De volta ao passado: Entrelaçados (p-2)

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Raoni estava sentado em seu quarto, o garoto pensava em uma forma de salvar seu amigo Tauan que estava a muitos dias preso após os dois terem recebido a sentença de castigo dada pelo imperador. Com certeza seu amigo guerreiro não devia estar comendo.

“ Foi tudo minha culpa” Disse o garoto em sua mente, olhando através da janela. Logo, ele lembrou- se de um passagem secreta que ficava na porta da frente de seu aposento como uma saída de emergência, pegou um pedaço de pão e escondeu em suas vestes. Mas como conseguiria vencer todos àqueles guardas. E como uma bênção do Criador, houve um movimento suspeito do lado de fora do lugar e enquanto os guerreiros foram checar e fazer a guarda.

O jovem abaquar aproveitou para sair de seu quarto e atravessar a passagem secreta que levava até a prisão. Enquanto, atravessava a passagem Einapuã, que preparava-se para trazer um chá de ervas para o garoto viu que ele estava a escarpar. Todavia, viu que a guarda estava retornando, e para que seu castigo não fosse maior, disfarçou e pediu licença para entrar em seus aposentos. Como se o garoto se encontrasse no lugar.

Alguns minutos depois, Raoni chegou ao centro das prisões. Ele observou muitas vidas que se encontravam de forma miserável. Haviam pessoas de seu próprio Clã e de outras tribos.

“ Um dia talvez, consiga construir uma nação mais justa.” Pensou, cerrando os punhos, mas para isso teria que ser forte e saber camuflar seus sentimentos. E enquanto estava perdido em seus pensamentos, escutou um leve sussurro.

—Príncipe herdeiro! Sussurrava Tauan, que estava em uma prisão solitária.

— Tauan! Disse Raoni, indo de imediato ao encontro do amigo.

— Tauan! Disse o garoto segurando nas grades da cela.

— Jovem abaquar, o que faz aqui? Perguntou o menino preocupado.

— Vim trazer um pedaço de pão. Hoje tive a certeza que será minha pessoa de confiança. Falou Raoni.

— Fico muito feliz com suas nobres palavras alteza! Agradeceu Tauan, colocando o pão na boca e mastigando, pois estava faminto.

— Desculpa ter te colocado nessa situação , eu jamais imaginei que ...

— Shiii... Interrompeu-o Tauan, antes que Raoni terminasse sua fala. — Você está escutando esse canto de pássaro? Perguntou. Enquanto Raoni, notou que o som era verdadeiro e colocou-se a observar ao redor.

— Um canto de sábia, mas é difícil que um cante a noite. Falou Raoni. Foi quando o garoto observou atrás dos barris, duas crianças . O mais velho era a pessoa que assoviava como um pássaro e tinha uma pequena garota que era muito bonita.

— Quem são aquelas duas crianças? Questionou Raoni, enquanto Tauan olhou na direção dos barris e viu que guardas entravam pelo portão.

— Jovem mestre, por favor. Saia daqui agora! Os guardas estão vindo. Disse Tauan aflito, enquanto Raoni apressou os passos e tentou se esconder atrás de uma parede. De lá ficou acompanhando os passos do guardas e acabou por escutar a conversa.

— Tenho certeza que vi duas crianças vindo nessa direção. Falou um dos guardas.

— Acho que você se enganou, pois até agora não os vimos . Mas vamos procurar uma última vez naquela direção, se não virmos ninguém você vai ter que me entregar sua parte no jantar. Disse o segundo, enquanto os dois caminharam alguns passos, quando estavam um pouco distantes, Raoni saiu do esconderijo, mas ao caminhar fez um movimento Brusco que chamou à atenção dos homens.

O garoto ficou em pânico. Mas logo Kaolim o empurrou novamente para o esconderijo. Raoni ficou atônito, e olhou de relance o rosto da garota que o encarou, e percebeu que ela possuía um cordão com um símbolo de uma águia em seu pescoço, mas logo correu, pois o guardas vinham na direção dela.

— Pare aí sua garota insolente. Gritava um dos guardas. Foi quando Ibacém jogou sua lança na direção dele.

— Quem ousa tentar me acertar? Falou o homem enfurecido? Foi quando percebeu que Ibacém era quem o tinha acertado. Kaolim, aproveitou o momento de distração do guarda e correu na direção do portão de saída. Mas acabou sendo bloqueada pelo segundo guarda. A garota passou por baixo da perna do homem. E Ibacém por cima dele, ambos correram para à saída.

— Parados aí! Gritavam, indo atrás deles. Como meras crianças podem ser tão rápidas.

Raoni ficou petrificado, se não fosse por aquela garota, com certeza seu castigo poderia ter sido a morte.

— Jovem abaquar. Chamou Tauan ao garoto que rapidamente se levantou e se mostrou ao amigo.

— Por favor, jovem abaquar volte para o seu aposento. Não piore sua situação, as coisas já ficaram bem complicadas, por pouco não te veem.

Raoni escutou o que o amigo disse, então rapidamente preparou-se para sair, contudo viu que Terra, o prisioneiro Apoema o encarava. Mas logo, foi desperto pois escutou movimentos ao longe. De imediato o menino se retirou, enquanto terra permaneceu o encarando.

— Iktah aaquetu içã le baquer! Disse o homem essas palavras. — Que significa, seu destino começa agora.

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Kaolim e Ibacém continuavam correndo pelas montanhas, os dois se desfizeram das roupas que se apoderaram no reino dos Vivás e se camuflaram entre as pedras e plantas.

Ibacém fez sinal com as mãos para Kaolim fazer silêncio e tentar se controlar. A garota apreensiva, começou a segurar o choro, pois os Vivás não eram como os animais que cansavam, eram insistentes e ainda estavam os seguindo.

— Tenho certeza que aqueles patifes vieram por aqui! Falava irritado.

— Onde vocês estão crianças? Chamou o outro, enquanto empunhava uma espada. — Por que se escondem! Dizia.

Kaolim e Ibacém continuaram mantendo silêncio, até que foram surpreendidos pelos homens.

— Achamos vocês!

— Corre Kaolim! Gritou Ibacém... para a garota que conseguiu fugir, enquanto seu amigo lhe dava com os guardas. No entanto, não conseguiu ir muito longe. E ficou vendo, como aqueles homens sem coração machuvam Ibacém. E não cessaram, até um empunhar uma espada e passar sobre o rosto do garoto. Kaolim, abafou o choro e o grito de desespero enquanto os homens falaram.

— Vamos deixar esta marca, para aprender a lição e nunca mais entrar para roubar no palácio. Disseram sorrindo. Logo depois, ambos foram embora.

Quando Kaolim notou que não havia mais movimento algum , ela se aproximou de Ibacém e, ao olhar a figura de seu amigo com o rosto marcado. Cerrou os punhos e suspirando fundo disse em sua mente:

“ Tão certo como essa terra existe, assim será meu desprezo pelo povo que machuca meu povo!”

Nenhum Vivá é digno de confiança!

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