A Minha Secretária
PRÓLOGO
MARIA LUISA MULLER
Já passei por inúmeros perrengues na minha vida, o meu nome é desastre e o nome do meio é estabanada. Sou brasileira, baiana para ser mais exata, nordestina raiz, arretada e bem maluca, o resultado disso? Simplesmente deixei tudo o que mais amava para tentar uma vida melhor para mim e consequentemente para a minha família. Não sou de família pobre, mas também não sou de família rica, meus pais trabalharam muito para me proporcionar tudo o que eu tinha direito, uma boa educação, alimentação adequada e algumas regalias, nada muito exagerado. Mas sempre tive o sonho de ser grande, alcançar grandes objetivos e ser independente, bilíngue e trabalhar em uma grande empresa como administradora, sempre foi o meu grande sonho.
Mas, como nem tudo são flores e eu sou a rainha dos piores perrengues na minha vida, como sair correndo atrás de ônibus para não perder o horário, sair com a blusa vestida pelo avesso e só perceber depois que já estava no trabalho, ao lado do colega bonitinho que era meu vizinho de mesa, cair da escada da academia, tropeçar em plena orla de Salvador, durante a maior festa que é o carnaval e por aí vai a minha lista imensa de desastres. Mas, nada havia me preparado para trabalhar para o chefe mais arrogante, insuportável, gostoso, lindo de morrer, derrubador de calcinhas, como Ethan Johnson.
Minha vida poderia facilmente virar um livro, jamais imaginaria que ela poderia ser virada de cabeça para baixo, a partir do momento que eu tomei a decisão mais clichê da vida! Mudar de pais para que eu pudesse mudar de vida. E realmente mudou!
Já dizia meu sábio pai, rapadura é doce, mas não é mole! Esse é um dos ditados mais citados no meu querido nordeste e o mais verdadeiro. Quando ainda estava na faculdade, nos meus últimos semestres, na minha linda ilusão de universitária, imaginei que me formaria com honras, seria a melhor da classe, facilmente ganharia uma bolsa para o intercâmbio, conseguiria um emprego fácil, por conta do meu currículo acadêmico, trabalharia na melhor empresa de Nova York e tudo seria lindamente encaixado na minha imaginação. Ganharia bem, moraria nos melhores prédios da cidade e de quebra, viveria um romance com um gringo bem príncipe encantado.
Acontece que a vida não é fácil, me derrubou do cavalo antes mesmo de eu encontrar meu príncipe encantado montado nele.
Já se passaram 12 meses após a minha formatura e apesar de pelo menos ter conseguido me formar com honras, a bolsa do intercâmbio não veio e eu tive que lutar por isso com unhas e dentes e nesses 12 meses, o que eu mais fiz foi morder emprego. Fiz de tudo um pouco, não gastei com absolutamente nada, não comia nada além do que era oferecido dentro de casa e agradecia aos céus por não ter uma conta para pagar, além de juntar o dinheiro que eu precisava para ir para Nova York. Meus pais sempre me apoiaram em tudo, inclusive nessa minha decisão de ir morar em outro país, sempre me ajudaram também e nessa jornada eu nunca estive sozinha.
Finalmente o meu grande dia chegara, estava eu aqui rodeada de malas, com a minha família completa, repleta de emoção e lágrimas.
— Maninha, vê se quando chegar lá, não esquece da gente tá? — sua voz era embargada de emoção
— Claro que não, né seu pirralho, como é que esquece dos meus pirralhos preferidos? — sorri, tentando disfarçar a dor que me assolava
— Minha filha, muito juízo e por favor, tente se manter inteira, precisamos de você de volta — minha mãe tentou descontrair o clima melancólico
— Pois é, do jeito que é estabanada, é capaz de voltar faltando pedacinhos — Gustavo sempre foi o número 1 em zoar da minha cara
— Me respeite seu pirralho, eu sou a sua irmã mais velha — tentei soar brava
— E a mais desastrada também — André completou
— Vou desertar vocês como irmãos - rimos
— Vou sentir saudade, minha menina — meu pai como sempre, todo carinhoso
— Oh paizinho, eu também vou — limpei o cantinho do olho — mas manteremos contato sempre, tentarei ligar para vocês todos os dias e mantê-los informados de tudo — funguei de leve — em breve estaremos todos juntos novamente e quem sabe vocês não vão morar comigo
— Minha raiz é aqui, já sou velho para essa mudança toda — meu pai disse com toda sua calma — mas visitá-la, iremos sempre que pudermos — sorri querendo acreditar nisso, mas sabia que não seria tão fácil assim
— Faremos de tudo para visitá-la — minha mãe com seu sorriso acolhedor, complementou
E então, meu voo foi chamado. Abracei cada um deles, chorei como se não houvesse amanhã e na última chamada do meu embarque, fui. Ao entrar no avião, respirei fundo, com a certeza de que novas oportunidades e grandes conquistas estariam reservadas para mim!
