Eloísa Sousa, gerente de produção da Beleza dos Anjos, maior empresa de cosméticos da cidade de Anginópolis, veio a ser processada por Laura Anjos, prima do até então prefeito de Anginópolis, Leonardo Serra. A justificativa do processo se dava pelos efeitos colaterais adquiridos com o uso dos produtos de beleza fiscalizados por Eloísa, que, segundo a acusadora, deveria ter impedido que isso pudesse ocorrer com uma de suas clientes mais fiéis.
— Veja só o meu rosto!
Todos que ali se estavam viam nitidamente o rosto prejudicado de Laura, que trouxera à empresa uma dupla de policiais dos quais um portava em mãos o mandado de prisão, e o outro um par de algemas prontas para algemar Eloísa.
— Vai pagar na prisão, vendo o sol nascer quadrado por longos anos, o que fez com o meu lindo rosto! — completou Laura, em seu estado de excessiva revolta.
— Senhorita, sentimos muito que isso lhe tenha acontecido.
— Não me venha com essa lábia fraca — retrucou a ruiva, ainda mais insatisfeita, pois, detalhe seja ressaltado, o rosto dela estava tão vermelho e recheado de tantas bolhas de sangue que ninguém se ousava a chegar perto dela devido ao medo de que fosse algo contagioso. — O que vocês dois estão esperando? Prendam-na!
Miguel chegou à recepção enrabichado por Teodoro, que prometeu à senhora Sousa resolver a situação e impedir que Eloísa fosse presa.
— A senhorita não pode acusá-la sem provas — disse Teodoro, que de um dos policiais recebeu uma pasta cheia de laudos médicos e uma cópia do mandado de prisão de Eloísa. — Certo, certo, entendi… Mesmo assim, prende-lá não vai curar esse rosto horrível.
Laura recolheu-se em pensamentos por um momento.
“Ele tem razão”, preocupou-se, pois até então suas energias estavam centradas em punir a suposta responsável. “Eu não quero ficar com esse rosto para sempre… um rosto horrível?”
— Policiais, prendam-no também!
— Espera, o quê!?
— Não ouviram a ofensa que ele acabou de me fazer?
Miguel até então se mantinha oculto aos olhos de Eloísa. Ele deu alguns passos à frente e, rompendo o diálogo entre a mulher que achava conseguir tudo com seu jeito manhoso de ordenar e o homem que falava resolver tudo com seu jeito ousado de se mostrar, Miguel ouviu soar dos funcionários comentários, como:
“Aquele não é o homem sustentado pela esposa?”
“Ouvi dizer que ele é mudo.”
“Não era louco?”
— Miguel, o que faz aqui? — indagou Eloísa, trajando seu blazer e saia de seda e elegantes sapatos de salto alto.
Pôs ela uma mexa do longo cabelo castanho por trás da orelha que também ouviu com surpresa e nitidez a voz de Miguel pela primeira vez.
— Não crie mais drama, senhorita — pediu Miguel, aproximando-se de Laura. — Eu posso resolver o seu problema, se prometer que vai rasgar aquele mandato.
Eloísa, surpreendendo-se ao ouvi-lo falar, aproximou-se dele, embora o policial a dissesse para não se mover, ao passo que Laura, em pensamentos, indagou-se:
“Ele pensa que eu sou o quê? Idiota?”
E então, mais irritada com a situação, ela o retrucou, dizendo:
— Acha que pode mesmo me curar quando nem o melhor médico desta cidade conseguiu? Duvido! Você só quer salvar a pele daquela ali — apontou Eloísa.
— Se eu falhar, poderá me prender também, com ela e com aquele homem — referiu-se a Teodoro.
— Ei! Deixe-me fora disso — protestou Teodoro, que, ao notar o olhar de Eloísa se dirigindo a si, mudou o discurso. — Digo — pigarreou ele —, podemos chegar a uma solução sem envolver a polícia, não concordam?
Laura, por sua vez, aceitou a proposta de Miguel, ignorando a fútil diplomacia de Teodoro.
— Policiais, preparem outras algemas.
— O que está tentando fazer, Miguel? — questionou Eloísa em murmúrios a ele. — Por acaso perdeu a cabeça?
Miguel pôs-se diante dela, fitando-a de um jeito nunca demonstrado. No rosto dele estava estampado uma autoconfiança tão elevada, que a deixou balançada em dúvidas.
“Esse não pode ser o meu marido.”
— Preciso usar o laboratório — pediu Miguel a Eloísa. — Por favor, dê-me a autorização.
— Nem pensar, você não está habilitado para usá-lo.
A cada segundo passado a impaciência de Laura crescia ainda mais, ao ponto de ela cansar a demora.
— Vocês só estão me atrasando — retomou o tom de ordem. — Policiais, prendam-nos de uma vez!
— E então? — Miguel insistiu por mais uma vez. — É isso ou a prisão — concluiu diante dos belos olhos impressionados dela.
Adiante, carregando a incredulidade da esposa consigo, Miguel foi ao laboratório portando o crachá dela, que dava acesso aos ambientes mais internos da empresa, incluindo o laboratório, onde estavam trabalhando quatro pessoas arduamente.
— O que faz aqui? — indagou-o à porta o primeiro funcionário a quem Miguel sufocou o pescoço e, segurando-o pelo braço, lançou-o ao chão, num golpe similar ao judô.
Os demais funcionários perceberam o ocorrido e, uma das funcionárias foi quem acudiu o colega mais novo, afastando Miguel de cima dele.
— Você é louco!? — questionou ela, gritando: — Saia já daqui!
Encarando cada um deles, Miguel ressaltou seriamente: — Agora é inútil tentarem se esconder, pois… — continuou em pensamentos.
“Há dez anos, os meus pais desapareceram misteriosamente, e eu sabia que para reencontrá-los teria de enfrentar forças malignas que estão além do que os olhos mortais podem ver. Foi então que conheci o mestre que me treinou e me deu a oportunidade de despertar o Poder Espiritual adormecido numa região quase inacessível em nosso interior. Não faz nem muito tempo que o despertei e já consigo sentir os espíritos malignos que há neste laboratório, mas eu me pergunto: qual desses funcionários de fato está sendo possuído pelo mal?”
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Atualizado até capítulo 102
Comments
Imaculada Abreu
gostando muito
2023-10-29
5
Karina Kaley
esse livro é muy bueno
2023-01-16
1
Maria Jose de Oliveira Freitas da Silva
tô adorando
2022-10-01
1