Evelyn Maria
(Um ano depois)
— Sério isso? — encaro as mulheres à minha frente, todas usando decotes maiores que a minha boca.
Estou nos Estados Unidos há pouco tempo. Antes, morava no Brasil. Terminei os estudos por lá e vim tentar realizar um sonho aqui, em Nova York — a cidade grande.
Uma loucura, né?
Mas como meu Deus é justo, Ele não deixou que eu passasse fome ou dormisse na rua. Sim, eu vim só com uma mala e sem a menor ideia do que estava fazendo. Mas eu sabia: se pensasse demais, desistiria. Estaria agora na casa da minha tia... sendo “maltratada”.
Não que ela me batesse, mas às vezes doía mais do que isso.
Enfim, não vim aqui pra falar de tragédia. O foco agora são essas mulheres sem noção.
— Vocês sabem que essa entrevista é pra babá, né? Não pra dançarina de boate — solto, sem conseguir guardar o que penso.
— Tá me chamando de prostituta?! — rosna uma loira siliconada, toda montada.
— Claro que não. Até porque não são só prostitutas que trabalham à noite, né? — respondo, encarando de volta uma ruiva que tentou me fuzilar com os olhos.
— Eu ouvi dizer que o patrão é um gato... — cochicha uma delas.
Ah, então tá explicado o desfile de decotes.
Dou uma olhada na sala linda em que estamos. A casa por fora já gritava riqueza, mas o condomínio? Parece cenário de filme.
Vi o anúncio na internet. Uma família cujo sobrenome não lembro estava procurando uma babá. Nunca cuidei de criança — nem diziam a idade — mas pensei: por que não tentar?
— Eu quero o senhor Davis — suspira uma outra, quase babando. — Ele é tão gostoso que eu pegaria mesmo se não tivesse um tostão.
Reviro os olhos. Só falta ser ele quem vai nos entrevistar.
— Tenho certeza de que o anúncio não dizia que estavam procurando uma babá para cuidar de homem — retruco. Elas me odeiam nesse momento, mas tudo bem. Tô acostumada.
— Nem sei por que você tá aqui, pirralha — rebate uma.
— Porque tenho mais senso do que todas vocês juntas — murmuro, olhando para minhas unhas mal feitas.
— Desculpem a demora pra atender — Jesus Cristo! Que mulher é essa?
Linda. Parece saída de um catálogo de moda. Ela cumprimenta todas com educação e um charme tão natural que dá vontade de pedir autógrafo. Se ela estivesse no Brasil... bom, provavelmente já teriam tirado o brilho dela. Lá, a gente tem mania de zoar os riquinhos — mesmo quando são adoráveis como ela.
— Eu sou a Carla, vou entrevistar cada uma com calma. Agradeço a paciência — diz, com a voz doce.
A porta da frente se abre. Outra loira maravilhosa entra.
De onde saem essas mulheres?
— Mas que diabo é isso? — ela resmunga, olhando para o grupo. Ainda não me viu lá no fundo da sala.
— Hannah, a Lily está lá em cima. Obrigada por cuidar dela enquanto entrevisto essas candidatas — diz Carla. Hannah sobe as escadas sem dizer mais nada.
Uma a uma é chamada para a entrevista. Eu sou a última, porque cheguei atrasada. Enquanto espero, como quase todas as fatias de bolo da mesa. O café está uma delícia.
Eu não tinha tomado nada antes de sair — só tinha dinheiro para o ônibus. Vida de pobre não é fácil.
— Falta só você — diz Carla, voltando.
Levanto, limpo discretamente a blusa manchada de café e a sigo. Entramos em um escritório chiquérrimo.
— Meu nome é Evelyn Maria — digo ao me sentar, de frente para uma mesa com três porta-retratos.
Um mostra Carla com um homem muito bonito e elegante. No outro, três rapazes lindos e uma moça deslumbrante. O último tem uma criança que, imagino, seja a filha da casa.
— Você não é daqui — observa ela, mexendo nos papéis.
— Sou do Brasil — respondo. Ela me olha com mais atenção. Sorrio, tentando disfarçar o nervosismo.
Queria ser filha dela. Não por causa do dinheiro, mas pela vibe boa que ela passa.
— Interessante. Uma amiga minha foi pro Brasil e adorou — comenta, sorrindo.
Meu Deus, que sorriso lindo.
— Quantos anos você tem?
Pego meus documentos da bolsa já bem acabadinha e coloco sobre a mesa.
— Tenho 17, mas faço 18 em poucos meses.
Ela me encara por um momento.
— No Brasil costumam trabalhar cedo, né?
— Sim. Alguns pra ajudar a família, outros pra pagar os estudos — digo, simples.
Ela assente, analisando meus papéis.
— Nossa, você tem muitos cursos.
— É que eu fugia das tarefas de casa estudando — brinco. Ela ri e me devolve os documentos.
— Não preciso ficar com eles. É só uma vaga de babá, afinal.
— Entendo. Mas, com todo respeito, a senhora vai mesmo contratar aquelas... outras mulheres?
Ela arqueia a sobrancelha.
— Com toda certeza, não.
— Ainda bem. Elas estavam falando mal do seu marido — solto, e ela revira os olhos. Claramente, já está acostumada com isso.
Fico pensando: será que ela vive um relacionamento abusivo? É tão linda. Não parece do tipo que aceita traição.
Para de paranoia, Evelyn. Foca no emprego.
— Eu imaginava. Algumas perguntaram se ele estaria aqui hoje à tarde — ela comenta.
— Tem que vigiar, senhora. Tem mulher que só quer saber de homem casado e uma... pir0ca — coloco a mão na boca. — Desculpa! Eu juro que não falo assim na frente de criança.
— Tudo bem. Você está contratada.
Paro de respirar por um segundo.
— Senhora, eu prometo que vou ser uma boa funcionária! Juro que nunca, nunquinha, vou dar atenção ao seu marido... — fico muda quando percebo — O que a senhora disse?
— Que você está contratada. Mas preciso de uma autorização de um responsável.
Tiro da bolsa o papel com a assinatura da minha tia.
— Eu juro que não vou decepcionar!
Ela assente, lendo o documento com atenção.
— O trabalho é de segunda a sábado. Você vai precisar dormir aqui, pra estar disponível pra minha neta.
Glória a Deus! Finalmente vou sair da casa da minha tia. Aquele lugar era sufocante.
— Sua... neta? — falo alto demais. Mas sou brasileira, fazer o quê?
— Sim. Ela é filha do meu filho mais velho. Eu tive quadrigêmeos — diz, orgulhosa, apontando para o porta-retrato.
— Sua família é linda.
— Só quero que entenda uma coisa. Vai ser complicado manter um relacionamento saudável com meu filho. Ele é... contra a ideia de ter uma babá.
— Pode deixar comigo. Eu sei lidar com esse tipo de pessoa — ela respira fundo. — Ele não vai ter do que reclamar. Vamos até ser amigos.
Ela franze o cenho, meio desconfiada. A expressão dela diz que o filho é bem complicado mesmo.
— Quando começo?
— Hoje mesmo.
Hoje?
Logo na segunda-feira?
Meu primeiro emprego de verdade. Começa agora.
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Atualizado até capítulo 72
Comments
Dora Silva
confusão a vista kkkkkkk
2024-09-19
0
Anaclaudia Sparizi
comecei a ler agora mas no decorrer do primeiro capítulo percebi que já li ano passado
2024-08-29
2
Fatima Gonçalves
😂😂😂😂😂😂😂😂😂😂😂😂😂MUITO ENGRAÇADA ELA
2024-05-29
5