Debatendo-se contra a água, Miguel era carregado pela correnteza. Não sabendo nadar, estava a se afogar, ao passo que gritava por socorro.
Da mesma forma que havia aquelas enormes rochas conectando uma extremidade do rio com a outra, logo à frente, outras se tornaram visíveis aos olhos desesperados do menino.
Se não fosse uma estranha e repentina força o puxando para fora do rio, ele teria se chocado contra aquelas rochas duas vezes maiores que as anteriores.
Um ser trajando um manto branco havia saltado por cima do rio e, em pleno voou, puxou Miguel pela gola da camisa, para fora das águas agitadas, pondo-o em terra molhada, mas firme, onde ele tossiu e lançou para fora uma porcentagem significante da água que havia ingerido.
Em seguida, seus olhos percorreram a paisagem chuvosa, avistando o manto sujo pela lama do local, de quem o salvou. E, ao elevar o olhar com a mão a proteger os olhos, Miguel espantou -se ao ver que a repentina pessoa era o velho da cabana, que, com exceção do cachimbo e das roupas, permanecia com o mesmo chapéu de palha na cabeça.
— Menino, pelo visto não seguiu o que eu lhe disse — resmungou o velho, incomodado pelo engrossar da chuva.
Ainda sentado no chão enlameado, Miguel murmurou algumas vezes o nome dos pais, até que, de repente, espirrou três vezes seguidas.
— Vamos voltar pra cabana — disse o velho. — O seu corpo ainda não está preparado pra este tempo.
— Não vou — recusou-se Miguel, levantando-se do chão. — Eu vou é pra minha casa.
— E por acaso sabe qual é o caminho?
Miguel olhou ao redor e, mentindo a si mesmo, afirmou: — Sei sim. É por ali — apontou na direção das árvores mais espaçadas.
— Não aprendeu que não falar a verdade é falta de bons modos? — retrucou o velho, lançando-lhe um olhar sério. — Se não quiser que eu te carregue nos braços, é melhor me acompanhar.
— Nem nos seus braços e nem andando, eu não vou voltar para aquela cabana — disse Miguel, seguindo rumo ao caminho que havia apontado.
— Eita menino teimoso! — resmungou o velho consigo mesmo, lançando por trás dele uma rajada de energia azul-anil que fez Miguel cambalear até desabar devido a um repentino e pesado sono.
Antes que ele tombasse no chão, o velho fez o corpo dele flutuar a um palmo do solo molhado e, assim, levitando-o, transportou-o de volta à cabana, onde o prendeu num quarto vazio, sem móveis ou objeto algum, com exceção de um colchonete sobre o qual Miguel foi colocado.
A única iluminação que havia naquele quarto era provinda das frestas da janela trancada e de um trio de telhas transparentes. Imagine despertar num quarto parcialmente escuro e sem opções de saída.
Foi sob essas circunstâncias que Miguel despertou e se agitou, pois, como adolescente que era, sentiu-se como uma fera enjaulada e, contra a porta e a janela, usou a força para abrir uma das duas, mas não conseguiu remover o cadeado da janela, tampouco abrir a fechadura da porta.
— Por que está fazendo isso comigo? — indagou Miguel, prendendo o choro, que acabou por se converter em zanga. — Abre a porta, seu velho!
E, por várias vezes agrediu a porta e a janela, gritando cada vez mais alto ao ponto de incomodar a tranquilidade do dono da casa, que, ao se aproximar da porta, explicou:
— Quando aprender a ter bons modos e a não se deixar dominar pelas próprias emoções, poderá sair desse quarto.
— Me deixa sair! — pediu Miguel pela centésima vez, ignorando tudo que o velho dizia. — Por que me sequestrou?
— Ouça, menino. Eu não sequestro pessoas, eu treino pessoas para poderem despertar de seu próprio interior um poder dado a todos, mas que nem todos conseguem ter acesso ao que já possuem. Agora, se quer uma resposta do porquê você está aqui, então eu tenho algo para lhe entregar.
A voz do velho cessou, e Miguel, encostado na porta, ouviu os passos dele se distanciando, mas logo se reaproximando e, por debaixo da porta, surgiu uma fotografia.
Miguel a pegou e, sob a pouca luz que adentrava o ambiente conforme a chuva ia cessando e o sol desejando surgir, teve ele uma surpresa ao notar que era uma fotografia sua com os pais ao lado de si. A vontade que lhe deu, porém, foi de rasgá-la e continuar as fúteis tentativas de derrubar a porta. Contudo, o velho lhe afastou essa má vontade ao dizer:
— Não se concentre só na imagem. Tem uma mensagem escrita para você no verso.
— Eu já vi — retrucou Miguel —, mas está escuro demais pra ler.
De repente, o interior do quarto se tornou iluminado por uma estranha luz azul que percorria uma extremidade a outra do teto.
Deveras, Miguel ficou assustado, mas o desejo de saber o que estava escrito no verso da fotografia lhe bateu mais forte o peito, cujo coração não cessava a agitação.
Escrita com letra cursiva e tão suave que fez Miguel se lembrar de imediato da boa escritora que era a própria mãe, dizia a mensagem:
“Filho, lembra do velho da cabana, aquele das histórias que eu lhe contava à noite? Sim, o misterioso mestre Zen. Ele existe e tem tanto para ensiná.lo. Espero que um dia você possa perdoar eu e o seu pai por temos o deixado dessa forma com o mestre, sem nem ao menos termos comunicado antes e, principalmente nos despedimos. Saiba, porém, que nós vamos fazer de tudo, o máximo possível, para voltarmos do nosso trabalho e ir buscá-lo, mas, mesmo que não consigamos voltar para você, nunca esqueça, querido, que eu e o seu pai te amamos profundamente, como nada mais neste mundo material (Assinado: Mamãe).”
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 102
Comments
Vanessa
Senti como se estivesse vendo o mestre dos magos ou o mestre das tartarugas ninja kkkkkkkkk
2023-03-27
1
Isabel francisco Rungo
é a granny kkkk
2023-01-16
1
.nizete
interessante
2022-07-23
1