CAPÍTULO 11: REENCONTRO

Era uma tarde sol de março e uma brisa fresca balançava os galhos da árvore do balanço que Gabriela e Melina estavam. “Isso é que chamo de pedacinho de paraíso”- pensava Gabriela. A pequena Mel estava sentada em seu colo e ela pegou um livro para lerem: The Very Hungry Caterpillar, era uma divertida história de uma lagarta comilona que devorava tudo que via pela frente. Ela sempre gostava de aproveitar a hora da leitura para que Mel praticasse o inglês.

_Olha, Mel, uma lagarta comilona! Sabe como se diz lagarta em inglês? Caterpillar.

Então a menina tenta repetir:

_Caterpiar.

_Quase isso, caterpillar. Ela era uma lagarta especial, poderia até se chamar Melina, sabe por quê ?

Ela a olha curiosa e pergunta:

_Por que, Bibi?

Gabriela amava essa forma que Mel a chamava, aliás, ela amava cada segundo com aquela criança. Então responde:

_Porque ela era muito comilona!

As duas se olham e caem na gargalhada.

_Comilona se diz: Very hungry.- ao que ela repete. “Essa pequena está ficando cada dia melhor no inglês, seu pai ficará orgulhoso”.

Quando terminam a leitura, a menina se vira séria e pergunta:

_Você também vai me deixar?

Assustada, Gabriela indaga?

_Ô meu amor, por que me perguntou isso? É claro que não vou te deixar, você sabe que titia te ama.

_É que primeiro foi a mamãe, depois a vovó Lulu e a tia Loui e agora meu papai promete que vem, mas nunca chega- diz com os olhinhos cheios d’agua. O coração de Gabi se aperta e ela tenta consolar a menina.

_Princesa, se está com saudade da vovó Luzia ou da sua mãe podemos ligar pra elas. Com seu papai você conversa todos os dias, não é mesmo? Soube que ele te liga sempre antes de você deitar.

_Mas eu quero ele aqui, Bibi. Meu papai esqueceu de mim.

Então Gabriela a abraça apertado, sentia muito por Melina ao vê-la tão insegura. Naquele instante agradeceu a Deus por ter tido pais tão presentes, que sempre a lembravam como era amada e especial para eles.

_Não fala isso nunca, Mel. Sei que ele sente muito sua falta e assim que puder, vem te buscar. Já sei, tive uma ideia: o que acha de fazermos uma oração e pedirmos para o papai do céu para mandar seu papai vir te ver?

_Sim! Agora !- responde a garotinha animada.

_Então faz assim: tudo que Bibi falar, você repete tá bom?

_Tá bom!- e assim ela fez, tudo que Gabriela dizia, ela repetia com empolgação.

_Querido papai do céu, quero dizer que eu amo muito o Senhor. Quero te pedir algo muito importante: o Senhor poderia mandar meu papai vir me ver? É que tô com saudade do tamanho do...

_CÉU! –Exclama a menina, ao que Gabriela continua:

_Sim, uma saudade do tamanho do céu. Desde já eu te agradeço, em nome de Jesus, amém!

_E agora?- questiona Melina- a encarando com aqueles lindos olhos azuis.

_Agora é só confiar e esperar.

Elas acenam uma para a outra em concordância e nesse momento são interrompidas.

_Com licença, senhoritas. É que estou aqui a mando de Papai do Céu, ele me disse que uma certa garotinha que está sentindo muito minha falta.

_PAPAI!- grita Melina já descendo do colo.

Nesse momento o coração de Gabriela falha uma batida: “MEU DEUS, É ELE! ”- grita em seus pensamentos. Sim, depois de tantos anos ele estava ali em pé, à sua frente: Henry Cerqueira Leclerc, mais lindo do que nunca. Ela agradeceu por estar sentada pois sentia todo o corpo tremer, uma corrente elétrica parecia percorrê-la de alto a baixo. “Calma, novinha, você não pode dar tanto na cara assim. Anotação mental: ligar modo disfarce”.

Henry levantou Melina no ar e com um grande sorriso a girava, numa cena que Gabriela jamais esqueceria. “Isso é tudo que sonhei para mim, ter uma família com ele. Ah, como eu amaria espera-lo chegar todos os dias. Aquela Madel deve ser uma louca por abrir mão disso”.

Ao ver Mel tão feliz, seu coração se encheu de alegria. Como era bom ver aqueles dois juntos! Então Henry se vira para ela e diz:

_Pequena Gabriela, vejo que você cresceu!

Envergonhada, ela retruca:

_Ei, como assim pequena? Já tenho mais de um metro e cinquenta! - Ela brinca, disfarçando o nervosismo.

_Venha cá, deixe-me te dar um abraço, faz tanto tempo que te vi!

“OH, MEU DEUS, EU VOU INFARTAR AGORA! COMO ASSIM ELE CHEGA E ME ABRAÇA? NÃO TEM MEDO QUE EU DÊ UM PIRIPAQUE?”- seu raciocínio simplesmente falha ao receber o abraço daquele homem. Como alguém poderia ser tão cheiroso assim? Seu perfume inebriou seus sentidos e tudo que ela queria era ficar assim eternamente. “Preciso disfarçar minhas emoções se quiser continuar com esse emprego”. Então diz:

_Claro, o super empresário Henry Leclerc não tem tempo para perder com os caipiras- diz fazendo beicinho.

_É verdade, mas às vezes até mesmo pessoas tão importantes como eu conseguem espaço na agenda para visitar os reles mortais-  Henry brinca, lhe dando uma piscadinha marota.

“Ai, não pisca assim se não me apaixono mais ”- pensou.

_Papai, colinho, colinho!

_Claro Mel, o papai é todo seu!

“Será que não podia ser um pouquinho meu também? ”- Gabriela se desespera ao perceber que seus pensamentos estão em descontrole, ela teria que disfarçar ao máximo pra não deixar transparecer o turbilhão em que se encontrava.

_Papai, nós oramos com fé e papai do céu mandou você pra nós!

_Muito bem, filha! Você pediu e acreditou e agora o papai está aqui- diz, dando um beijo na bochecha da filha.

"Sera que é errado ter inveja de uma criança?"

_Gabi, onde está a tia Carmen? Sabe que ela é minha também, né? Estou louco pra vê-la.

“Tudo bem, posso dividir tudo com você... “

_Ela está na casa de seus pais, você não a viu?

_Não, é que assim que desci do carro, fui avisado que a Mel estava aqui, então vim correndo pra cá.

Na verdade, quando ele estava correndo pra  casa do fundo para ver a filha, parou ao ouvir Gabriela lendo a história e Melina repetindo as palavras em inglês, ele ficou tão orgulhoso do progresso de sua filha! Ao se aproximar um pouco mais, viu uma cena que parecia uma pintura: a cumplicidade de sua filha no colo da Gabriela, elas naquele balanço branco que fez parte de sua infância, com o ipê amarelo dando um colorido único àquele momento.

Mas as palavras que sua filha disse a seguir, lhe trouxeram grande amargura. Jamais entenderia porque Madeleyne abrira mão de estar com a filha. Ver a angústia dela doía seu coração, mas a reação e cuidado de Gabriela com Melina o fizeram perceber que aquela garotinha da casa dos fundos, que teimava em subir em todas as árvores do quintal, havia se tornado uma pessoa incrível!

Enfim, era bom estar de volta!

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