Faíscas de gelo

Enzo Ricci olhava para minha filha com surpresa e uma pitada orgulho, ele então me olhou firme e friamente.

__Srta. Helena Puzzo estou realmente surpreso com a educação de seus filhos, para uma mãe que cria os filhos sozinha devo dizer ser um excelente trabalho, me pergunto se o pai dessas crianças poderiam lhe ensinar algumas lições tão boas?

Essa pergunta me parecia um pouco de ressentimento e raiva, decidi ignorar o seu tom arrogante e o encarei firmemente, mas quem respondeu foi meu pai.

__Helena não cria eles sozinha, ela tem todo nosso apoio e carinho, amamos nossos netos e nunca tivemos necessidade e nem vontade de conhecer o crápula do pai deles, eu o mataria com as próprias mãos se o visse algum dia.

Meu pai disse com tanta raiva nos olhos que as crianças ficaram assustadas, meu pai percebeu então que disse aquilo em voz perto de Rico e Tella, chamei Antonieta a babá das crianças e pedi para que ela os levasse para o quarto.

__Senhor Ricci, o senhor é sempre bem-vindo já que é amigo do meu irmão, mas jamais fale sobre o pai dos meus filhos na frente deles, o senhor não sabe de nada, nem tem o direito de saber, agora em relação ao seu afilhado irei arcar com as consequências do ato das coisas que ensinei ao meu filho, sozinha.

Enzo me olhava como se quisesse me congelar e me estrangular, todos perceberam a tensão no clima.

__Helena Puzzo você não pensou em algum dia descobrir quem poderia ser o pai dos filhos, fiz uma simples pergunta porque tanto problema em responder?

__Não tenho problemas em responder, se é de uma resposta que precisa então não, eu nunca tive vontade de saber quem é o pai dos meus filhos, depois do aconteceu espero que ele esteja morto queimando no inferno.

Ele me olhava cada vez mais ferozmente e parecia que entraríamos em guerra a qualquer momento, até um corpo pequeno correu e pulou no meu colo chorando.

__Mamãe não quero causar problemas para a senhora irei pedir desculpas por favor não brigue com esse homem ele me da medo.

Rico estava me abraçando e chorando, Enzo suaviza o olhar quando vê Rico em meus braços.

__Enrico certo?

Meu filho levanta a cabeça soluçando e chorando e olha para Enzo concordando.

__Eu não vou brigar com sua mãe Enrico, só estávamos conversando como adultos.

__O senhor tem faíscas de gelo nos olhos quando olha para minha mãe eu não gosto disso.

De repente Tella estava na minha frente também, calma e passiva como sempre, nada abala sua serenidade, ela parou de frente para Enzo.

__Sr. Ricci perdão meu irmão é sempre emotivo, a causa de todo esse problema sou eu, não irei deixar que o senhor desconte na minha mãe, tampouco que diga que preciso de um pai eu tenho meu tio e meu avô, qualquer homem que faça minha mãe sofrer merece o inferno.

Tella olhava para Enzo com um olhar extremamente  intimidador, para uma garotinha de 5 anos ela tinha uma aura mais dominadora que a maioria dos CEO's que eu conhecia no mercado de trabalho, Enzo se abaixou e olhou para Tella com um pouco de reconhecimento e carinho, levou a mão para acariciar seu rosto e por incrível que pareça Tella não hesitou.

__Ok Donatella você é quem manda.

Enzo olhava com muita admiração para Tella, ele se levantou e então se virou para mim.

__Parabéns Srta. Puzzo seus filhos são lindos e inteligentes.

Ele se virou despediu-se de todos e foi embora. Rico adormeceu chorando em meu colo, Vitto pegou ele e o levou para cama, Tella foi sozinha ao quarto, meus pais estavam em silêncio vendo aquela cena o tempo todo, me sentei ao lado deles e me permitir chorar um pouco com as lembranças de seis anos atrás.

♤♤♤♤♤♤♡ FLASH BACK♡ ♤♤♤♤♤

Seis anos atrás...