Então acordei cedo, me arrumei, escolhi o meu melhor look, recolhi o meu currículo e segui em direção à empresa que logo mais iniciaria com as entrevistas. Sai um pouco mais cedo do previsto para que não houvesse nenhuma intercorrência no meu percurso. Eu morava pertinho da Master, o que estava me custando um rim, mais um motivo para ser aceita nesse emprego a qualquer custo, mas, morando sozinha onde eu não conhecia absolutamente, optei por segurança e morar em um prédio bem localizado e perto de onde seria meu futuro emprego (ouvi um amém?), estava sendo a melhor opção.
Questão de minutos eu cheguei, nem precisava de um transporte para me locomover para trabalhar. O lugar era simplesmente maravilhoso, uma estrutura de torcer o pescoço de quem tenta olhar para o último andar, todo em vidro, um luxo só. Assim que cheguei me deparei com uma moça muito linda na recepção, seus olhos eram doces e pelo lugar em que ela estava, presumo eu que seja recepcionista, educadamente eu encostei para saber mais informações, perguntar sobre a entrevista.
— Bom dia — sorri — eu sou Maria Luisa e vim para uma seleção de emprego
— Oi senhora Maria Luísa — ela sorriu — vou encaminhá-la para a sala
— Obrigada, Emma — sorri simpática, havia visto o nome dela no crachá
Com sua gentileza, ela levantou e foi imediatamente me conduzindo até a sala onde estavam sendo realizadas as entrevistas. Com um doce sorriso, indicou para as cadeiras pedindo que eu sentasse e aguardasse a minha vez, pegando da minha mão o envelope com meu currículo e entregando a outra mulher que era a responsável pelas entrevistas.
Meu coração não parava quieto em nenhum momento e eu tinha medo dele parar a qualquer hora, antes que eu tivesse pelo menos a oportunidade de fazer a entrevista, estava nervosa, suando frio e quase tendo um colapso. Enquanto eu estava sentada aguardando, vaguei meu olhar por todos os lados me atentando a cada detalhe do local onde eu estava. Comecei a olhar pelas grandes portas de vidro e simplesmente eu não estava preparada psicologicamente para a imagem que perpassou os meus olhos que prontamente me deixou embasbacada e presa, sem conseguir ao menos piscar.
Um homem alto, magnificamente lindo, de ombros largos, postura imponente, exalando uma sensualidade atrelada a seriedade, um maxilar quadrado, barba por fazer, vestido em um terno completamente alinhado, feito sob medida, o cabelo milimetricamente penteado para trás, o qual me chamou muito a atenção, passando pelo corredor. Em algum momento da sua passagem os nossos olhos se cruzaram, e o seu olhar era profundo e marcante, me fazendo sentir um imenso calafrio, uma onda eletrizante e um comichão em meu baixo ventre, me deixando completamente perdida, atônita e sem fôlego. Ainda buscando meu fôlego de volta, fui chamada pela responsável pelas entrevistas, era a minha vez. Tomara que dê certo, foi a única coisa que eu consegui pensar depois daquele pedaço de mal caminho.
— Senhora Maria Luísa? — ela tocou em meu ombro
— Ah oi — sorri — eu mesma — levantei
— Vamos? - ela sorriu - eu sou a Luana, secretária do escritório do senhor Ethan Johnson, que farei a sua entrevista
— Olá, senhorita Luana — sorri e a acompanhei — Ethan Johnson é o CEO?
