05

 Meg Sanders

No banheiro, espero a banheira encher relembrando de certos olhos que me olharam com carinho no meio de tanto caos. Fecho meus olhos lembrando de seus braços me segurando e tenho a sensação de ter achado aquele lugar mais quente que o fogo. Espanto o pensamento intrigante e jogo os sais perfumados sobre a água, tiro minha roupa e finalmente me afundo na água morna. A tensão de horas atrás vai sumindo assim como o cheiro de fumaça em mim. Chego à sala com meu pijama short e blusa e noto o quanto estou com fome. Liz sempre cozinhou divinamente bem, não que eu não saiba, mas prefiro ficar com a louça só para não correr riscos. Liz conversou apenas amenidades comigo e sei que fez isso por mim, mas apesar dos seus assuntos, o episódio não saía do meu pensamento.

Era fim de tarde quando terminei de pintar o quadro a minha frente e fiquei admirando meu belo trabalho.

— Nossa Meg! — ouvi Liz atrás de mim e mesmo sem vê-la, notei que estava impressionada. — De quem são esses olhos? — pergunta com divertimento e continuo fitando a tela a minha frente.

— Do bombeiro que me salvou. Acha que seria legal ir agradecê-lo? — indago com dúvida.

— É claro que seria Meg, afinal foi ele que salvou sua vida.

— Eu sei... Você sabe o endereço da unidade dele?

— Não, mas o Google sabe! — responde brincando e sorrio girando para olhá-la, mas assim que a vejo ergo uma sobrancelha.

— Aonde vai arrumada desse jeito?

O vestido preto e curto marcava bem suas

curvas e sobre o tomara que caia, um simples cordão. Os cabelos loiros e soltos exibiam leves ondulações, e o rosto carregava uma simples maquiagem nos olhos verdes penetrantes. Liz sabia ser fatal quando queria. Assisto-a pôr a mão na cintura e percebo que me esqueci de algo.

— Eu te falei que sairia com Rose, não lembra? Tinha até te chamado, mas com você assim não dá. E olha, só estou lhe deixando sozinha porque sei que está bem, mas qualquer coisa ligue para mim. — avisa e assinto.

— Sim, senhora! — digo fazendo continência.

Liz se tornou amiga de Rose Peterson há dois meses. Nunca cheguei a vê-la, pois sempre estava no estúdio pintando quando Rose vinha para apartamento, e quando elas saiam, eu sempre alegava estar cansada. O que não era mentira. Creio que quando Liz conheceu Rose, foi na mesma época que ela começou a falar de Noah. Acho que a irmã foi a ponte de ligação entre os dois.

— Vão para um barzinho? — pergunto curiosa.

— Sim, apenas para batermos um papo. Tudo bem ficar sozinha? Se não estiver eu não vou.

— Estou bem, mas da próxima vez que saírem, vou junto. — falo convicta e como esperado por mim, Liz estranha.

— O que aconteceu com você? — indaga interessada e dou de ombros.

— Vou aproveitar mais o tempo que tenho. Foi um choque de realidade ontem. Depois que meu pai morreu, eu só havia me recuperado 50%, agora quero estar 100%. Percebi que a vida que tenho é preciosa demais para ficar o dia todo em casa ou trabalhando. — desabafo e vejo seu sorriso carinhoso.

— É bom ouvir isso Meg. É muito bom ter você de volta. — seus braços rodeiam meu pescoço, me puxando para um abraço de urso, e dou uma gargalhada para em seguida tossir.

— Só não vou hoje porque estou realmente cansada e com essa tosse fica difícil também.

— Tem certeza? Isso não tem nada a ver com o seu bombeiro? — brinca e sai correndo em seu salto. Pego uma almofada do sofá jogando nela.

— Ele não é meu bombeiro sua besta! — falo rindo.

Liz me manda um beijo pelo ar e sai pela porta, no entanto ela se abre novamente.

— Acho que você quis dizer que ele ainda não é seu bombeiro. — fala e fecha a porta bem a tempo de outra almofada chocar-se nela. Ouço sua risada pelo corredor do prédio.

Que amiga fui arrumar!

Sento-me em meu banco novamente e fito outra vez os olhos azuis em minha tela. Um arrepio passa em minha coluna e imagens dele enquanto me salvava vêm em minha mente. Tranquilo e forte... E posso estar maluca, mas acho que vi um sorriso em meio tanta loucura.

Sorrio e olho para o horizonte pela janela. São esses olhos e esse sorriso que desejo ver amanhã.

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