Thesa, você está namorando?

Thesa

Eu estava indo para o ponto de ônibus quando ouvi a voz da minha colega de trabalho, Jany.

— Thesa espere por mim? — Parei e fiquei esperando por ela. — Tudo bem? Não te vi hoje. — Perguntou ofegante.

— Eu estou bem, e você?

— Estou ótima.

Andamos mais um pouco e chegamos no ponto de ônibus, nos sentamos.

— Thesa, você está namorando?

— Eu namorando? Quem te disse isso?

— A minha mãe te viu descer de um carrão ontem à noite.

— A sua Meghe não perde tempo, em.

— Você sabe que ela sabe de tudo que acontece naquela vila.

— Sim, eu sei.

— Mas... você está, ou não namorando?

— Não. O homem só me deu uma carona.

— Thesa que perigo.

— Perigo nenhum, eu estou aqui viva.

— E que bom, né.

O celular dela tocou, ela atendeu, era o namorado dela. Depois de desligar ela disse que ele estava vindo buscá-la.

E após uns 5 minutos o namorado dela chegou de moto, Jany se despediu de mim com um beijo no rosto, ouvi o barulho da moto se distanciando cada vez mais, logo em seguida o meu ônibus chegou.

Desci no meu ponto e fui andando até em casa. Assim que eu virei a esquina da minha rua ouvi aquela voz grossa e inesquecível perto de mim.

Ralphe

Vi a moça cega virando a esquina, então eu desci do carro e fui até ela.

— Oi moça! Lembra de mim?

— Sim, eu me lembro. Seu nome é Ralphe, não é mesmo?

— Sim.

— Eu me chamo, Thesa. — disse me estendendo a mão, segurei a sua mão macia e dei um leve aperto.

— Não me leve a mal, você precisa devolver a minha jaqueta, ela ja está velhinha, mas tem um valor sentimental.

— Claro que eu vou te devolver.

— Por que não entregou para o meu motorista? Por casa queria se encontrar comigo de novo?

Thesa

Ouvir essa pergunta dele fez o meu coração disparar.

— E se eu disser que sim?

— Eu diria sinto muito, mas você não faz meu tipo.

— Ele não te disse que eu estava atrasada? — Falei tentando parecer não me importar com o que tinha acabado de ouvir.

— Disse.

— Então. Me acompanha até a minha casa?

— Eu prefiro esperar aqui.

— Vem comigo.

Ralphe

Entramos na casa simples dela, olhei tudo com cara de reprovação, onde eu estava me enfiando, por uma jaqueta que na verdade não tinha valor sentimental nenhum, eu nem sei porque falei aquilo.

— Não se preocupa, é simples, mas é tudo muito limpo. — Disse Thesa me tirando dos meus devaneios.

— Eu não estou preocupado.

— Vou pegar a sua jaqueta no meu quarto. Eu já volto.

— Ok. Vou te esperar aqui. — Falei enfiando as minhas mãos no bolso.

Fiquei na sala enquanto Thesa foi buscar a minha jaqueta, ela andava com tanta facilidade dentro de casa que parecia estava enxergando, olhei algumas fotos que estavam ali na estante, eu estava totalmente distraído.

— Aqui esta a sua jaqueta. — disse atrás de mim.

— Muito obrigado.

— Eu que agradeço. A minha mãe fez questão de lavar.

— Não precisava.

— A minha mãe fez questão.

— Agradeça a ela por mim.

— Farei isso.

O silêncio tomou conta do ambiente até que eu decidi quebrá-lo.

— Nessas fotos de quando você era criança, você parecia enxergar.

— Sim, porque eu não nasci cega. Eu perdi a minha visão depois de um acidente.

— Imagino que deve ter sido bem difícil.

— No começo sim. Hoje nem ta, eu aprendi a conviver com isso.

— Já tentou fazer uma cirurgia?

— Não tenho condições pra isso.

— É... Eu já vou indo.

Thesa

Não queria que ele se fosse, eu queria que ele ficasse um pouco mais.

— Tá bom.— Falei caminhando na direção da porta.

— Não precisa me acompanhar até a porta. — disse tocando no meu braço, que se arrepiou inteiro com seu toque.

Eu me senti envergonhada com o silêncio dele, que com certeza estava olhando aquela minha reação.

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