CAPITULO 19

Ane Smith.

Estou sentada na beira da piscina como sempre faço. As vezes penso que deveria me jogar e deixar que meu corpo afunde na água quente e profunda. Assim eu poderia descansar em paz, livrar a minha irmã do fardo de cuidar de mim a vida toda e de estar fadada a nunca ter um amor na vida.

O senhor Salvatore as vezes me observa, e eu sei que imagina o que eu quero fazer neste lugar. Talvez minha irmã tenha contado nosso passado triste, e como nossos pais morreram. Eu os vi pegando fogo. E o mais doloroso foi saber que a minha mãe sequer reagiu. Estava drogada demais para sentir qualquer coisa. Meu pai por outro lado, correu pela casa se debatendo e incendiando todos os comodos. Sei o fardo que a Isabela carrega ao ter decido voltar para me tirar do estado catatônico em que me encontrava ao ver aquela cena medonha. E apesar de não ter ficado com cicatrizes externas, eu imagino que a forma como ela age comigo é apenas uma das consequências dos seus traumas. E eu tento todos os dias para ser mais compreensiva, mas estou farta.

Sinceramente, enganar um chefe da máfia foi a pior decisão que a minha irmã possa ter tomado. E apesar disso, eu devo ficar ao seu lado independente do que tenha feito ou que ele fará comigo. Se for preciso, assumirei a minha culpa nesse jogo de engano em que estão me envolvendo.

Estou tomando as pílulas que o médico passou como todos os dias rigorosamente. E na verdade, estão fazendo com que eu me sinta tão estranha. As vezes tenho vontades que nunca pensei antes.

Estou deitada na minha cama. Fiquei a noite toda ajudando a Isabela, ou melhor, arrumando o quarto para ela. Ela diz que quer agradar o marido dessa forma, não sei se é a melhor abordagem. Porque um don precisa de uma empregada? Ela não viu quantos deles existem aqui?

Escuto uma música no iPod que encontrei em uma caixa de presente no meu quarto. Pela primeira vez minha irmã se lembrou do meu aniversário. Coloco uma música da Marina whitesnake-Is this love , pego uma escova de cabelo e começo a cantar a canção, enquanto rodopio pelo quarto. Estou dançando como uma louca. Estou sorrindo enquanto canto escandalosamente. Não me importo com o barulho, já que estou sozinha em casa durante todo o dia de hoje, por isso não esperava uma surpresa assim.

-Is this love that i’m feeling? Is this the love that l’ve been searching for? Is This love or am i dreaming? This must be love. Cause it’s really got a hold on me. A hold on me.

Fecho meus olhos, enquanto sinto os tons antigos da batida da musica. A guitarra é a minha parte favorita. Pulo para cima da cama King Size que jamais havia sonhado em ter antes. Pareço uma criança descobrindo a liberdade na cama dos pais.

-Meu Deus, que susto! – Arregalo os olhos, levando uma das mãos até a seio.

-Não sou tão feio assim... – Ele diz aquilo com toda sua frieza.

-Você não é feio de jeito nenhum. – Não , você é muito bonito. Tombo a cabeça para o lado enquanto analiso. – É que eu pensei que estivesse sozinha em casa.

-E resolveu fazer uma performance? – Ele arqueia uma das sobrancelhas.

-É?! – Sorrio expondo todos os dentes de uma forma estranha. Me desculpa, eu estou feliz hoje porq...

Ele franze a testa, enquanto recosta no batente da porta, colocando as mãos nos bolsos.

-Não se preocupe, eu gostei. – Ele ergue a mão, indicando o aparelho de música em minha mão. - Continue! – E então, ele abraça o seu corpo.

-Não vou cantar na sua frente...

-Oh, vamos lá. Acha mesmo que eu já não vi? Estou em pé aqui a uns dois minutos. – Arregalo os olhos, e ele libera uma gargalhada sonora e talvez um pouco sinistra.

-Olha, isso é raro.

-O que?

-Você sorrindo assim. Geralmente você sorri de um jeito malicioso ou sarcástico.

-Tenho que admitir que ver você dançando e cantando assim melhoraria qualquer humor.

Abaixo a minha cabeça por vergonha. -Me desculpe...

-Não se desculpe. Eu já disse que gostei e não vou repetir mais uma vez. Mas vejo que gostou do presente.

-Gostei? – Franzo a testa.

-Do iPod que eu deixei na sua cama.

-Oh, pensei que fosse a minha irmã. Ela geralmente não costuma se lembrar do meu aniversário.

-Mesmo? Ela me disse o oposto... – Observo a sua expressão mudando, enquanto ele cruza os braços.

-Não brigue com ela, por favor. É que ela vivia muito ocupada antes e...

-Não se preocupe. Continue cantando... muito mal... – ri enquanto sai e fecha a porta.

Droga, droga, que vergonha. Minha irmã não pode saber que ele me viu fazendo isso. Ela não vai gostar. Nunca gostou de me ver cantando e dançando assim. E ela sempre diz que uma menina que perdeu os pais não pode se dar ao luxo se ser tão feliz.

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