Recomeçando em Outro Mundo
Meu nome é Gabriel Hoffman.
Tenho quinze anos. Eu sou um garoto comum que leva uma vida um tanto medíocre. Eu não saio, não tenho amigos próximos e não possuo nenhuma característica muito excepcional, nem nada de especial. Na minha própria opinião, eu tenho uma vida muito pouco invejável, mas fazer o que, não é?
Eu tenho um irmão um ano mais novo do que eu, chamado Jonathan, que é muito parecido comigo em algumas coisas e é muito diferente de mim em outras, afinal, nós somos irmãos, não clones. O Jonathan é o tipo de garoto que costuma agir primeiro e pensar depois, enquanto eu prefiro fazer o contrário. Ele não consegue ficar parado por muito tempo e, se você o forçar a isso, é capaz dele enlouquecer. Ele também gosta de praticar esportes, enquanto eu sou consideravelmente mais sedentário e não me orgulho disso, mas excesso de movimento físico realmente não é comigo.
Nós dois moramos com nosso inútil pai, que só sabe fazer duas coisas na vida: dormir e beber. Desde que nossa mãe faleceu, ele se tornou alcoólatra e não consegue se estabelecer em nenhum emprego. Até o ano passado, nós frequentávamos a escola igual a qualquer outro adolescente da nossa idade, porém, devido à falta de dinheiro e o acúmulo de dívidas, eu e meu irmão paramos de estudar.
O único conhecimento que adquirimos desde então vem dos livros que a dona de uma biblioteca próxima, a Sra. Teresa, nos fornece. Ela nos conhece desde crianças e sabe da nossa situação, então ela decidiu nos ajudar fornecendo livros para que possamos continuar aprendendo.
Certo dia, em um fim de tarde, eu e meu irmão estávamos no quintal dos fundos da nossa casa. Eu estava sentado perto da árvore que havia lá, mergulhado em um livro, como de costume. Já o meu irmão estava se exercitando como ele sempre fazia. Ele corria para lá e para cá, fazia agachamentos, abdominais e uma série de outros exercícios que fugiam da minha alçada de conhecimento. Eu era um completo noob quando se tratava de exercícios físicos e ficava impressionado com a energia e a disciplina do meu irmão.
— Você não se cansa não? — Perguntei para ele enquanto ele passava por mim.
— Jamais! — Ele respondeu sorridente. — Eu tenho que aproveitar enquanto eu ainda sou jovem!
Eu balancei a cabeça, admirando o comportamento do meu irmão em relação à sua saúde, mas não era algo que eu compartilhava.
Era uma tarde de outono e o clima estava agradável. O céu estava sem nuvens e o sol brilhava de forma suave. Eu estava terminando meu livro quando, de repente, ouvimos a porta da frente bater.
— O pai chegou cedo hoje. — Eu disse ao Jonathan.
— Quer apostar quanto que ele foi expulso do bar de novo? — Ele debochou.
— Não quero apostar nada. Tenho certeza de que foi isso mesmo.
Em poucos minutos, nosso pai apareceu pela porta dos fundos. Ele estava com um olho roxo e eu podia sentir o cheiro do álcool mesmo com uma distância de quase três metros nos separando.
— Pai, o que aconteceu? — Eu perguntei tentando parecer preocupado, mas, na verdade, eu não me importava muito com o que acontecia com ele.
— Nada que interesse a vocês dois. — Ele respondeu, mal-humorado como sempre. — Eu preciso que vocês vão buscar cerveja para mim.
— Agora?! — Jonathan protestou. — Mas já está quase anoitecendo.
— Vão agora! — Nosso pai gritou, irritado.
Jonathan cerrou os punhos e estava prestes a discutir, mas eu coloquei a mão em seu ombro.
— Nem tente, Jonathan. Não vale a pena.
— Aff, tudo bem... — Ele resmungou, derrotado.
Tentar argumentar com nosso pai era inútil, especialmente quando ele estava embriagado. Então, para evitar problemas, decidimos sair e ir buscar a cerveja que ele tanto queria. Fechamos a porta atrás de nós e uma leve brisa gelada soprou sobre a gente. As árvores da rua estavam sem folhas, tornando o cenário típico de um outono.
