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TRÊS DIAS DEPOIS.

“O tempo é o melhor remédio para corações feridos”

Vitor Navarro.

Eu queria demitir a tal Ana Júlia, ela me irrita mais que qualquer outra pessoa mas tem algo que me chama a atenção nela. Não é só a sua beleza que insisto em ignorar;

Ela tentou diversas vezes me ver. Eu não permiti.

Não posso deixá-la me ver assim. Na realidade, não posso deixar que ninguém me veja.

Não quero ser digno de pena, nem ver nela aquele olhar de nojo e desprezo ao ver as marcas que carrego no rosto.

Maria tentou me convencer a aceitar vê-la, dizendo que era apenas para uma conversa, mas não quero.

Maria e a única que tem acesso diretamente a mim, já que não é fácil alguém conviver sob o mesmo teto que eu, principalmente sendo em minha propriedade, onde controlo tudo.

Ela me disse que Ana Júlia e obstinada e não desistirá tão fácil como os outros, quero ver até onde ela vai com essa persistência.

Ana Júlia.

Como posso tratar de um paciente que me evita? Que não tenho acesso? Shit!

Maria insisti em dizer que ele é assim mesmo mas comigo será diferente. Ah vai! ou eu não me chamo Ana Júlia Lopes.

Hoje por insistência minha a segui até a porta do quarto dele no andar superior. Ela quis me impedir de segui-la mas eu a obriguei a me levar junto dessa vez, em mais uma tentativa ridícula de fazê-lo me receber.

A que ponto cheguei em minha profissão! Parada em frente a uma porta.

Ele precisa de ajuda e eu não vou desistir de tentar. Muitos de meus pacientes ficam relutantes em serem tratados no início, não e fácil pedir ajuda. Mas tenho fé que conseguirei fazer Vitor Navarro me aceitar.

O tempo de tratamento e crucial e ele já perdeu muito tempo nestes anos.

O homem se comporta como uma criança mimada, mau sabe ele que sou bem mais persistente que ele.

Estou aqui a três dias e ainda não o vi. Ah! De hoje não passa!!

- Ana tem certeza? (fala Maria preocupada)

Respiro fundo tomando coragem e digo:

- Tenho sim Maria, pode bater e chamá-lo. Diga que estou aqui. (falo decidida)

Estamos em frente a porta do quarto dele. Ele fugiu de mim por tempo demais, chegou a hora de encarar os seus medos.

- Senhor Vitor, sou eu Maria. Sua médica a doutora Ana Júlia quer vê-lo, Ela esta aqui comigo ao meu lado.

Maria me olha meio sem graça. Ele continua bom em me ignorar.

- Sr Vitor? Está me ouvindo. (fala Maria)

Segundos depois ele grita lá de dentro.

- MANDE ELA EMBORA. NÃO VOU VER NINGUÉM!

Primeiro: a voz dele e imponente para alguns daria medo pra mim foi diferente, senti um tremor percorrer todo meu corpo.

Segundo: Não tive medo e sim uma sensação de prazer ao ouvir aquela voz. Ele possui arrogância, e sou mais estranha ainda em sentir certo desejo momentâneo por esse homem.

Sentir atração por uma voz de uma pessoa que eu nunca vi é meio doido. Será que eu preciso também de tratamento?

Que coisa maluca!! Foco Ana, Foco!

- Sr Vitor por favor ela veio de longe e quer ajudar. (fala Maria)

- NÃO QUERO ESSA MULHER EM MINHA CASA. MANDE ELA EMBORA. (grita ele dentro do quarto)

Fico indignada com o comportamento dele. Antes que Maria fale mais alguma coisa, eu tomo a frente e digo:

- Eu não vou embora senhor Navarro, terá que me receber e dizer isso na minha cara. Então o que vai ser??

Silêncio do outro lado da porta. Maria esta com os olhos arregalados, assustada com o meu comportamento.

- Vamos embora Júlia. Ele não quer nos atender.

Ignoro Maria e chego mais perto da porta.

Abaixei a minha cabeça, pensando no que iria argumentar. O que falaria para ele? Eu tinha que ser franca, e se fosse perder o emprego, seria como uma mulher sincera. Levantei minha cabeça, encarando a porta fechada.

- O senhor pode tentar se esconder de mim mas um dia terá que encarar os seus medos e aceitar que eu vim para ajudá-lo Sr. Navarro. Sua família me contratou para o ajudá-lo a lidar e superar seus problemas que para muitos não é tão fácil realizar isso sozinho, e por isso a necessidade de auxílio profissional é importante. Quero avisá-lo que não sou mulher de fugir de um desafio. Esta me ouvindo??

Ele não diz nada. Apenas silêncio.

Elas ficam paradas durante alguns minutos na porta aguardando qualquer manifestação da parte dele.

Nada aconteceu.

- Vamos embora Ana Júlia. (fala Maria puxando-a pelo braço)

- Isso não vai ficar assim Maria, eu vou conseguir que ele me receba e comece o tratamento o mais rápido possível. (diz ela chateada)

As duas vão embora.

Naquela noite, Ana Júlia dormia profundamente em seu quarto, o relógio marcava meia-noite.

A porta se abre.

Vitor Navarro entrou silenciosamente no quarto de Ana Júlia.

Ela estava adormecida, a luz da lua entrava pela janela que se encontrava com as cortinas meia abertas, banhava o seu rosto sereno, e ele ficou olhando-a fixamente.

Vitor Navarro.

Fechei os olhos, xingando mentalmente.

O que estou fazendo aqui?

Invadindo o quarto dela? Pra que?

Olho a pele de Ana, como é branca aveludada. Sinto vontade de tocar. Claro que não vou fazer isso.

Ana Júlia se movimenta. Mas não acorda.

Olhei para Ana Júlia, que ao mesmo tempo me irritava, acabava por me intrigar. Apesar de ser respondona, admiro sua personalidade de bater de frente em certas oportunidades. Isso requer coragem... Ela teve a ousadia de gritar comigo pela porta... Para qualquer um isso seria justificativa para uma demissão, mas Ana Júlia não tem medo.

Meu irmão fez de propósito a contratando. Aquele idiota ira me pagar!

Inclinei meu corpo um pouco pra frente inalando o cheiro dos cabelos dela. Fecho os olhos, e sorrindo novamente ao abri-los.

Como imaginei, tem um cheiro delicioso de flores.

O que estou fazendo? Shit!

Respiro fundo para controlar minhas emoções, isso só piora a situação. O cheiro delicioso dela ficou impregnado nas minhas narinas.

Ana Júlia! O que você tem que não me deixa em paz. Quando pensei que tudo estava correndo bem, és que ela surge em minha vida.

Silenciosamente saio do quarto de Ana Júlia.

Ando para fora da casa querendo distância daquela mulher, vou na direção da mata como faço todos os dias na madrugada, indo reencontrar minhas lembranças na casa antiga.

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