Louise Griffin
- "A festa foi linda. Nunca pensei que veria vestidos tão bonitos e ao mesmo tempo tão simples. Mas também havia aqueles extravagantes demais para o meu gosto." - digo enquanto seco o meu cabelo.
Ainda bem que depois daquela queda que sofri ontem no castelo graças ao príncipe Alexander, apenas fiquei com um hematoma do tamanho de uma maçã, mas no momento não estou sentindo dor. Acho que ter descansado bem me ajudou bastante.
- "Eu posso imaginar. Sempre quando tem essas festas no castelo, o luxo sempre se sobressai. O bom é que graças a essas festas, as nossas vendas subiram muito. Temos uma enorme encomenda para amanhã e hoje preciso que trabalhe conosco até tarde, sabe que só podemos contar com você, mas o ruim é que estaremos divididos entre a loja e a cozinha. Você não tem ideia do quão feliz o seu pai está com essa encomenda, já que graças a ela vamos poder comprar um novo maquinário que nos ajudará a aumentar a demanda em menos tempo."
Minha mãe pega uma escova e começa a desembaraçar o meu cabelo. Meus cabelos castanhos escuros são muito compridos e eles costumam a embaraçar com muita facilidade.
- "Essa é uma notícia maravilhosa." - digo realmente feliz por meus pais. - "Vocês sabem que podem contar comigo, sabem que gosto de ajudá-lo, ainda mais quando é para ajudar nossos negócios alavancarem. Foi tão difícil conseguir ter o que temos hoje, que um pouco mais de esforço não é nada." - termino de dizer me sentindo relaxar enquanto minha mãe penteia meus cabelos. Ainda não entendo como algo tão simples consegue me deixar relaxar tão facilmente.
- "Eu sei disso. Vamos, eu te ajudo a prender esse cabelo e logo desceremos para o café da manhã para depois pôr as mãos na massa. Um dos maiores pedidos que recebemos foi os bombons recheados com creme de amêndoas. É um doce tão bom, que até mesmo nós ficamos surpresos quando chegou com essa criação e nós deixou de boca aberta." - ela diz e eu sorrio.
Quando meu cabelo já está totalmente desembaraçado,, minha mãe me ajuda a trançar todo meu cabelo. Se eu fizesse isso sozinha, iria demorar muito tempo.
Descemos juntas a escadas enquanto conversávamos, meu pai sempre diz que quando minha mãe e eu estamos juntas não paramos de falar, somos ruidosas demais e não paramos de falar.
Somos como duas papagaias tagarelas.
Entramos na cozinha e o maravilhoso cheiro de doce nos recebe. Pego meu avental e coloco a touca em minha cabeça para que não caia nenhum fio de cabelo na massa.
Pela janela da cozinha, vejo meu pai brigando com pedaços de madeira, há uma pilha de lenha que para quem vê parece ser interminável mas normalmente ela desaparece em mais ou menos dois dias. Acho que qualquer coisa feita no fogão ou forno à lenha faz diferença na qualidade do produto, é tudo preparado com carinho e ao mesmo tempo mantendo as características dos doces artesanais.
- "Minha menina, aqui essa a massa para fazer as tranças recheadas." - meu pai entra na cozinha e me indica a tigela branca. - "E a que está na tigela azul é a massa para os biscoitos. Você pode usar qualquer essência que tiver na estante, precisamos entregar mil e quinhentos biscoitos com formatos e sabores diferentes. A decoração fica a seu critério, você é a única que tem a delicadeza para decorar esses biscoitos, o resto sua mãe e eu podemos fazer." - meu pai diz e eu suspiro.
Vou ter que trabalhar arduamente para conseguir terminar essa quantidade gigantesca de biscoitos.
(...)
Fico mais de três horas preparando os biscoitos, até que minha mãe me pediu para fazer uma pausa para ficar um pouco na loja enquanto ela tenta fazer com que o meu pai almoce.
