Capítulo 16 – Numa Manhã Chuvosa

A chuva caía impetuosa sobre uma região distante da cidade mais próximo, Manauba, cidade vizinha de Angenopolis. Ali havia somente uma pequena cabana rodeada de frondosas e verdejantes árvores, e à frente da moradia, uma varanda, onde dormia um menino, deitado diante da porta de entrada, sob o frio daquele amanhecer sem sol, pois as nuvens carregadas não cessavam as agressivas lágrimas caindo do céu, ora em vertical, ora em diagonal quando o vento, vez que outra, soprava o ar gélido contra o rosto do menino, que, não tardando a sentir a ponta do nariz congelar, despertou dando um abrupto espirro.

— Atchim!

Ele roçou o nariz e um novo espirro se sucedeu antes que pudesse perceber que se encontrava num lugar desconhecido, sem a ciência de como havia chegado ali, pois se lembrava somente de ter ido dormir no próprio quarto após ordenarem os pais quando o jogo de cartas que estavam jogando sobre a pequena mesa da sala de estar havia chegado ao fim da última partida.

"Agora vá dormir, Miguel, outro dia você terá a oportunidade de ganhar também", rememorou o menino a fala do pai e o riso dele, tal como o carinho da mãe, que o acompanhou até o quarto. “Durma bem, meu filho. A mamãe te ama.”

O menino levantou-se do chão e andou de um lado a outro da varanda, tentando avistar alguém mais além de si mesmo. Mas nem sequer havia um inseto avista devido ao tempo chuvoso e gélido.

Diante disso, ele começou a chamar pelos pais. Assustado, bateu na porta, chamando ainda mais alto:

— Pai! Mãe!

Continuou a chamá-los, à medida que lágrimas começavam a escorrer por seu rosto de adolescente, pois havia recentemente completado doze anos e, com a força que lhe dispunha nos músculos em desenvolvimento, bateu ainda mais forte na coitada da porta, que, assustando-o ainda mais, foi aberta por um velho de olhos estreitos e enrugados, barba comprida e grisalha, testa franzida e chapéu de palha sobre a cabeça de cabelos longos e brancos como a neve.

O velho trajava calças de cintura alta, camisa social de mangas longas e sandálias de couro e, sobretudo, portava consigo um cachimbo sob os lábios úmidos.

— Menino, não aprendeu a ter bons modos? — questionou o velho, repreendendo-o. — Não se pode bater assim na porta dos outros.

— Quem é o senhor? — perguntou Miguel, que não se lembrava de já tê-lo visto na vida.

Na verdade, era a primeira vez que ele estava vendo o velho da cabana que ouvia ser narrada pelos pais em histórias fantásticas de um homem que combatia o mal que ninguém mais podia ver devido à cegueira provocada pelos maus desejos e pensamentos.

— Menino, primeiro se diz “bom dia!”, depois se fala ou pergunta o que deseja saber — retrucou o velho. — Espero que não esqueça disso da próxima vez.

O velho se aproximou da beira da varanda e pôs uma mão à frente do corpo, sentindo as gotas de chuva atingi-la, ao passo que permanecia tragando o ópio do cachimbo e, o menino, confuso, o observava com certo receio de falar algo a mais depois do que ouviu.

— Aproxime-se — pediu o velho.

Miguel atendeu ao pedido, mas com uma certa lentidão, como se fosse tímido, mas não havia timidez nele senão uma gama de pensamentos e desejos eufóricos de ver os pais.

— Repita o que estou fazendo. Toque-a também — orientou o velho.

Vagarosamente, Miguel estendeu uma mão diante do corpo, pondo-a em contato com as gotas de chuva e com as gotas que caíam da biqueira das velhas e escuras telhas do telhado.

— Perceba como são magníficas as gotas de chuva — disse o velho, ora fitando Miguel, ora fitando a própria mão, na qual escorria as gotas da chuva. — Elas não param diante de um obstáculo em seu destino, neste caso o solo deste lugar, pois, em vez disso, contornam esse obstáculo com maestria e, assim, alcançam ou continuam a seguir.