— Sim, eu sou a secretária do escritório dele — ela abriu uma porta para que eu entrasse — e a vaga é para ser a secretária particular, eu atendo ao escritório e se você for selecionada, atenderá ao senhor Ethan, serviços como organizar agendas, participar de reuniões, organizar os almoços empresariais, essas coisas
— hum, entendi — me sentei onde ela indicou
Durante a entrevista, tudo normal, ela me fez perguntas simples e comentou sobre o meu currículo, deixei bem claro que apesar de recém formada eu não tinha medo de desafios e estava ali inteiramente para aprender! Não tinha uma vasta experiência, mas força de vontade em querer aprender eu tinha de sobra. Afinal, havia me formado com honras. Assim que encerrou a entrevista, nos despedimos e sai em direção à porta de saída.
- Tchau Maria Luísa - a recepcionista sorriu - boa sorte!
- Obrigada\, Emma - sorri e acenei
Sai da entrevista com um pontada de esperança de ser contratada, a conversa foi muito boa e Luana mostrou um interesse vasto em meu currículo. Voltei para o meu apartamento, com as expectativas em alta. Assim que cheguei arrumei tudo para almoçar, tomei um bom banho, vesti a minha roupa mais confortável e decidi ligar para minha mãe, um pouquinho, contar a ela o que acontecera hoje.
— Malu — seu sorriso imenso apareceu na tela do meu celular — que saudade de você minha filha
— Oi mãe — retribui o seu sorriso — eu também. Hoje fiz uma entrevista de emprego, na Master comunicações, uma empresa gigante e fica aqui pertinho
— Que maravilha, minha filha — ela sentou — foi boa a entrevista?
— Sim, a responsável pela entrevista se mostrou bastante interessada nele, espero que o CEO também se interesse
— Ele vai se interessar — toda a sua doçura me acalmava
Ficamos conversando longos minutos, amenidades, sobre o dia a dia, ela me contara sobre os meus irmãos e meu pai apareceu no meio da ligação por vídeo, contando sobre como estava com saudades e como estava em seu trabalho. Por fim, desligamos e eu voltei a me concentrar na expectativa de receber um retorno da entrevista de emprego que eu havia feito hoje e por volta das 15:00 horas eu recebi uma ligação, número desconhecido e o coração saltou na esperança de ser da empresa.
— Maria Luísa, aqui é a Luana, tudo bem?
— Oi Luana, tudo ótimo!
— Hoje você fez uma entrevista aqui na empresa e você foi selecionada! Amanhã iniciamos seu treinamento, esteja aqui a partir das 08:00 da manhã
-— Pode deixar, aí estarei aí pontualmente às 08:00, obrigada!
— o senhor Ethan não suporta atrasos! Até amanhã
— até amanhã
FELICIDADE! Uma onda de felicidade tomou conta de mim e eu sai pulando feito uma maluca pelo meu minúsculo apartamento, comemorando a minha conquista, que nesse momento, era enorme, para mim.
Ethan Johnson é o tão temido dono e presidente da Master Comunicação, assim que comecei a procurar sobre a Master vi algumas coisas, pouquíssimas a respeito do senhor Ethan Johnson, pelo que pude perceber, ele era extremamente reservado e bem discreto, pouco se ouvia falar nele a não ser coisas estritamente relacionadas ao profissional. Vi algumas fotos, mas sempre todas distantes e relacionadas a premiações que a empresa sempre recebia, nada além disso.
Arrumei rapidamente algumas coisas do apartamento e sai para distrair a mente um pouco. Precisava de um pouco de distração, estava com a energia acumulada diante da noticia de ser contratada, a euforia tomou conta. Mas, nem tudo são flores… lembra que eu disse que o meu sobrenome era desastre e o nome do meio estabanada? Pois é, quando vou sair na porta do prédio, o que era bem a minha cara, distraída como eu sou, levei um belo tombo na escada de saída, me esbarrando no extintor, sem olhar para os lados, levantei rapidamente e me recompus em questão de segundos. Mas, infelizmente eu tinha uma pequena platéia, composta pelo porteiro, que estava super ocupado ao telefone, recebendo provavelmente alguma queixa, diante de suas caretas e uma senhorinha, muito fofa, que aparentava ter bem idade, e que veio no impulso da minha queda me ajudar.