__Helena me fala a Itália não é linda, ainda bem que seu pai deixou a gente ficar aqui durante o intercâmbio.

__Susana é sim, apesar de que já vim aqui e sempre achei a Itália linda.

__Aliás seu irmão é um gato, mas é tão distante tirando você e seu pai ele parece não gostar de ninguém.

__Não só parece como de fato é, o convívio dele se resume a três pessoas, meu pai, eu e minha mãe e ele nem tem o sangue dela, a mãe de Vitto morreu no parto, meu pai criou ele sozinho, depois de uns anos os dois viajaram para o Brasil e meu pai conheceu minha mãe, meu pai se apaixonou pela maluquinha da minha mãe a primeira vista que na época decidiu que jamais se casaria e passaria vida com seus trinta e poucos gatos, ele trabalhou arduamente para conquistar minha mãe, no fim ele conseguiu e ela engravidou de mim, ele assumiu a paternidade e me trata muito bem apesar de não estar muito presente na minha vida, ele sempre pede ela em casamento e ela sempre diz que não é o momento, ela não quer abandonar a floricultura que abriu com tanto esforço, mas todos os anos ele pede ela em casamento, ele sempre diz que "Só falha, quem não se arrisca em tentar" e foi isso.

__Acho linda a história dos seus pais, não sabia que seu pai era tão rico.

__É tem essa parte, mas eu não me importo a história é mais bonita.

Susana bufou com deboche e deu uma risada, andamos pelas ruas e voltamos para casa.

Uma semana depois na Itália Susana estava estranha, me olhava sempre com indiferença e até foi embora da casa do meu pai, na última aula de intercâmbio das férias resolvi ir atrás dela.

__Susana o que aconteceu? Alguém te ofendeu? Porque saiu sem falar nada, todos ficamos preocupados.

__Sua família parece não gostar de mim Helena, seu irmão e seu pai estão sempre de cara fechada comigo e não me sinto bem.

__Não é isso eles só não estão acostumados com outras pessoas la em casa.

__Eu volto com uma condição.

__Qual?

__Você precisa ir comigo em uma festa, eu me meti em uma encrenca e preciso acompanhar uma pessoa para poder recuperar meu passaporte, preciso que você vai para me dar cobertura.

__Meu Deus Susana isso é grave melhor pedir ajuda pro meu irmão.

__Não, eu sabia que não podia confiar em você com sua família perfeita Helena.

Susana estava apreensiva e suando frio, percebi que ela estava desamparada.

__Ok eu vou.

Ela sorriu e me abraçou e então fomos para casa dela e nos arrumamos, eu disse ao pai e Vitto que estudaria até mais tarde então não ia chegar cedo em casa, Vitto disse que viria me buscar, mas neguei, cheguei em uma ‘boate’, muito estranha, eu fiquei em um canto enquanto Susana pegava algumas bebidas, nós bebemos e logo chegou alguns homens e conversaram com ela, não ouvi muito bem devido ao barulho e o álcool então resolvi ir ao banheiro e lavei o rosto, quando voltei os caras tinham ido embora e Susana tinha pego mais bebida, tentei recusar, mas ela disse ser a última da noite, então viramos mais um ‘shot’, minha visão ficou muito mais turva, meu corpo estava leve e tive a sensação de estar sendo carregada, as pessoas diziam algo que eu não entendia, senti estar perdendo a força do corpo, alguém tinha me pegado e eu estava fora de mim, comecei a tentar me debater, mas não funcionava, consegui esmurrar o peito duro de alguém senti um pedido de ajuda sair de vagar e baixo dos meus lábios, um pedido de socorro, o aperto nos meus braços foram soltos e quando senti estar caindo braços fortes me segurou pela cintura e me levantou do chão, escutei a pessoa perguntando meu nome, mas um calor repentino subiu entre minhas pernas e senti meu corpo pegar fogo, com a visão ainda embaçada levei meus lábios até os da pessoa que estava me segurando, ela respirou fundo e perguntou meu nome novamente, tentei abrir a boca, mas não sei dizer que saiu algum som.

__Pzz.... Puz..... Puzzo, Helena.

A pessoa me segurando suspirou fortemente e me olhou um pouco, não resisti em levar meus lábios a sua boca novamente, dessa vez ela não resistiu e me beijou de volta grunhido, ele disse algo que não pude ouvir direito, depois se abaixou em meus ouvidos e disse algo que ouvi melhor.

__Se acalma princesa vai ficar tudo bem.

Eu balancei a cabeça e senti estar sendo deitada em uma cama aquele calor de novo subiu por mim e antes de ser deitada enlacei minhas pernas no homem e o beijei de forma selvagem perdendo o controle ele não resistiu e se entregou.

No outro dia acordei e já não tinha mais ninguém no quarto além de mim, apenas algumas sacolas de roupas novas e um café da manhã, me levantei e observei a mancha de sangue no lençol e chorei, chorei horrores, minha família ia me matar, após me recompor tomei meu café e um banho e vesti as roupas, fui embora do hotel direto para o Brasil, apenas avisei meu pai que fui mais cedo.

♤♤♤♤♤♤♤♤fim♤♤♤♤♤♤♤♤♤♤

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