No rosto de Miguel a incompreensão era nítida. Parecia que o velho havia falado diversas coisas num outro idioma. Contudo, não era nada disso que o menino desejava ouvir, pois, antes de ele baixar o braço e sair correndo, o velho explicou:

— Você deve ser como uma gota de chuva submetida a um obstáculo.

Miguel, por sua vez, adentrou a chuva, pisando seus sapatos sobre as poças d'água formadas no solo relvado. Distanciando-se do velho, que não o chamou, nem sequer correu atrás dele. Em vez disso, retirou o cachimbo da boca, cuspiu no solo molhado pela chuva e então retornou ao interior da cabana, fechando a porta que não desejava que tivesse sido aberta.

Enquanto isso, corria Miguel entre as árvores, saltando sobre as raízes, arriscando escorregar e cair no solo molhado. Contudo, não desistiu de alcançar a saída daquela floresta, almejando chegar a casa dos pais, localizada a muitos quilômetros dali.

Ele só parou de correr quando chegou à beira de um rio agitado, que cortava o seu caminho. No interior das águas correntes haviam rochas enormes que de certa forma ligavam as margens do rio.

Sem pensar muito, Miguel tomou a escolha de saltar sobre elas, pulando de uma para a outra, visando chegar ao outro lado do rio.

Ele, então, pulou sobre mais uma das rochas e, balançando o corpo em busca de equilíbrio, quase caiu na correnteza do rio.

Por muito pouco, conseguiu manter o equilíbrio e, restando só mais duas rochas, preparou-se para saltar e saltou no mesmo instante que as águas cobriram a pedra, fazendo Miguel perder a confiança e o equilíbrio ao ponto de cair nas águas e ser levado rio abaixo.