— Vamos passar na biblioteca no caminho. — Falei. — Estou terminando aquele livro e quero pegar outro para ler depois.
— Tudo bem. Quanto mais tempo ficarmos fora de casa, melhor. — Ele deu de ombros.
Sempre fui um grande leitor e isso me permitiu acumular conhecimento sobre diversos assuntos. Ler era uma maneira maravilhosa de escapar da minha realidade caótica. Às vezes, quando eu me sentia sem saída, mergulhava em um livro e lia sem parar. Talvez fosse um pouco deprimente, mas teve seu lado positivo, pois, diferentemente de algumas pessoas que sabem muito sobre um único assunto, posso dizer que sei um pouco sobre quase todos os assuntos possíveis. Não querendo me gabar, obviamente.
O sol estava se pondo e as ruas começavam a ficar mais vazias. A brisa fria fez com que eu puxasse meu casaco mais para perto do corpo. Enquanto caminhávamos, ouvimos o som de música alta vindo de um bar próximo. Meu irmão olhou para mim com um sorriso debochado no rosto.
— Aposto que é de lá que ele foi expulso.
— Eu não duvido. — Respondi, com um sorriso de canto de boca.
...****************...
Senti uma sensação de alívio e conforto ao chegar na biblioteca. O cheiro característico de um espaço repleto de livros antigos e novos me invadiu as narinas e eu me senti em casa. Fomos direto à recepção, onde estava a Jessica, uma verdadeira beldade que sempre me deixava com um sorriso no rosto. Ela era a neta da Sra. Teresa e tinha um ano a mais que eu. Seus cabelos loiros caíam graciosamente sobre seus ombros, contrastando com seus olhos castanhos que brilhavam como os raios de sol em um dia ensolarado. Seu corpo ligeiramente voluptuoso era perfeito para mim, e meu lado adolescente e cheio de hormônios não conseguia resistir aos seus encantos.
— Oi, Jessica! — Meu rosto inteiro sorria para a garota à minha frente.
— Olá, Gabriel! Veio pegar algum livro?
— Sim! Posso dar uma olhada para ver se algum me interessa?
— Claro, vá em frente!
Embora a atração que eu sentia pela Jessica fosse inegável, eu sabia que não tinha a mínima chance com ela. Além disso, o meu lado racional gritava bem alto que eu deveria me manter distante e não criar expectativas ou ilusões. No entanto, isso não impediu que eu admirasse sua beleza e gentileza. Ela sabia da nossa situação e da permissão que a avó dela nos dava para pegar livros emprestados, então sempre nos recebia com um sorriso no rosto e uma atitude prestativa. Ou seja, além de ela ser uma verdadeira beldade, ela também era incrivelmente educada. Como não se derreter por uma garota dessas?
De qualquer forma, eu fiquei um pouco surpreso quando a vi lá na recepção, pois era um pouco raro vê-la trabalhando na biblioteca. Mas, bem, creio que nem todo mundo era um nem-nem igual eu e meu irmão. Ela provavelmente devia ser uma pessoa bem ocupada e tinha suas próprias coisas para resolver, então ficava na biblioteca só quando podia.
— Beleza! — Comecei a me dirigir para as estantes de livros.
Deixando meus pensamentos de lado, fui para a seção de ficção e fantasia, que eram os temas que mais me interessavam. Eu adorava ler histórias sobre mundos imaginários, onde os problemas eram completamente diferentes dos do mundo real. Era uma forma de escapar da realidade e mergulhar em aventuras emocionantes e intrigantes.
"Nada melhor do que ler histórias sobre problemas de mundos que não existem para te ajudar a esquecer os do mundo real", esse era um dos meus lemas.
Enquanto olhava as estantes de livros, pensei que talvez o fato de não poder desfrutar da presença da Jessica sempre que eu ia à biblioteca era o que tornava aqueles momentos mais especiais. Era como se eu tivesse que aproveitar cada segundo em que estava próximo dela, pois nunca sabia quando teria outra oportunidade. Mas, ao mesmo tempo, essa sensação de incerteza e instabilidade me deixava ansioso e inquieto. Eu sabia que não poderia continuar assim para sempre, precisava encontrar um caminho para sair daquele limbo e seguir em frente. Mas, por enquanto, estava feliz em estar ali, cercado por livros e pela presença da Jessica.
