Capítulo 17 – O Velho da Cabana

Debatendo-se contra a água, Miguel era carregado pela correnteza. Não sabendo nadar, estava a se afogar, ao passo que gritava por socorro.

Da mesma forma que havia aquelas enormes rochas conectando uma extremidade do rio com a outra, logo à frente, outras se tornaram visíveis aos olhos desesperados do menino.

Se não fosse uma estranha e repentina força o puxando para fora do rio, ele teria se chocado contra aquelas rochas duas vezes maiores que as anteriores.

Um ser trajando um manto branco havia saltado por cima do rio e, em pleno voou, puxou Miguel pela gola da camisa, para fora das águas agitadas, pondo-o em terra molhada, mas firme, onde ele tossiu e lançou para fora uma porcentagem significante da água que havia ingerido.

Em seguida, seus olhos percorreram a paisagem chuvosa, avistando o manto sujo pela lama do local, de quem o salvou. E, ao elevar o olhar com a mão a proteger os olhos, Miguel espantou -se ao ver que a repentina pessoa era o velho da cabana, que, com exceção do cachimbo e das roupas, permanecia com o mesmo chapéu de palha na cabeça.

— Menino, pelo visto não seguiu o que eu lhe disse — resmungou o velho, incomodado pelo engrossar da chuva.

Ainda sentado no chão enlameado, Miguel murmurou algumas vezes o nome dos pais, até que, de repente, espirrou três vezes seguidas.

— Vamos voltar pra cabana — disse o velho. — O seu corpo ainda não está preparado pra este tempo.

— Não vou — recusou-se Miguel, levantando-se do chão. — Eu vou é pra minha casa.

— E por acaso sabe qual é o caminho?

Miguel olhou ao redor e, mentindo a si mesmo, afirmou: — Sei sim. É por ali — apontou na direção das árvores mais espaçadas.

— Não aprendeu que não falar a verdade é falta de bons modos? — retrucou o velho, lançando-lhe um olhar sério. — Se não quiser que eu te carregue nos braços, é melhor me acompanhar.

— Nem nos seus braços e nem andando, eu não vou voltar para aquela cabana — disse Miguel, seguindo rumo ao caminho que havia apontado.

— Eita menino teimoso! — resmungou o velho consigo mesmo, lançando por trás dele uma rajada de energia azul-anil que fez Miguel cambalear até desabar devido a um repentino e pesado sono.

Antes que ele tombasse no chão, o velho fez o corpo dele flutuar a um palmo do solo molhado e, assim, levitando-o, transportou-o de volta à cabana, onde o prendeu num quarto vazio, sem móveis ou objeto algum, com exceção de um colchonete sobre o qual Miguel foi colocado.

A única iluminação que havia naquele quarto era provinda das frestas da janela trancada e de um trio de telhas transparentes. Imagine despertar num quarto parcialmente escuro e sem opções de saída.

Foi sob essas circunstâncias que Miguel despertou e se agitou, pois, como adolescente que era, sentiu-se como uma fera enjaulada e, contra a porta e a janela, usou a força para abrir uma das duas, mas não conseguiu remover o cadeado da janela, tampouco abrir a fechadura da porta.

— Por que está fazendo isso comigo? — indagou Miguel, prendendo o choro, que acabou por se converter em zanga. — Abre a porta, seu velho!

E, por várias vezes agrediu a porta e a janela, gritando cada vez mais alto ao ponto de incomodar a tranquilidade do dono da casa, que, ao se aproximar da porta, explicou:

— Quando aprender a ter bons modos e a não se deixar dominar pelas próprias emoções, poderá sair desse quarto.

— Me deixa sair! — pediu Miguel pela centésima vez, ignorando tudo que o velho dizia. — Por que me sequestrou?

— Ouça, menino. Eu não sequestro pessoas, eu treino pessoas para poderem despertar de seu próprio interior um poder dado a todos, mas que nem todos conseguem ter acesso ao que já possuem. Agora, se quer uma resposta do porquê você está aqui, então eu tenho algo para lhe entregar.