— está bem, moça bonita? — ela sorriu gentilmente, eu disse, ela é muito fofa
— estou sim - sorri — é que eu sou atrapalhada assim mesmo, me distrai com a vista daqui e não enxerguei a escada e nem o extintor — respondi ajeitando a minha roupa
— acontece, a vista aqui é de tirar o fôlego, uma grande selva de pedra, rouba todo o seu ar — ela fez uma piadinha, que fofa — a propósito, me chamo Nancy
— Oi dona Nancy, me chamo Maria Luísa, mas pode me chamar de Malu — ela sorriu
— Mora aqui, Malu? — ela perguntou com sua voz calma
— Sim, cheguei tem pouco tempo, sou nova por aqui. Vim do Brasil, mudar os ares faz bem! — olhei ao redor — vou começar a trabalhar na Master Comunicações, vim para tentar uma vida nova
— Master Comunicações? — seus olhos arregalaram em surpresa, senti que ela iria fazer algum comentário, mas desistiu — Entendi, seja, muito bem-vinda, viu? — ela tocou o meu ombro — eu já vou, vou fazer a minha boa e velha caminhada diária, tchau, moça linda — ela se despediu e saiu
Depois da minha vergonha passada no débito e no crédito do meu tombo, eu dei continuidade ao meu passeio, pensando no tom de surpresa que a gentil senhora se referiu, quando disse que iria trabalhar na Master Comunicações. De tanto pensar, fritei todo restinho de juízo e decidi deixar para lá, talvez fosse apenas impressão minha. Mal conhecia a senhora e já fui tagarelando sobre a minha vida.
Fui em direção ao parque que eu saí para correr mais cedo e pude notar que ele estava bem cheio durante o dia, muitas famílias iam para lá fazer caminhadas, piqueniques e passeios. Parei em uma barraquinha de sorvete, pedi um e quando eu fui saindo da barraca, tomei um belo banho de sorvete misturado com café. O café veio de quem quase me carregou na frente, uma muralha. Eu sabia que eu era desastrada, mas dois desastres em menos de 10 minutos, essa era impossível, apesar de que, dessa vez, nem foi a minha culpa.
— aiiiii — fui limpando toda a melequeira que estava em mim - tá quente - resmunguei ainda de cabeça abaixada
— Custa olhar para onde anda? — uma voz irritada e grave ecoou próximo a mim
— EU? — Olhei furiosa — você vem sei lá de onde, igual a um furacão e eu tenho que olhar para onde anda? — respirei fundo — aaaaah faça mil favor viu? — levantei o meu olhar e gelei
Era o homem que vi mais cedo na empresa, alto, forte, lindo e um semblante obscuro, fechado, parecia muito irritado.
— Eu não tenho tempo para conversa fiada — ele pegou o copo de café que havia caído no chão — Ver se em uma próxima vez, presta mais atenção — e ele foi saindo
— Espero não haver uma próxima vez, seu grosso — gritei
Bati o pé em revolta, desfiz o meu caminho do parque e voltei fuzilando de ódio, toda melada, por conta de um brutamontes grosso, meu belo passeio estragado. Cheguei em casa e fui direto me limpar, tomei um bom banho e decidi vestir uma roupa bem confortável, afinal eu não iria sair mais, dois desastres em tão poucos minutos que provavelmente se sair mais uma vez, era capaz de ser atropelada.
Fui para a cozinha, fiz um sanduíche rápido, um café coado, típico, bem brasileiro e sentei no sofá para assistir. O apartamento que eu alugara, graças aos céus era mobiliado.
Terminei de comer, deixei tudo limpo e voltei para o sofá, para assistir mais um pouco. Por volta, me peguei pensando no homem no qual me esbarrei mais cedo, como pode tanta beleza ser estragada com tamanha grosseria, fiquei viajando e quando dei por mim, já era noite, então desliguei a televisão e fui para o meu quarto, dormir. Amanhã seria o meu primeiro dia de trabalho e eu não poderia deixar nada dar errado.
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Atualizado até capítulo 101
Comments
Lu e a Estante de Sonhos
😂😂😂😂
2024-07-20
0
Lu e a Estante de Sonhos
Típica brasileira!! Fala a vida toda em questão de segundos 😅😅😅😅 somos assim, um livro aberto!!!😂😂😂😂
2024-07-20
1
Cris França
começando 21:35
2024-02-12
1