...**************** ...
Dei uma olhada em alguns livros, porém nenhum me chamou atenção e eu comecei a pensar que ia voltar para casa de mãos vazias naquele dia, tirando o fato de estar carregando as bebidas do meu pai, óbvio. Um garoto de quinze anos carregando várias cervejas ao invés de livros iria ser uma cena bem triste de se ver, se você parasse para analisar por uma certa perspectiva.
— Gabriel, dá uma olhada nisso aqui.
Jonathan estava olhando a estante que estava atrás de mim. Ele não era um leitor assíduo como eu era, creio que ficar parado lendo um livro não era uma ideia tão atraente para ele quanto era para mim. Porém, de vez em quando, um ou outro livro chamavam a sua atenção e ele os lia. Embora isso tenha acontecido poucas vezes, os livros que ele começava a ler, ele lia até o final.
— O que foi? — Perguntei.
— Esse livro fala sobre dois irmãos num mundo de fantasia, um que é extremamente habilidoso com magia e outro que é um espadachim extremamente veloz.
— Deixa eu dar uma olhada.
Eu peguei o livro e li a sinopse. Eis o que estava escrito: "Dois irmãos são levados para um mundo de fantasia e lá eles descobrem que possuem habilidades poderosas. A partir daí, eles começam a viver grandes aventuras com muitos altos e baixos, reviravoltas, conflitos e situações inesperadas. Com isso, eles decidem aproveitar essa chance e viver suas novas vidas ao máximo."
— O que achou? — Ele me perguntou isso já sabendo o que eu ia responder.
— Muito clichê. Eu passo.
— Verdade. Vou pôr ele de volta na estante.
Enquanto o Jonathan esticava seu braço, eu notei algo estranho. Bem estranho, na verdade.
— Jonathan, por que você está brilhando?
— O que? Eu não estou bri... — Assim que olhou para o braço que não estava usando, ele arregalou os olhos. — Meu Deus, eu tô brilhando!
Jonathan fez uma cara de espanto e começou a ficar desesperado, talvez pensando que ele estivesse prestes a morrer. Como sempre, ele estava sendo muito dramático para mim... ou, talvez, eu que estava sendo muito calmo porque, bem, ele realmente estava brilhando naquela hora e isso não era uma coisa que se via todo dia.
Então, ele parou e disse:
— Gabriel, você também está brilhando!
Eu olhei para a minha mão e notei que eu realmente estava brilhando também, mas, mesmo assim, eu não me espantei tanto. Na minha cabeça, poderia haver milhares de explicações lógicas para o que estava acontecendo ali e nada de ruim iria ocorrer conosco.
— O que tá acontecendo?! Por que estamos brilhando?!
— Eu não sei, Jonathan, mas vamos tentar ficar calmos.
Eu olhei atrás de mim para ver se tinha algum tipo de luz sendo refletida em nós. Nós não éramos nenhum tipo de espelho ambulante, mas, caso fosse uma luz muito intensa que estivesse sendo direcionada para nós, poderia passar a impressão de que nós é que estávamos brilhando. Mas logo descartei essa hipótese porque, além dela não fazer muito sentido, não havia nenhuma luz vindo em nossa direção.
— Ok... eu não sei porque isso está acontecendo, mas vamos tentar não entrar em pâni...
Quando me virei para frente, eu tomei um susto. Jonathan havia sumido.
— Jonathan? Jonathan?!
Meu irmão desapareceu de repente. Essa foi a hora que eu comecei a me preocupar, mas, para piorar tudo, a minha própria mão começou a desaparecer.
Foi aí, então, que eu soltei a única palavra que veio em minha mente.
— Droga...
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Atualizado até capítulo 236
Comments
jhulia madamana
gostei w bem legal gosto de livro co essa realidadw
2023-11-11
5
nibinubts Júlia
🫣
2023-04-28
1
nibinubts Júlia
conhecimentos vão estar em dia ✅
2023-04-28
0