Na sala de entrada da casa da família Sousa, a senhora Elena Sousa, mãe de Eloísa e Taise, conversava com Teodoro Barros, amigo de infância de Eloísa.
— Por onde esteve, Teodor?
— A senhora ainda me chama por esse nome — riu Teodoro.
— Não posso mais? — abriu um sorriso também. — Lembro muito bem das vezes que você vinha até aqui para levar a minha primogênita pra passear.
— Bons tempos aqueles — suspirou Teodoro, rememorando as boas lembranças. — Se eu não tivesse viajado para fora do país a estudo, talvez…
— Estivessem casados — adiantou-se em dizê-lo, com vontade.
Teodoro abriu um largo sorriso em acordo. Tanto que já lhe batia o desejo de rever a muito querida amiga de infância, mas desde que chegara a casa da família dela, não a viu em lugar algum.
— Atualmente ela está trabalhando na Beleza dos Anjos, uma grande empresa de cosméticos da nossa cidade, reconhecida nacionalmente por seus produtos de alta qualidade.
— Nossa! A Eloísa evoluiu muito desde que eu fui estudar no exterior.
— A minha filha sempre foi muito esperta na vida, com exceção do amor.
A senhora Sousa contou detalhe por detalhe do relacionamento da filha com o mudo Miguel, permitindo-se derramar também sobre a mesa do chá a repulsa que sentia pelo casamento da primogênita.
— Não foi e não está sendo fácil aceitar esse matrimônio. Eu preferiria mil vezes vê-la casada com um homem do seu porte. — Teodoro sentiu-se lisonjeado pelos elogios dela. — Mas, apesar de tudo que te contei, Teodor, esse meu genro sabe ser um bom servo.
— E onde ele está agora, senhora Sousa?
— Foi buscar a Taise na escola.
Nesse exato momento, Taise chegou seguida por Miguel, cabisbaixo, portando a mochila dela.
— Por falar no diabo — murmurou a senhora —, veja só quem chegou — pôs a xícara de chá sobre a pequena mesa entre a cadeira dela e a do visitante e, acenando, chamou os recém-chegados. — Taise, querida, venha cumprimentar a visita... você também, Miguel — chamou-o com certa rispidez.
Taise, porém, teve de puxar Miguel pelo braço, pois, parado, olhando fixamente o relógio de pulso, ele não teria dado mais nenhum passo pela própria vontade até ficar diante do visitante de rosto angular e bem trajado com termo e gravata, que se levantou do assento para cumprimentar exclusivamente a irmã da mulher por quem nunca deixou de sentir o coração bater mais forte.
Miguel permaneceu cabisbaixo diante dele, pois o mostrador do relógio lhe interessava muito mais que o rosto vaidoso de Teodoro, que, sentindo-se desrespeitado, segurou os ombros de Miguel e o balançou com força, vozeando:
— Quem você pensa que é para me ignorar dessa forma!?
— Miguel Luz! — repreendeu num grito breve e agudo a senhora Sousa —, seja educado com o amigo da minha filha.
— Não se preocupe, senhora — disse Teodoro, aproximando seu rosto ao ouvido de Miguel. — Saiba que isso não me ofende em nada, mudinho — ressaltou em sussurros. — Aliás, o que acha de eu lhe fazer uma proposta irrecusável?
Miguel continuava sem esboçar expressões, porém, seus olhos começaram a brilhar. Lágrimas involuntárias se acumularam nas extremidades de seus olhos e sua respiração tornou-se agitada.
— Cem mil é a minha oferta para que suma eternamente da vida de Eloísa, combinado?
Teodoro estendeu a mão diante dele de modo a selar o acordo, mas Miguel permaneceu imóvel, sentindo o corpo tremer e esquentar em simultâneo, como uma panela de pressão sem válvula de escape e ao limite de explodir.
— Não me ignore, seu mudo insolente!
Teodoro deu-lhe um leve soco no estômago, não esperando que fosse haver uma reação imediata.
Miguel limpou as lágrimas dos olhos com o dorso da mão direita enquanto, gritando:
— Nenhum segundo a mais!
Atingiu um inesperado e tão intenso soco na região estomacal de Teodoro, que este devido ao impacto foi cair sobre a cadeira na qual passou horas sentado.
Miguel aproximou as mãos uma da outra, mantendo um vácuo entre as duas, fez surgir nesse espaço o núcleo da energia interior despertada: o tão difícil de ser obtido Poder Espiritual. Das mãos dele essa energia se expandiu e, propagando-se invisível aos olhos de Teodoro, de Taise e da senhora Sousa, Miguel acrescentou:
— Por que estão me olhando com essas caras feias? Por acaso veem o que estou produzindo com as minhas mãos?
Os três não viam nada entre as mãos dele, senão as mãos somente paradas no ar, não percebendo também que havia uma energia anil se expandido para o exterior da casa, para além daquelas paredes brancas, atingindo afora o jardim, onde as flores murchas foram revigoradas, os brotos brotaram, as folhas das árvores podadas readquiriram a cor esverdeada e tudo ali que havia de verde ganhou alguns centímetros a mais de tamanho, incluído a grama não aparada.
“Mestre, eu finalmente consegui”, pensou Miguel, batendo as mãos uma na outra e cessando o núcleo do Poder Espiritual produzido diante dos próprios olhos. “Já não preciso mais me privar da fala, então…”
Miguel alongou-se um pouco, fez uma massagem no próprio pescoço e pigarreou algumas vezes, testando a própria voz, com o objetivo de aquecê-la, pois tanto tempo ficou sem falar que acabou por sentir um pouco de dificuldade ao pronunciar as primeiras palavras.
— É tão bom poder falar novamente. Não sabem o quanto é atormentador ficar em silêncio e não poder agir ao que faziam comigo.
Espantados, os três, por sua vez, permaneciam em silêncio, deixando Miguel intrigado.
“Que estranho… agora que posso falar, parece que eles ficaram mudos.”
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Atualizado até capítulo 102
Comments
Eulina F. de Souza Nascimento
Que história envolvente. Estou adorando.
2023-08-08
6
Karina Kaley
Neh ksksks
2023-01-16
1
Gabs Batista
toda a minha concentração na leitura acabou no último parágrafo 😂😂😂
2022-10-25
2