A voz do velho cessou, e Miguel, encostado na porta, ouviu os passos dele se distanciando, mas logo se reaproximando e, por debaixo da porta, surgiu uma fotografia.

Miguel a pegou e, sob a pouca luz que adentrava o ambiente conforme a chuva ia cessando e o sol desejando surgir, teve ele uma surpresa ao notar que era uma fotografia sua com os pais ao lado de si. A vontade que lhe deu, porém, foi de rasgá-la e continuar as fúteis tentativas de derrubar a porta. Contudo, o velho lhe afastou essa má vontade ao dizer:

— Não se concentre só na imagem. Tem uma mensagem escrita para você no verso.

— Eu já vi — retrucou Miguel —, mas está escuro demais pra ler.

De repente, o interior do quarto se tornou iluminado por uma estranha luz azul que percorria uma extremidade a outra do teto.

Deveras, Miguel ficou assustado, mas o desejo de saber o que estava escrito no verso da fotografia lhe bateu mais forte o peito, cujo coração não cessava a agitação.

Escrita com letra cursiva e tão suave que fez Miguel se lembrar de imediato da boa escritora que era a própria mãe, dizia a mensagem:

“Filho, lembra do velho da cabana, aquele das histórias que eu lhe contava à noite? Sim, o misterioso mestre Zen. Ele existe e tem tanto para ensiná.lo. Espero que um dia você possa perdoar eu e o seu pai por temos o deixado dessa forma com o mestre, sem nem ao menos termos comunicado antes e, principalmente nos despedimos. Saiba, porém, que nós vamos fazer de tudo, o máximo possível, para voltarmos do nosso trabalho e ir buscá-lo, mas, mesmo que não consigamos voltar para você, nunca esqueça, querido, que eu e o seu pai te amamos profundamente, como nada mais neste mundo material (Assinado: Mamãe).”

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Comments

Vanessa

Vanessa

Senti como se estivesse vendo o mestre dos magos ou o mestre das tartarugas ninja kkkkkkkkk

