Capítulo 2 - Mellanie

Comecei meu dia cedo hoje. Corri no Central Park, tomei um café na minha cafeteria predileta e agora estou indo para o consultório do Brooklyn. Este é o meu consultório favorito. Lá eu faço um trabalho voluntário de acolhimento a crianças e mulheres vítimas de qualquer tipo de abuso. São muitas histórias tristes, mas, aqui eu sinto que faço aquilo que nasci para fazer. Aqui faço diferença na vida de quem não tem condições de arcar com o valor de um atendimento especializado qualificado. É muito frustrante saber que as pessoas que mais precisam são as que tem mais dificuldade de acesso ao atendimento. Toda terça-feira eu venho ao Centro Comunitário do Brooklyn fazer trabalho voluntário.

Na chegada ao Centro Comunitário do Brooklyn vejo Alicia, ela é uma criança pequena com olhar sempre triste. Ela foi tirada da mãe que é usuária de drogas e mora com a avó atualmente, uma senhora super fofa e meiga, toda semana que ela vem trazer Alicia ela traz um bolo, um doce ou biscoito para mim. Sei que é de coração.

Mel - Bom dia Alicia! Tudo bem com você? - me aproximo dela que está no colo da avó. Alicia é uma criança de 5 ano que parece ter 3, pois é muito pequena e magrinha.

Dona Selma - Bom dia Dra. Mel. Hoje Alicia acordou tristonha, com saudade da mamãe. Mas vai se animar não vai filha? - Dona Selma me lembra a minha mãe na minha infância, é uma mulher forte que aguenta tudo para criar uma criança sozinha. Mulheres como elas não são raridade por aqui.

Mel - Vamos lá princesa? Hoje temos muita coisa para conversar e tenho jogos novos para te mostrar. Eu acho que você vai gostar das novidades. - Aqui no Centro Comunitário eu faço uma abordagem diferente, como as crianças tem traumas elas tendem a ser mais arredias. Então eu trago vários jogos pedagógicos para interagir com elas até que eu consiga uma abertura para iniciar a sessão.

Passo a próxima hora com Alicia, hoje a sessão foi bem difícil ela conversou muito pouco, o que dificulta o meu trabalho. Mas eu não me canso. Vou tentar ajudar esta criança que desde pequena conhece o sofrimento. Após encerrar a sessão me despeço da Dona Selma e de Alicia e vejo meu telefone que está sob a mesa começar a tocar.

Mel - Oi Lara! Estava querendo falar com você mesmo! Queria ver se consegue liberar sua agenda na próxima sexta-feira. Esta sexta-feira vai ser a palestra da Dra. Lawrence. Eu quero muito ir, mas queria companhia. Por favor! por favor! por favor! Vem comigo? Nunca te pedi nada. - mentira, sempre estou pedindo alguma coisa e ela sempre me salva.

Lara - Já parou? Para início de conversa você sempre me pede alguma coisa. Você sabe que eu tenho um filho para criar né? E ele tem 1 ano e meio! - começo a rir, já conheço este showzinho. - Então amiga... Te liguei para falar sobre outra coisa, hoje o Jhon vai ficar com o Jr. para a gente poder curtir um pouco. Esta é a minha primeira folguinha em 3 meses. Você sabe que não tem o direito de recusar, né? Uma amiga de verdade nunca recusaria um convite deste.

Mel - Você está ciente de que isso é chantagem emocional, né? - ouço ela abafando o riso - Mas como você vai comigo na sexta, eu saio com você hoje sim. Onde vamos??? - faço charme mas sei que estou precisando sair, e quando é assim sei que ela está precisando conversar e se distrair um pouco.

Lara - Pensei em ir conhecer aquele restaurante que também é um PUB novo que te falei. Lembra? Dizem que a comida lá é ótima e hoje tem Jazz ao vivo! Pensa amiga? PER.FEI.TO! - ela enfatiza bastante.

Mel - Por acaso, a banda do Jordan não vai ser a atração da noite lá né? - ela tenta me juntar com este primo dela a tempos. Ele é legal, bonitinho, mas sabe quando não rola? Não sei explicar. Gosto dele, mas não para ser meu namorado

Lara - Jordan? Quem? - som de assobio - nem sei onde ele está tocando amiga, eu juro! - Sei... cara de pau!

Mel - Que hora a gente se encontra lá trambiqueira?

Lara - Ele me falou que a apresentação começa as 20:00 amiga. Mas se quiser podemos ir mais tarde. Vai ficar atendendo até que hora hoje? - ela nem percebeu que falou "ele falou". Sabia!

Mel - Ele quem Lara? - finjo estar nervosa.

Lara - Ele? Quem é ele Mel? Tá doida? Tá ouvindo coisas sua louca! Nos encontramos lá as 19:30, pode ser? - ela fala rápido achando que me enrola

Mel - Tudo bem amiga a gente se encontra lá às 19:30. Só uma coisa... Não pense que me enganou. Não me mate de vergonha. O Jordan é um cara legal, mas a gente já viu que não rola nada entre a gente. - Já falei isso mil vezes.

Lara - 19:30 amiga. Até mais tarde o Jr está chorando tenho que ir! Beijo. Te amo. - eu amo esta malandra, ela já me ajudou muito.

Mel - Também te amo, mesmo você sendo mentirosa. - não aguento esta Lara, ela me diverte.

Volto aos atendimentos no Centro Comunitário onde eu fico até às 17:00. Depois que termino recolho as minhas coisas e sigo para casa. É uma viagem de 45 minutos. Conecto meu Spotify e vou ouvindo e cantando junto com as minhas músicas aleatórias. Chego em casa um pouco antes das 18:00 faço um lanche, confiro a minha agenda do consultório de Wall Street e vejo que tenho um novo cliente encaixado na agenda de quinta, um tal Sebastian Hant. Acho que já ouvi este nome, só não sei onde, mas ok. Fecho a minha agenda e vou para o banho.

Às 19:00 já estou pronta, escolhi um macacão longo com bastante cor e fesquinho, hoje está abafado então acho que é o ideal, deixo o cabelo solto natural. Make bem básica, e está ótimo! Não é como seu eu estivesse indo encontrar meu futuro marido.