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Comments

Alexandra Moreira da Silva

Alexandra Moreira da Silva

estranho esse capítulo

2022-09-16

3

Rosmari Furlanetto

Rosmari Furlanetto

hummmm

2022-09-06

1

.nizete

.nizete

voltando a leitura

2022-07-23

1

Ver todos
Capítulos
1 Capítulo 1 – O que é isso?
2 Capítulo 2 – Desafio de Racha
3 Capítulo 3 – Fim do Tempo
4 Capítulo 4 – Ação e Reação
5 Capítulo 5 – A Cliente
6 Capítulo 6 – Oculto Aos Olhos
7 Capítulo 7 – Estranho Remédio
8 Capítulo 8 – Esposa Sem Controle
9 Capítulo 9 – Par de Belas Pernas
10 Capítulo 10 – A Primeira Expurgação
11 Capítulo 11 – Destino ou Acaso?
12 Capítulo 12 – Amiga Irritada
13 Capítulo 13 – O Acordo
14 Capítulo 14 – Estátua Viva
15 Capítulo 15 – A Rainha
16 Capítulo 16 – Numa Manhã Chuvosa
17 Capítulo 17 – O Velho da Cabana
18 Capítulo 18 – O Início do Silêncio
19 Capítulo 19 – Mulher Bondosa
20 Capítulo 20 – Criança Demoníaca
21 Capítulo 21 – A Ilusão
22 Capítulo 22 – Que se Faça a Luz
23 Capítulo 23 – Promessas
24 Capítulo 24 – Não Há Espíritos
25 Capítulo 25 – O Telefonema
26 Capítulo 26 – Irmãos Sem Laços
27 Capítulo 27 – Sentimento Irresoluto
28 Capítulo 28 – Óculos Escuros
29 Capítulo 29 – Sei O Que Sinto
30 Capítulo 30 – Verde ou Vermelho?
31 Capítulo 31 – Outra Vez
32 Capítulo 32 – O Reencontro
33 Capítulo 33 – As Últimas Palavras
34 Capítulo 34 – Inevitável Descanso
35 Capítulo 35 – A Clínica
36 Capítulo 36 – Quase Um Espelho
37 Capítulo 37 – Novo Familiar
38 Capítulo 38 – Acalme-Me, Por Favor!
39 Capítulo 39 — O Altar Do Beijo
40 Capítulo 40 – A Primeira Vista
41 Capítulo 41 – O Retorno
42 Capítulo 42 – O Primeiro Atendimento
43 Capítulo 43 – O Convite
44 Capítulo 44 – Tudo Que Vai Volta
45 Capítulo 45 – Início de Noite
46 Capítulo 46 – Jantar Em Família
47 Capítulo 47 – Não Conte Ainda
48 Capítulo 48 – Além do Limite
49 Capítulo 49 – A Minha Vez
50 Capítulo 50 – A Proposta
51 Capítulo 51 – Sem Trânsito
52 Capítulo 52 – Três Batons
53 Capítulo 53 – Garras Ensaguentadas
54 Capítulo 54 – Amor de Homem Lobo
55 Capítulo 55 – O Fim do Bloqueio
56 Capítulo 56 – Só Uma Chance
57 Capítulo 57 – Garras Versus Agulhas
58 Capítulo 58 – Nem XX e Nem XY
59 Capítulo 59 – Sem Toques
60 Capítulo 60 – A Distração
61 Capítulo 61 – A Sombra
62 Capítulo 62 – Cura Por Acaso
63 Capítulo 63 – No Quarto
64 Capítulo 64 – Falta Saber
65 Capítulo 65 – Vida Normal
66 Capítulo 66 – Situação Delicada
67 Capítulo 67 – Fortes Emoções
68 Capítulo 68 – Prelúdio Ruim
69 Capítulo 69 – A Luz Apagou
70 Capítulo 70 – O Acidente
71 Capítulo 71 – Família Ferida
72 Capítulo 72 – Despertar do Dia
73 Capítulo 73 – Melhor Assim
74 Capítulo 74 – Um Tempo Distante
75 Capítulo 75 – A Esposa do Marido Misterioso
76 Capítulo 76 – Um Pedido
77 Capítulo 77 – A Visita
78 Capítulo 78 – Repentina Voz
79 Capítulo 79 – Novas Expurgações
80 Capítulo 80 – Ligações Perdidas
81 Capítulo 81 – A Emoção da Cela
82 Capítulo 82 – Inevitável Despertar
83 Capítulo 83 – O Percurso
84 Capítulo 84 – Eu Te Amo
85 Capítulo 85 – Trabalho Oculto
86 Capítulo 86 – O Grande Espírito
87 Capítulo 87 – Destruição da Matéria
88 Capítulo 88 – Duas Cabeças
89 Capítulo 89 – Ação Inesperada
90 Capítulo 90 – Em Casa
91 Capítulo 91 – Uma Confusão
92 Capítulo 92 – Os Curativos
93 Capítulo 93 – Um Novo Dia
94 Capítulo 94 – Café da Manhã
95 Capítulo 95 – Marcas Reveladas
96 Capítulo 96 – Evento Extraordinário
97 Capítulo 97 – A Vingança
98 Capítulo 98 – Os Disfarces
99 Capítulo 99 – Prelúdio do Fim
100 Capítulo 100 – A Força
101 Capítulo 101 – Amor Verdadeiro
102 Epílogo
Capítulos

Atualizado até capítulo 102

1
Capítulo 1 – O que é isso?
2
Capítulo 2 – Desafio de Racha
3
Capítulo 3 – Fim do Tempo
4
Capítulo 4 – Ação e Reação
5
Capítulo 5 – A Cliente
6
Capítulo 6 – Oculto Aos Olhos
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Capítulo 7 – Estranho Remédio
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Capítulo 8 – Esposa Sem Controle
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Capítulo 9 – Par de Belas Pernas
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Capítulo 10 – A Primeira Expurgação
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Capítulo 96 – Evento Extraordinário
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Capítulo 97 – A Vingança
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Capítulo 98 – Os Disfarces
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Capítulo 100 – A Força
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