2023-03-27

1

Isabel francisco Rungo

Isabel francisco Rungo

é a granny kkkk

2023-01-16

1

.nizete

.nizete

interessante

2022-07-23

1

Ver todos
Capítulos
1 Capítulo 1 – O que é isso?
2 Capítulo 2 – Desafio de Racha
3 Capítulo 3 – Fim do Tempo
4 Capítulo 4 – Ação e Reação
5 Capítulo 5 – A Cliente
6 Capítulo 6 – Oculto Aos Olhos
7 Capítulo 7 – Estranho Remédio
8 Capítulo 8 – Esposa Sem Controle
9 Capítulo 9 – Par de Belas Pernas
10 Capítulo 10 – A Primeira Expurgação
11 Capítulo 11 – Destino ou Acaso?
12 Capítulo 12 – Amiga Irritada
13 Capítulo 13 – O Acordo
14 Capítulo 14 – Estátua Viva
15 Capítulo 15 – A Rainha
16 Capítulo 16 – Numa Manhã Chuvosa
17 Capítulo 17 – O Velho da Cabana
18 Capítulo 18 – O Início do Silêncio
19 Capítulo 19 – Mulher Bondosa
20 Capítulo 20 – Criança Demoníaca
21 Capítulo 21 – A Ilusão
22 Capítulo 22 – Que se Faça a Luz
23 Capítulo 23 – Promessas
24 Capítulo 24 – Não Há Espíritos
25 Capítulo 25 – O Telefonema
26 Capítulo 26 – Irmãos Sem Laços
27 Capítulo 27 – Sentimento Irresoluto
28 Capítulo 28 – Óculos Escuros
29 Capítulo 29 – Sei O Que Sinto
30 Capítulo 30 – Verde ou Vermelho?
31 Capítulo 31 – Outra Vez
32 Capítulo 32 – O Reencontro
33 Capítulo 33 – As Últimas Palavras
34 Capítulo 34 – Inevitável Descanso
35 Capítulo 35 – A Clínica
36 Capítulo 36 – Quase Um Espelho
37 Capítulo 37 – Novo Familiar
38 Capítulo 38 – Acalme-Me, Por Favor!
39 Capítulo 39 — O Altar Do Beijo
40 Capítulo 40 – A Primeira Vista
41 Capítulo 41 – O Retorno
42 Capítulo 42 – O Primeiro Atendimento
43 Capítulo 43 – O Convite
44 Capítulo 44 – Tudo Que Vai Volta
45 Capítulo 45 – Início de Noite
46 Capítulo 46 – Jantar Em Família
47 Capítulo 47 – Não Conte Ainda
48 Capítulo 48 – Além do Limite
49 Capítulo 49 – A Minha Vez
50 Capítulo 50 – A Proposta
51 Capítulo 51 – Sem Trânsito
52 Capítulo 52 – Três Batons
53 Capítulo 53 – Garras Ensaguentadas
54 Capítulo 54 – Amor de Homem Lobo
55 Capítulo 55 – O Fim do Bloqueio
56 Capítulo 56 – Só Uma Chance
57 Capítulo 57 – Garras Versus Agulhas
58 Capítulo 58 – Nem XX e Nem XY
59 Capítulo 59 – Sem Toques
60 Capítulo 60 – A Distração
61 Capítulo 61 – A Sombra
62 Capítulo 62 – Cura Por Acaso
63 Capítulo 63 – No Quarto
64 Capítulo 64 – Falta Saber
65 Capítulo 65 – Vida Normal
66 Capítulo 66 – Situação Delicada
67 Capítulo 67 – Fortes Emoções
68 Capítulo 68 – Prelúdio Ruim
69 Capítulo 69 – A Luz Apagou
70 Capítulo 70 – O Acidente
71 Capítulo 71 – Família Ferida
72 Capítulo 72 – Despertar do Dia
73 Capítulo 73 – Melhor Assim
74 Capítulo 74 – Um Tempo Distante
75 Capítulo 75 – A Esposa do Marido Misterioso
76 Capítulo 76 – Um Pedido
77 Capítulo 77 – A Visita
78 Capítulo 78 – Repentina Voz
79 Capítulo 79 – Novas Expurgações
80 Capítulo 80 – Ligações Perdidas
81 Capítulo 81 – A Emoção da Cela
82 Capítulo 82 – Inevitável Despertar
83 Capítulo 83 – O Percurso
84 Capítulo 84 – Eu Te Amo
85 Capítulo 85 – Trabalho Oculto
86 Capítulo 86 – O Grande Espírito
87 Capítulo 87 – Destruição da Matéria
88 Capítulo 88 – Duas Cabeças
89 Capítulo 89 – Ação Inesperada
90 Capítulo 90 – Em Casa
91 Capítulo 91 – Uma Confusão
92 Capítulo 92 – Os Curativos
93 Capítulo 93 – Um Novo Dia
94 Capítulo 94 – Café da Manhã
95 Capítulo 95 – Marcas Reveladas
96 Capítulo 96 – Evento Extraordinário
97 Capítulo 97 – A Vingança
98 Capítulo 98 – Os Disfarces
99 Capítulo 99 – Prelúdio do Fim
100 Capítulo 100 – A Força
101 Capítulo 101 – Amor Verdadeiro
102 Epílogo
Capítulos

Atualizado até capítulo 102

1
Capítulo 1 – O que é isso?
2
Capítulo 2 – Desafio de Racha
3
Capítulo 3 – Fim do Tempo
4
Capítulo 4 – Ação e Reação
5
Capítulo 5 – A Cliente
6
Capítulo 6 – Oculto Aos Olhos
7
Capítulo 7 – Estranho Remédio
8
Capítulo 8 – Esposa Sem Controle
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Capítulo 9 – Par de Belas Pernas
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Capítulo 10 – A Primeira Expurgação
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Capítulo 11 – Destino ou Acaso?
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Capítulo 12 – Amiga Irritada
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Capítulo 95 – Marcas Reveladas
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Capítulo 96 – Evento Extraordinário
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Capítulo 97 – A Vingança
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Capítulo 98 – Os Disfarces
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Capítulo 99 – Prelúdio do Fim
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Capítulo 100 – A Força
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Capítulo 101 – Amor Verdadeiro
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