a menos que ela seja destruída.
Miguel deu ouvidos somente à última parte da fala dita pelo mestre. E, por dezenas de vezes, tentou destruir aquela sortuda construção, que sempre era salva pelo dono, das chamas, das machadas, das grandes pedras lançadas por Miguel.
Nada do que ele fizesse poderia destruir aquela cabana, pois ao contrário do mestre, Miguel ainda não tinha poder especial algum, senão as habilidades marciais aprendidas e a razoável força dos músculos desenvolvidos pelos cinco anos de treinamento.
Numa manhã ensolarada, Miguel e o mestre foram pescar no mesmo rio que um dia quase se afogou. Lá, as águas estavam tranquilas, pois só se agitavam quando chovia, principalmente, forte.
Lançando o anzol para além do limite das águas, Miguel, sem camisa e descalço, demonstrou a insatisfação por participar da pescaria da qual pouco gostava, pois, passavam horas tentando pescar os quase inexistentes peixes que havia ali.
— Não seja tão agressivo, Miguel — disse o mestre. — Pescar também faz parte do seu treinamento, pois se não sabe nem ao menos lançar um anzol com exatidão, como poderá lançar objetos com precisão contra o seu oponente.
Miguel, por sua vez, lançou a vara de pescar no rio e levantou-se da rocha onde estava sentado. Saltou para a margem do rio e, ignorando a ordem do mestre de permanecer na pescaria, deixou o local, adentrando a vegetação ao redor.
— Eu nunca tive um aprendiz tão teimoso e inquieto quanto esse — murmurou o mestre Zen consigo mesmo, persistindo com a ineficaz pescaria por mais um tempo, em que passou a assobiar, como se com isso fosse atrair os limitados peixes. — Hoje o rio não está pra peixe — aceitou a realidade, recolhendo o anzol e, por meio da levitação, trouxe de volta a vara de pescar de Miguel e uma dúzia de peixes que também flutuaram, para sua surpresa. — Vejam só, eu estava enganado! Olha só quantos peixes! Aquele meu aprendiz vai ter uma surpresa quando ver o que eu peguei de peixes.
O mestre Zen retirou o chapéu de palha da cabeça e pôs os peixes no interior do objeto, que cresceu e se expandiu para baixo, transformando -se visualmente de um chapéu para um cesto de palha.
Enquanto retornava à cabana, uma repentina neblina parecia aumentar à medida que ele se aproximava ainda mais da pequena moradia. Estranhando a situação, o mestre Zen saltou sobre a copa de uma árvore de onde enxergou com clareza a fumaça que emanava da velha casa em chamas.
— Aquele rapaz conseguiu me enganar desta vez — resmungou, irritado, o mestre Zen, salvando de uma árvore a outra com as varas de pescar numa mão e, por debaixo do outro braço, carregava o tal cesto de peixes. — Miguel! — gritou ao alcançar o destino. — Eu disse pra nunca mais tentar queimar a minha casa! — colocou as coisas de lado e, utilizando o próprio Poder Espiritual, quis apagar as chamas, salvar o que ainda restava da moradia, mas Miguel o impediu desta vez, enfrentando-o de igual para igual, graças às técnicas especiais descritas num dos antigos livros do mestre.
Os dois lutaram por um longo tempo, lançando rajadas de energia azulada de um lado a outro, anulando o ataque um do outro e trocando golpes marciais tanto em terra quanto no ar.
Miguel havia se preparado às escondidas para aquele momento em que não conseguiu ver o mestre durante a parte final da luta, mas já havia conseguido atingir o objetivo de destruir a casa dele.
No momento em que estavam no ar, o mestre Zen ficou invisível e, surgindo atrás do aprendiz, atingiu-o com um forte soco envolto de uma energia azul-anil contra o meio das costas desnudas de Miguel, que caiu daquela certa altura, marcando o solo com o formato do próprio corpo, como uma rocha abrindo um buraco no local atingido.
— Eu não quero que use essas técnicas apelativas — disse o mestre Zen, aproximando-se de Miguel, entre a consciência e a inconsciente devido ao golpe sofrido. — Se um dia você quiser levitar algo ou a si mesmo, ficar invisível, ler mentes, lançar rajadas de energia pelas mãos, terá primeiro de despertar o seu próprio Poder Espiritual e o elevar ao limite a partir do treino físico e da meditação diária — acrescentou, apagando da memória de Miguel o conhecimento adquirido do livro do Poder Espiritual Temporário que ele nunca deveria ter tocado.
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Atualizado até capítulo 102
Comments
Imaculada Abreu
realmente muito estranha esta estória.
infelizmente parei de ler
2023-10-29
0
Sirlei Santos
que história estranha nunca tinha lendo um livro tão estranha
2022-10-17
2