7 Quem é ela afinal

Enrico dirige devagar pelas ruas pensando em Alice.

Ela mora numa casa chique, nada comparado as mansões Morelli, mas também não era simples, no mínimo eram ricos, e ela frequentava o La Nostra Famiglia, que mesmo parecendo simples mantêm clientes de alto padrão, " Mas porque diabos ela trabalha no Vita con Caffé? " pensa ele.

Enrico não despreza isso, mas sabe que famílias daquela região não deixam as moças trabalharem assim, os pais dão o melhor pras suas filhas, a casa que Alice mora fica num bairro nobre próximo a sua Vila, então certamente eram donos de alguma empresa. Dirigia tão perdido nos pensamentos que mal reparou que já está no portão da Vila que se abria.

Ao entrar em casa Enrico  corre para ver Pietro e relaxa vendo que o filho dorme como um anjinho sorrindo vai para o seu quarto e tira a roupa entrando no chuveiro. De pijama ele se joga na cama e acaba adormecendo.

Alice está ofegante " que bobagem essa sair correndo Alice" pensa enquanto senta por um minuto na sala de estar, logo sobe a escada de mansinho para não acordar ninguém. Assim que entra em seu quarto ela já corre para o banheiro e depois de um longo banho se troca sentando na cama pensativa.

"Que noite maravilhosa" ela deita fechando os olhos, tudo que queria era uma boa noite de sono e assim foi, pois adormeceu.

Um novo dia começa e lá está Alice atendendo as mesas quando é chamada para fazer a entrega.

Na empresa Enrico está imerso em relatórios e contratos.

— Sr Enrico o café da manhã já chegou, posso servir? — Marta a secretária informa.

Enrico olha através da fresta na porta e percebe que é Alice.

— Deixe a moça entrar Marta, e me traga os papéis sobre a reunião com os Carters daqui 1hora.

— Sim Sr. — ela já indica para Alice entrar e sai fechando a porta.

— Bom dia, posso arrumar a mesa? — Alice se adiantou

— Per favore. — Ele olha ainda pensativo "por que você faz isso Alice?"

Na sua mente não fazia o menor sentido, não se encaixava. Ao contrário daquela noite, agora ela parecia tensa, fria, talvez só estivesse cansada. Uma voz o tira da distração.

— Está tudo pronto Sr Morelli, ah em agradecimento foram inclusos Cannolis de chocolate, cortesia da casa. — Ela fala sorrindo caminhando até a porta.

— Grazie, é por isso que aprecio o Vita con Caffé, sabem agradar e cativar seus clientes. — Ele comenta enquanto vai até a pequena mesa pegando um biscoito.

— Nós que agradecemos a preferência Senhor, bom apetite e tenha um excelente dia. — Ela já abre a porta.

— Grazie, bom dia... — Antes que ele falasse mais ela sorri e sai fechando a porta.

"Ela nunca teve tanta pressa, nem mesmo brincou com Pietro, ou não percebi?" pensa enquanto seus pais entram se juntando a ele na pequena mesa para comer.

— Filho está no mundo da lua, acabei de ver Alice saindo. — Francesca fala rindo.

Enrico volta sua atenção à mãe.

— Ah sim, não é nada apenas pensando mãe.

Todos comem e começam a trabalhar.

Alice mais uma vez ali naquela sala, diz para si mesma para agir indiferente, aquela noite jamais se repetiria, reparou que Enrico estava distraído e brincou com Pietro, mas logo se recompôs e foi avisá-lo que podia se servir. Ela ainda não entendia porque tanta regalias a ele.

Voltando a cafeteria que como sempre está lotada, então ela rapidamente esquece de tudo e começa a tirar pedidos nas mesas.

Enrico está indo pra casa e resolve parar no Vita con Caffé, ao chegar todos olham menos Alice que parecia bem calma e entretida com seu trabalho, ela realmente devia gostar do que fazia.

Dante rapidamente veio até ele e o conduziu ao escritório.

— Que honra ter você aqui Enrico.

— Não precisa me bajular Dante, me diga quem é essa moça que atende nossos pedidos, quem são seus pais? — Enrico pergunta sério , pois não suporta olhares curiosos.

— Sinto não ter muito o que dizer, até onde sei ela veio do Brasil há 3 meses mais ou menos, sobre a família dela não sabemos nada, ela é bem reservada, mora num bairro nobre mas trabalha aqui, as vezes sai daqui andando outras um casal de amigos vem buscá-la. Parece já ter tido uma carreira, já ouvi dizendo que ela não deveria estar aqui mas ela nunca reclama ou fala a respeito, todos a amam, simpática e atenciosa. Os casais que tem filhos então agradecem quando ela está aqui.

— Entendi, bom eu vou me sentar e peça que ela me sirva.

Alice está exausta, nunca tinha visto a cafeteria tão cheia, trabalhava dobrado muitos dias para ocupar a mente, tinha noites que ela não dormia direito, sentia falta da família, mas precisava continuar firme e se erguer. Alguém tocou o seu braço a fazendo despertar dos pensamentos.

— Desculpe Sr Dante, já volto ao salão.

