Miguel retornou a recepção da empresa, onde as mesmas pessoas o aguardavam, sentados ou em pé, já que não havia cadeiras para todos.
Ao vê-lo, Laura Anjos, três vezes mais impaciente que o início, reclamou de imediato o longo período de espera, sem nem sequer suspeitar do que havia ocorrido lá, no laboratório.
— O que é essa coisa escura? — indagou ela, apontando o produto gosmento que Miguel portava em mãos. — Não pensou mesmo que eu fosse pôr isso no meu rosto?
Antes de respondê-la, Miguel aproximou-se dela, erguendo o recipiente do produto que de aparência não agradava em nada os olhos de ninguém, principalmente os de Laura.
— Não se preocupe — disse ele —, eu mesmo coloco.
Atirou, então, o produto no rosto de Laura, surpreendendo também os olhares ao redor de si e dela, que mal teve tempo de fechar a boca contra a aplicação da última coisa que desejava pôr no próprio rosto.
Cuspindo a fração que ultrapassou seus finos lábios vermelhos, Laura tentou remover o produto com as mãos, fazendo expressões de nojo e inflando as bochechas de ar em sinal de raiva.
— O gosto é horrível mesmo — disse Miguel, tornando, apesar de não intencional, a situação ainda mais constrangedora a ela. — Não é um produto tóxico, mas eu não aconselho ingeri-lo — ressaltou em tom leviano.
Nesse mesmo instante, Teodoro já olhava de um lado a outro em busca de uma oportunidade para sair dali sem ser percebido, mas um dos policiais não tirava o olhar dele, tal olhar que transmitia segundas intenções e, por fim, uma piscadela carinhosa.
Eloisa, por sua vez, puxou o marido à parte e, perto do ouvido dele, gritou:
— Perdeu o juízo, foi!?
Miguel tocou o ouvido zumbindo por um momento e, direcionado o olhar a Laura, explicou que só queria ajudar.
— Eu nunca disse que daria certo — relembrou Miguel.
Eloísa adiantou-se a dar voz ao pensamento predominante: — Eu sabia que era uma péssima ideia ter te dado o meu crachá de autorização. Devolva-me aqui — estendeu a mão e recebeu o objeto de volta. — Agora vá embora!
Miguel continuava sendo o marido e servo de Eloísa, que o tratava como bem desejava.
Mesmo falando, a voz dele até então não mudou em nada a situação habitual do matrimônio e o conflito com a prima do prefeito local, Leonardo Serra.
Laura esfregou o rosto por dezenas de vezes até se dar por convencida de que aquela gosma estranha e amarelecida não saía de forma alguma. Por isso, ficou mais embravecida do que já estava, pois, se já era motivo de risos, tornou-se ainda mais cômica a situação dela entre os funcionários curiosos ao redor.
— Você piorou a minha situação! — reclamou aos gritos. — Agora esta coisa gosmenta também não sai do meu rosto.
— Talvez saia com água...
— Talvez!? — Revoltada, ordenou: — Policiais, prendam-nos!
Miguel, Eloísa e Teodoro foram presos, assim como fora acordado no caso d'ele falhar na cura. Foram então os três levados à viatura policial estacionada em frente a empresa.
Nesse ínterim, Laura chegou às pressas ao banheiro e, abrindo desesperadamente a torneira, lavou o rosto, esfregando-o com toda pressa e revolta do mundo.
Pensamentos de que nunca mais pudesse ter um belo rosto afligiam-na ao ponto de fazê-la chorar enquanto continuava a esfregar o rosto em contato com a água até quando, gradualmente, foi sentindo algo diferente, uma sensação inesperada.
A aspereza do rosto de Laura diminuiu ao ponto de ela sentir uma maciez nunca obtida com produto algum de beleza e, quando se olhou fixamente no espelho do banheiro, cessou o choro e, em seguida, saltou de felicidade ao notar que estava tão linda e jovem como nunca.
Tanto a gosma estranha quanto as bolhas vermelhas foram removidas após o contato com a água e, murmurando consigo mesma, concluiu:
— Não é que funcionou! — sorriu, alegremente. — Aquele rapaz conseguiu, e eu… — lembrou-se, de súbito. — Mandei prendê-los!
Miguel foi o primeiro a ser colocado na viatura e, como um papagaio a irritar os ouvidos de alguém, Teodoro irritou os ouvidos de Eloisa.
— Eu disse que tinha uma solução, mas esse seu marido estranho estragou tudo, agora estamos sendo presos por culpa dele.
— Cala a boca! — disse ela, fazendo Teodoro encolher os ombros. — Se tem alguém aqui que está mais indignada com aquele idiota, esta sou eu, se ele não tivesse...
— Esperem! — Laura correu ao encontro deles e, mesmo ofegando muito devido à corrida, conseguiu se expressar. — Perdoem-me, por favor!
Ela foi de imediato ordenando que os policiais retirassem as algemas deles e, diante de Miguel, reverenciou-se em sinal de profundo arrependimento.
— Eu estava errada sobre você — ergueu os grandes olhos arrependidos. — Diga-me o que quer de mim? Qualquer coisa em troca da minha redenção.
Miguel, por sua vez, sorriu e seus olhos brilharam. Era ela, pois, mais uma a lhe dever um pedido.
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Atualizado até capítulo 102
Comments
mel souza
kkk quero é ver quem vai ser o capacho agr bb
2023-11-28
0
Jossileide cardeal
espertinho ele não??? kkkkkkkkkkkkk
2022-09-27
6
Rosmari Furlanetto
uauu
2022-09-06
1