...“Por um tempo, ele suportou desprezos e humilhações, não porque era fraco, mas sim, porque suas reações poderiam gerar trágicas e irreversíveis consequências.”...
Miguel já não era mais o mesmo, pois além de falar, reagiu como sempre desejou no período em que teve de abster-se da própria força. Em suma, completou-se, naquele horário de sol a pino, o tempo de repressão dos próprios desejos e vontades.
Miguel sentia o Poder Espiritual fluir em seu interior, como uma energia revigorante e impulsiva, que lhe deixava imune a qualquer desprezo externo, mas quanto a ofensas, sentia que estas não poderiam passar em branco.
Ainda caído sobre a cadeira, Teodoro pôs -se a recuperar o ar. O soco foi tão forte que por um momento pensou que fosse morrer. Após regulada a própria respiração, ele quis entender a situação, questionando com a voz trêmula:
— O que significa isso? — cuspiu um pouco de sangue que lhe veio a garganta. — Não me disse que ele era mudo, senhora Sousa?
Confuso, Teodoro passou a sentir certo receio por quem pouco conhecia de fato. Tanto medo que até temeu a aproximação de Miguel, que o levantou da cadeira pela gola da caríssima camisa do terno.
— Solte-me…
Havia tanta energia fluindo em seu corpo e força sendo concentrada nos braços que o próprio Miguel já pensava em medir o quanto estava forte, mas Teodoro parecia de longe ser um oponente adequado.
Nesse meio tempo, Taise permanecia distante em estado de perplexidade, como alguém tão surpresa que acaba por ser teletransportada a qualquer outro lugar que não seja o local onde se encontra. Por um momento, ela ficou incapaz de compreender a repentina e radical mudança de personalidade do cunhado, que era mudo, mas, então, já não era? Pensamentos confusos a atordoaram ainda mais.
Seria ele ainda o mesmo homem que se casou com Eloísa?
— Solte-o, Miguel — disse a senhora Sousa em seu habitual tom de ordem, porém, ao ser olhada seriamente pelo genro, acanhou-se, remansando a própria voz, falando lenta e suavemente. — Por favor, meu querido, não vamos criar brigas nesta casa.
Com certa frequência, Miguel ouvia a voz do mestre em súbitos pensamentos que, apesar de não identificar se eram de fato lembranças ou uma criação da própria imaginação, parava um instante para ouvi-los.
“Finalmente conseguiu despertar o seu Poder Espiritual”, disse a voz do mestre aos ouvidos do antigo aprendiz. “Mas cuidado, não esqueça da verdadeira razão pela qual o desejou despertá-lo. Use-o com sabedoria, pois para qualquer um dos lados que usá-lo, seja da luz, seja das trevas, haverá consequências e grandes poderão ser as reações a tudo o que fizer com ele. Sobretudo, todas elas serão de responsabilidade sua. Portanto, também esteja preparado para tais coisas.”
— Por acaso é surdo? — questionou Teodoro, agoniado por sentir a gola da camisa muito apertada. — Não ouviu a senhora Sousa pedir que me sol…
Antes que pudesse concluir, Miguel o largou sobre a cadeira, sem delicadeza alguma. Teodoro sentou-se tão bruscamente que a cadeira tombou para trás, levando-o de vez ao chão, onde gemeu em murmúrios a dor sentida e murmurou baixinho:
— Mudinho maluco…
— O que disse? — indagou Miguel, fazendo-o se tremer todo ao encará-lo à distância com um olhar semicerrado e um sorriso malicioso.
— Nada, nada não — respondeu gaguejando.
— Levante-se daí então.
Miguel estendeu-lhe a mão.
Entretanto, para Teodoro a ação dele não se tratava de uma ajuda, embora aparentasse ser uma gentileza genuína.
“Ele só está querendo me humilhar ainda mais, só porquê o quis tratar mal… esse mudinho de merda, ainda vai se ver comigo”, pensando assim, Teodoro recusou a ajuda e, mergulhado na própria arrogância, levantou-se por si mesmo.
Assim que Teodoro pôs-se em pé a limpar a própria vestimenta com as mãos, Taise retornou a si e, retomando a consciência sobre o ambiente diante de seus olhos, notou que sua mochila havia sido jogada no chão, como se fosse um mero pertence, uma mochila qualquer que podia ser largada onde bem-quisesse.
Revoltada com Miguel, brigou no mesmo instante, ignorando se ele era ou não a mesma pessoa de minutos antes de chegarem da universidade LC, gritou ela, zangada:
— Inútil, olha o que fez! — apontou o caríssimo e apreciado objeto no chão. — Pegue a minha a mochila!
Miguel apanhou a mochila e a lançou com tanta força que a própria dona ao recebê-la não suportou o ímpeto da mochila e, por consequência, caiu de bunda no chão com as pernas entreabertas e a saia curta a mostrar a vestimenta íntima.
“Eita! Exagerei”, pensou Miguel, desviando o olhar com certa expressão de timidez e vergonha.
Teodoro também fez o mesmo, porém, com as maçãs do rosto muito avermelhadas e um pequeno atraso, que o permitiu ver mais que deveria e, sentindo a perversão martelar a própria consciência, encolheu-se arrependido do que vira, retrucando os próprios pensamentos:
“Eu não vi, não vi mesmo, não vi nada… é sério!”
O aparelho celular de Taise começou a tocar no interior da mochila. Ela retomou a postura, pondo-se em pé, e atendeu… Era um telefonema da irmã.
A objetiva e breve ligação encerrou-se, mas Taise permaneceu com o aparelho próximo à orelha.
— O que houve com a minha esposa?
— A polícia está no local de trabalho dela — respondeu, retomando o estado de perplexidade, no qual sempre caía quando ficava muito surpresa ou assustada. — Eles vão prendê-la!
— Céus! — exclamou a senhora Sousa. — O que fez de errado a minha primogênita!?
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Atualizado até capítulo 102
Comments
Imaculada Abreu
Agora as cobras vão chiar
2023-10-29
6
Karina Kaley
maltratar o marido sua veia louca
2023-01-16
4
Maria Jose de Oliveira Freitas da Silva
tá ficando interessantes
2022-10-01
2