— Não se preocupe Alice, tem trabalhado demais, atenda a mesa reserva lá do fundo por gentileza. Seja discreta. — Dante fala sorrindo e ela relaxa.Ele era um ótimo chefe.

Alice atravessa o salão cumprimentando os clientes e logo chega até Enrico, ela não havia percebido ainda, estava distraída acenando para uma criança quando se vira e vê quem é " Quer dizer que agora ele vem aqui também, sorriso bonito, Pietro tem os mesmos olhos" que raio de pensamento é esse agora Alice. Ela concerta a postura e sorri educadamente.

— Boa Tarde Sr Morelli, posso tirar o seu pedido?

— Não precisa me chamar de senhor por favor. — Enrico fala firme.

Ela fica em silêncio por um minuto e sente um arrepio subir por todo o seu corpo.

Ele nota que ela ficou tensa e começa a pedir.

— Ok Sr, trago em alguns minutos. — Alice anota no caderninho e dá as costas.

Ele observa ela fazendo o pedido ao pessoal e sorrindo com um colega que a abraça, depois indo pra uma pequena área de brinquedos e as crianças se agitando com ela. " Quem é você afinal? " pensa ele e imaginando o porque ela veio de tão longe, porque garçonete se ela tinha uma carreira e então manda uma mensagem para Bob seu investigador particular.

* Quero saber tudo sobre ela* e anexa uma foto não muito boa mas servia.

— Sr Morelli.

Ele ergue a cabeça e indica pra ela servir.

— Grazie. — Ele pega Pietro na cadeirinha e pôe no colo sentindo o cheiro de xixi. — Meu pequeno isso é hora — fala sorrindo — Onde eu posso trocá-lo?

— Temos o fraldário, mas se quiser eu posso ajudar. — Ela dizia olhando para o bebê.

— Não vai te atrapalhar?

— De jeito nenhum, vem Pietro — Alice fala e o pequeno ergue os bracinhos — me dá a bolsa dele, jajá eu volto com ele cheirosinho.

Enrico entrega o bebê e a bolsa, logo vendo ela sumir num corredor, tudo isso o intrigava, ele mal a conhecia mas por algum motivo confiava seu filho a ela. Claro que tinha no mínimo 5 seguranças ali dentro disfarçados, mas ninguém sabia disso.

Enrico é CEO da empresa da família, mas discreto, não se via quase fotos dele, tanto que raramente o reconheciam, e mesmo reconhecendo ninguém ousava tira uma  foto sequer, e os poucos que tiravam para fazer fofocas não tinham outra chance. As pessoas nem mesmo sabiam do seu filho, alguns achavam que era filho de um parente, e como ele não mostrava Pietro ao mundo, preservava o segredo.

Nessa hora ele pensa em Alice indo com o filho dele, se ela tirasse uma foto, se falasse com alguém, "ela não seria capaz, estaria acabada sabendo quem sou" mas antes que continuasse com pensamentos ridículos ouviu um riso.

Pietro batendo os bracinhos no peito de Alice enquanto ela ria e brincava com ele.

— Pronto papai estou cheiroso — ela fala como se fosse o filho que nesse momento queria colo do pai. — O Sr deseja mais alguma coisa?

— Grazie, você gosta de trabalhar aqui?

Que pergunta estranha para um cliente fazer.

— Sim Sr. — ela se limitou.

— Não pensa em estudar? Trabalhar numa empresa grande? — Ele está bem curioso a deixando confusa.

— Tanto faz, gosto de estar aqui e busco dar o meu melhor. — Ela diz tentando encerrar o assunto.

Enrico percebe ela nervosa.

— Gosta de crianças?

— Sim Sr, amo crianças.

Um silêncio se instalou no ar e então ele sorri e se volta para o filho.

Alice dá graças a Deus por ele ter parado e volta ao trabalho. Ao olhar o relógio decide finalizar o dia de trabalho, avisa Dante que sem pensar manda ela ir para casa.

Enrico percebe de longe que ela fazia sinal de ir embora, então pega Pietro e sai já do lado de fora ele aguarda ela sair e manda seu motorista a seguir sem dar bandeira.

Alice anda tão distraída no caminho para casa que não percebe que está sendo seguida. Ela para numa pequena praça e se esconde atrás de uma árvore, estava escuro então ninguém podia vê-la.

Enrico fica intrigado, era um bairro nobre mas não era hora de uma moça estar sozinha num lugar escuro como aquele. Sai do carro devagar e vai observando ela de longe quando ela se esconde ele se aproxima de forma que ela não via e fica ali até ouvir algo e presta mais atenção.

— Você acha mesmo que ele ficaria com você? — voz feminina. — Foi uma brincadeira — voz masculina. — Você pode ir pra outro país mas não pode esquecer querida — voz feminina.

Ela desliga e deleta todas as mensagens, escora na árvore e deixa as lágrimas rolarem.

— Porque ele tinha que fazer isso, eu vou esquecer, preciso seguir minha vida, vocês podem ter destruído meu coração, mas eu vou conseguir me erguer de novo. Agora vocês não podem tirar meu trabalho de mim. — Ela fala sozinha na escuridão e Enrico fica ali parado pois mesmo querendo não podia se aproximar nem dizer nada.

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