Dividido entre dos polos

Após Cléo estragar aquele momento com Vick. O acompanhei indo para casa na dele, sem demonstrar nada além de cordialidade e agradecimento com o livro na mão, acenou ao entrar porta dentro e a fechou criando em mim uma instabilidade de sentimentos e voltei para Cléo que se mostrou insatisfeita.

- Você está mais radiante! — Cléo sorriu sorriu e eu fiquei bem confuso com os meus sentimentos e minha displicência em demostrar.

- Ele sofreu um acidente logo cedo e...

- Passou a manhã inteira com ele e não teve coragem de sair disso!

- Ele é meu vizinho, eu sou bem mais velho do que ele e ele tem cara de adolescente.

- Mas não é, Beth disse que é bem misterioso e puxou a ficha dele e nada!

- Nossa, aqui as coisas andam bem rápido. Beth deveria considerar que ele é na dele.

- Ele é novidade, Túlio. Todos os olhares estão para ele, ainda mais amigo de quem é. Fabi é um problema e todos aqui sabem disso. O único fato dos Guimarães deixarem ela aqui é a rixa de Beth com Fátima. Tipo, é como se fosse um castigo para gente.

- Ele é bacana, como já disse na dele e tem namorado, eu acho, amanhã eles viajarão. Eu transpareci muito minha alegria de está curtindo nosso vizinho, sem, necessariamente, me iludindo com a possibilidade de ser mais do que isso.

- Não estou te julgando, está bem. Mas toma cuidado, ainda é um homem ferido e você entende que Gilberto só foi embora, por que sua ex sogra deu uma bolsa de estudos para ele ir, só você que não quer reconhecer isso.

- A filha dela estava doente e eu desesperado. Não posso julgar Sabrina por ter se intrometido. Gil poderia ter recusado, mas tudo entre a gente ficaria embaraçosos e não estava disposto a lutar por ele e por Solange ao mesmo tempo.

- Peço desculpas por interromper esse seu lance, mas confesso que senti ciúmes de vocês dois. Às vezes, considero a ideia da separação; três filhos, um marido que me trai e eu o traio e não tenho nenhum interesse em buscar uma saída além dessa. Os meus bebês merecem ter uma vida legal por enquanto e sozinha não teria como e brigar com Rubens será brigar com a família inteira, inclusive a minha.

- Relacionamentos são sempre problemáticos, né.

- Não perca seu tempo querendo ser algo que não é. Sei que é um ótimo pai, quem dera se meu marido chegasse e ficasse um minuto com meus filhos, Adoraria me mudar para cá, mas entendo que meu lance com você é uma amizade colorida onde tiramos proveito um do outro e é só isso.

- Até que não seria tão ruim, assumir que tenho um caso com a vizinha e nos juntarmos. Eu sempre quis ter mais filhos, eu penso em adotar uma duas crianças no futuro, sabe.

- Se você se acendesse como se acende só em falar nesse Vick e se míngua dá maneira que você fez ao vê-lo partir por mim, eu jogaria tudo para o alto e seríamos felizes.

- Não é dessa forma, Cléo.

- É sim. Eu quero encontrar alguém que brilhe ao me ver. Será tão difícil querer mais da vida?

- Vem aqui.

Encostei seu corpo em meu colo no sofá e acariciei seu rosto carente a abraçando como ela fazia quando estava na pior fase do meu luto.  Pensei em todas as coisas ditas e me vi ali com Cléo, minha única confidente naquele condomínio querendo muito incentiva-la a dar um basta em seu casamento, mas como um bom cristão, não fala essas coisas. Um cristão hipócrita talvez. A complexidade dos relacionamentos humanos nos leva a manter uma postura inerente a muitas questões e me senti envolvido em causa que não podia resolver e meu apoio era apenas superficial. Transamos naquela sala sem estar um pingo a fim, mas Cléo era tão manipuladora — não entendo como ela não conseguia ser assim com seu marido — minha teoria é que ele é advogado e isso já explica muito.

- Quer me chamar de Vick?

- Só continua! — as preliminares me fizeram viajar e só de encarar a casa da frente já era um ponto positivo em me sentir mais envolvido com Cléo.

Seus cabelos são na altura dos ombros e com as pontas douradas e onduladas, mas uma vez fiquei puto com a ideia daquele meu vizinho corno — até eu fico triste com essa palavra no pensamento — ter uma mulher dessas e não valorizar, ela encima de mim, me fazendo gozar sem nenhum pudor e sem pena de sentar me olhando nos olhos. Ela foi embora assim que conseguiu o que queria de mim e ainda teve a audácia de sair tomada banho da minha casa.

- Seu marido ainda acha que sou gay?

- Me emprestar seu creme hidratante! — mas você é, na verdade você é bi.

- Não verdade, acho que pego mulher por conveniência. Fui criado para ser hétero.

Cléo ria de mim e saiu da minha casa perfumada e com seus cabelos molhados. Pelo menos tive um dia cheio e tudo que planejei de ler e analisar algumas coisas caíram por terra e estava cansado e terminaria de comer o que sobrou do almoço onde estava muito bem acompanhado por Vick e ligar para saber dos meus amores.

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