Cadeiras luxuosas situavam-se no centro daquela imensa sala de entrada quase toda cristalizada. Havia lustres e candelabros remetendo a um verdadeiro palácio, além de uma coleção de espadas de esgrima suspensas num painel preso a uma das paredes brancas.
Miguel sentou-se numa das cadeiras e ali ficou à espera de Laura Anjos, que chegou ao local na companhia da tal Rainha e do samurai que guardava a retaguarda das duas.
— É um prazer revê-lo, senhor Luz — disse Laura, recebendo de Miguel, que se levantou da cadeira, uma cordial reverência à distância. — Veja o meu rosto — sorriu, chamando a atenção à beleza de seu suave e belo rosto. — Desde que aplicou aquela coisa em mim, sinto que fiquei até mais jovem! Poderia fazer mais daquele produto para mim?
— Talvez — disse Miguel —, mas não é tão simples fazê-lo — ressaltou.
— Ah! Com certeza não deve ser — concordou Laura em tom brando. — Pela demora que me fez passar ontem na recepção daquela empresa.
Sentindo-se ignorada, a mulher ao lado de Laura pigarreou, visando atrair a atenção de Laura, que já falava em pagar milhares em dinheiro para que Miguel produzisse um pouco mais do estranho, gosmento, amarelecido, nojento, mas milagroso remédio de pele.
— Assim que ele estiver pronto, ligue-me e eu mandarei pegá-lo onde desejar e, então, depositarei o dinheiro na sua conta — acrescentou Laura, recebendo de Miguel o aceite da proposta. — Agora deixe-me apresentá-lo à minha irmã mais velha e esposa do meu primo Leonardo Serra.
Ambas irmãs tinham uma certa similaridade, mas eram muito distintas em cores.
Não obstante, a irmã mais velha de Laura, conhecida como Rainha devido ao seu jeito de ser e agir, deu um passo à frente, esbanjando seu brilho real. Era ela uma mulher ainda jovem, mas por ser tão apaixonada pela cor branca, tanto seu vestido quanto seus cabelos longos eram embranquecidos e ao lado da irmã mais nova, surgiu diante de qualquer olhar um forte contraste de cores por uma estar totalmente de branco, e a outra de vermelho.
— Não preciso de apresentações — cortou a Rainha a fala de Laura. — Tenho certeza de que ele já me conhece. É provável que já nos tenhamos visto em outras ocasiões, não estou certa, senhor Luz?
— Não — disse Miguel, fitando-a com sinceridade. — Esta é a primeira vez que estou lhe vendo.
De imediato, a Rainha desviou o olhar dele para Laura, que disse:
— Então, este é um bom momento para conhecê-la.
— Desculpe, senhorita Anjos, mas eu só vim aqui pelo que eu lhe pedi — ressaltou Miguel, apressando a situação. — Será que pode me entregá-lo logo, porque estou com o carro da minha sogra e se eu não devolvê-lo em uma hora, ela vai ficar uma fera comigo.
— Mas que ousado — murmurou a Rainha, que virou o corpo e, andando na direção da porta por onde tinham vindo, passou ao lado do samurai, ordenando em sussurros: — Mate-o.
Laura estranhou a repentina ação da irmã, mas por não ouvir os sussurros dela, considerou a situação normal ao ponto de pedir que Miguel se sentasse novamente e aguardasse o retorno dela com o mencionado pedido.
Laura deixou o local, tal como a Rainha que a acompanhou para outro cômodo daquela enorme casa.
Nesse meio tempo, o samurai permaneceu parado, olhando para Miguel com um olhar vidrado, como alguém que olha para algo quase sem piscar os olhos.
— Por que tanto me olha? — quis saber Miguel, sentindo-se desconfortável.
— A-As suas mãos! — gaguejou o samurai.
— O que tem as minhas mãos?
Miguel as analisou e não notou nada de incomum senão o samurai que ficou abismado com a naturalidade e tranquilidade dele, tratando como algo natural ter as mãos cortadas e as feridas se curarem num curto período.
— Qual o seu segredo? — indagou o samurai, intrigado.
— Segredo? — riu Miguel. — Se quer saber sobre o sumiço dos cortes nas minhas mãos, não há segredo algum, pois como disse uma vez o meu mestre, a partir do despertar do Poder Espiritual, o corpo tende a se curar mais rápido, a força física se torna manipulável ao pondo de ser possível transferi-la completamente a um só músculo do corpo e, além disso...
Miguel completou seu raciocínio em pensamentos, que também foram ouvidos pelo samurai.
— Espíritos Malignos? — questionou-se o samurai. — Como eles poderiam ser nossos inimigos, se não podem tocar a matéria?
— Certamente, não podem tocá-la — concordou Miguel —, mas podem influenciá-la. E, isso é ainda pior, pois eles se aproveitam da fragilidade física e emocional de muitos seres humanos pra induzi-los a cometer lamentáveis atos contra a própria pessoa ou contra outras pessoas.
O samurai permaneceu parado na mesma posição, sentindo martelar em sua cabeça coberta por um capacete de couro a ordem da Rainha, mulher para a qual estava vinte e quatro horas a protegê-la, já que rondavam boatos pela cidade de que a vida dela corria perigo devido ao que ela fazia em segredo antes de ser descoberta.
Notando a distância em que se pôs o samurai em pensamentos, Miguel o trouxe de volta, indagando-o, amigavelmente:
— O que te incomoda?
De início, o samurai hesitou em responder, mas, pensando na ordem curta, clara e direta, permitiu-se revelar a verdade antes de tomar alguma ação a respeito dela, dizendo, com certo receio:
— Eu preciso matá-lo.
Miguel levantou-se da cadeira e se colocou defronte a ele. Havia uma curta distância entre os dois e, surpreendendo o samurai, disse Miguel:
— Pois venha… Mate-me…
— O quê!? Quer que eu lhe mate? — questionou o samurai.
— É uma possibilidade. — Miguel deu dois passos à frente, encurtando ainda mais a distância entre ambos. — No entanto, devo lhe deixar claro que não é fácil matar um ser humano que deseja, anseia, almeja, viver enquanto seu maior objetivo de vida não for obtido — acrescentou, com um olhar veemente, deixando o samurai ainda mais indeciso quanto a obediência ou não da ordem recebida.
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Atualizado até capítulo 102
Comments
Gabs
ja vi que ganhou um discípulo
2023-02-23
2
Rosmari Furlanetto
simm
2022-09-06
1