Normalmente quando estamos com muito trabalho a fazer, meu pai se esquece de se alimentar e não queremos que ele acabe passando mal. Meu pai foi diagnosticado com diabetes há três anos e sempre que ele fica tanto tempo sem se alimentar, ele acaba tendo uma crise de hipoglicemia, caracterizada pelos baixos níveis de açúcar no sangue e isso não é bom.
A porta da loja se abre, fazendo o sininho tocar e isso me indica que algum cliente entrou na loja. Quando olho na direção da porta, sinto todo o ar escapar dos meus pulmões, essa é a primeira vez que vejo o príncipe Alexander vestido de uma forma tão casual. Não dá para negar o quão bonito esse homem é, mas meu estado de ânimo decai consideravelmente quando vejo que ele tem o cenho franzido e está me fulminando com o olhar.
- "Em que posso ajudar?" - pergunto de maneira educada e ele praticamente grunhe pra mim.
- "Minha mãe me mandou buscar alguns bolos. Ela precisa de 30 massas recheadas com creme de confeiteiro. São aqueles que sempre compra." - ele diz e me dá vontade de rir.
- "Todos os bolos tem nomes, alteza. E muitos deles vão creme de confeiteiro. Além do mais, a princesa Amelie constantemente está mudando os sabores e todas as semanas ela leva algo novo. Então eu preciso de algo mais do que essa descrição tão banal." - digo.
Sinto muito mas estou tentando. Foi ele quem me derrubou no chão e nem mesmo me pediu desculpas.
- "Suponho que tenha razão, então levarei algo que mais se pareça com o que descrevi. Pode me dá logo? Eu estou com pressa." - ele diz e eu volto a suspirar.
Mesmo sendo uma pessoa nascida em berço de ouro e que supostamente deveria ser muito bem educado, a educação e o respeito não é o forte dele. O que esse homem tem de bonito, ele tem odioso e desprezível.
- "Claro." - digo.
Com cuidado, começo a pegar as sobremesas que a princesa Amelie mais gosta mas de repente sinto uma uma pontada exatamente onde tenho um hematoma, me assusto com a dor e isso me faz resmungar baixinho. Durante a manhã, eu não havia sentido nenhuma dor e justamente agora tinha que começar a doer.
- "O que é que você tem? Por acaso não pode fazer as coisas direito? Nesse caso, você não deveria trabalhar em um lugar onde tenha que fazer esforço. Existem algumas pessoas que não servem para nada e acho que esse é o seu caso."
- "O problema é que um idiota acabou cruzando o meu caminho e o pateta é tão cego que me derrubou no chão me machucando no processo e nem mesmo se desculpou por isso. Mas tudo bem, existem pessoas tem educação mas não costumam usá-la. O mesmo acontecem com o dom de enxergar, alguns idiotas não olham por onde anda." - respondo irritada.
Acaricio o local dolorido. Faço uma careta e suspiro. Terei que tomar algo para isso, ainda falta muito para terminar os biscoitos e isso não pode me atrapalhar.
- "As pessoas só enxergam o que são agradáveis aos olhos, normalmente elas não se interessam por coisas simplórias e sem nenhum atrativo. Não nos importamos com coisas insignificantes, é por isso que terminam no chão, porque não valem nada."
- "Espero que você não esteja falando sobre as pessoas que fazem parte do seu povo, essa declaração pode te trazer sérios problemas. Você disse que as pessoas que te rodeiam são insignificantes para você e realmente é uma pena que você pense assim, existem muitas pessoas que gostam da realeza e gostam muito de sua família. Mas pelo o que vejo, o que penso das pessoas que possuem dinheiro e que fazem parte da realeza, não é tão diferente da realidade. São 45 dólares." - digo enquanto lhe entrego o pacote com o seu pedido.
- "Tão má reputação tem a realeza para você? Mesmo quando te dão trabalho para que possa comer?" - o príncipe pergunta e eu franzo o cenho.
- "Não é a realeza, é o dinheiro. Quanto mais dinheiro ou mais coisas têm, as pessoas se esquecem de onde saíram ou como chegaram ao poder. Embora com a realeza é difícil saber, já que passaram centenas de anos que estão ao poder. Eu não tenho nada contra a princesa Amelie, de fato eu gostaria que ela reinasse, já que ela é uma boa mulher e tem um coração enorme. É isso o que todos nós queremos. Ela sim ama seu povo, ao contrário de você que nos acha insignificante. Não quero que você seja o novo rei de Evalun, alguém que tem os pensamentos tão podres como você, não deve reinar nada. Agora se você não se importa, tenho que continuar trabalhando." - digo o dispensando.
O príncipe Alexander suspira com raiva, joga o dinheiro em cima do balcão, pega a sua encomenda e sai da loja soltando fogo pelas orelhas.
Uma vez que ele sai da loja, me deixo cair sentada na cadeira e coloco minhas mãos no rosto. Acho que peguei pesado, mas esse homem conseguiu me tirar do sério. Nunca alguém havia me irritaria tanto apenas com sua presença. Espero que isso não traga problemas para meu pai e para seu negócio.
Quando os meus pais voltam do almoço, não comento nada com eles sobre o que aconteceu com o príncipe, quero ver o que ele vai fazer em relação a isso. Todos nós queremos que a princesa Amelie seja a nova rainha de nosso país, mas pelo que eu ouvi no outro dia, parece que ela não quer isso. Então o que estão dizendo por aí é que o príncipe Alexander subirá no trono, mas nem todos gostaram dessa ideia. Acreditam que ele ainda é muito jovem e precisa amadurecer muito antes de governar.
Eu também penso o mesmo, principalmente depois do que aconteceu hoje.
(...)
Por volta das 21:00hs da noite, finalmente todos os biscoitos estão prontos. Minhas mãos doem por ter ficado durante várias horas trabalhando com saco de confeiteiro decorando cada um dos mil e quinhentos biscoitos. Amo meu trabalho, mas ele é muito cansativo. Aqui nós trabalhamos os sete dias da semana, então não temos muito tempo para descansar.
Minha mãe está arrumando tudo para fechar, quando escuto o sininho da porta da loja tocar e logo depois escutamos passos.
- "Leonora, que bom que ainda não fecharam, preciso falar com Louise. É muito importante. Apareceu um enorme problema de última hora e ela é a única que pode me ajudar."
Se eu não me engano, essa é a voz da princesa Amelie.
- "Ela está lá na cozinha. Está terminando de arrumar as caixas com um pedido que temos que entregar amanhã. Por favor, entre." - minha mãe diz.
Escuto os passos se aproximando da cozinha e a porta se abre. Como pensei, realmente é a princesa Amelie.
- "Minha menina, você é a única pessoa que pode me ajudar nesse momento e acredite em mim, tenho buscado por todo o reino e não há nenhuma pessoa melhor para o que precisamos. Sei que pode parecer um pouco precipitado e muito estranho, é que não há ninguém nesse lugar que será a melhor companheira para ele. Eu não tinha pensado nisso mas, escutando o Rei e a ideia que ele tem para a nova companheira do novo Rei, você é a única que veio a minha cabeça. Não sei como eu não pensei nisso antes. Eu te tinha como uma das candidatas mas agora me dei conta de que você é a indicada para isso. Você é a pessoa certa." - ela diz tudo tão rápido que não consigo compreender nada.
- "Princesa Amelie, se acalme. Não estou entendendo nada. Em que posso te ajudar? O que você quer dizer com que eu sou a mulher certa?" - eu pergunto devagar.
A princesa suspira e endireita seus ombros. Isso significa que não irei gostar do que vou ouvir.
- "Isso, é exatamente isso. Você, minha menina, é a pessoa certa para se casar com meu filho. Você é a mulher que Alexander precisa, você tem que ser sua esposa." - ela disse e minha mãe ofega diante essa declaração.
Como eu havia dito antes, eu sabia que não iria gostar nada desse pedido.
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Atualizado até capítulo 72
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