Esse conto é uma fanfic do livro de uma autora que amo muito e razão para hoje eu está viva
Ela me livrou do suicídio e hoje me tornei sua adm e fã
Autora:Valdirene santos
A mansão dos Sterling era um cárcere dourado. Por trás das fachadas de mármore e dos jardins impecáveis, Dafne vivia uma pantomima de felicidade ao lado de Adrian Sterling. Ele não a maltratava com violência gritante; sua crueldade era mais sutil, uma erosão diária de sua alma. Adrian a mantinha como um troféu, uma esposa bela e submissa, criada para adornar seu sucesso e nunca questionar seus métodos.
E seus métodos, naquela semana, tinham um nome: Chase.
Chase vivia recluso em uma antiga fazenda nos arredores da cidade, um jovem perfumista genial e solitário, um órfão que encontrava mais sentido nos aromas do que nas pessoas. Adrian cobiçava seu mais recente projeto: um perfume inovador, um protótipo que, rumores diziam, era capaz de capturar a essência mais pura da emoção. E Adrian, obcecado por vitórias, precisava dele para ganhar o prestigioso concurso internacional de perfumaria.
— Ele é um eremita, desconfiado — Adrian disse a Dafne, ajustando o gemínio de diamante no pulso. — Mas não resiste a uma bela mulher. Você vai até lá. Conquiste sua confiança. Traga-me a fórmula.
O comando ecoou na mente de Dafne como uma sentença. Era assim que ela era usada: uma isca, uma ferramenta. Com um sorriso amargo que Adrian interpretou como acquiescência, ela partiu.
O primeiro encontro com Chase foi um choque. Dafne esperava um homem rude, talvez até misógino, vivendo em meio à desordem. Em vez disso, encontrou um homem de olhos claros e mãos cuidadosas, em um ambiente que era um santuário de frascos de vidro, destiladores de cobre e o aroma sublime de flores e ervas. Sua timidez era genuína, sua paixão pelo trabalho, contagiante.
Ele não a viu como um objeto. Viu nela uma musa. Falou de notas de saída, de coração e de fundo com uma poesia que Adrian jamais possuiria. E, para sua própria surpresa, Dafne se encontrou interessada. Não por obrigação, mas por uma centelha de curiosidade genuína que há muito não sentia.
As visitas se repetiram. A cada encontro, a fachada de Dafne rachava um pouco mais. Chase oferecia chá de ervas que ele mesmo colhia, falava de suas tentativas e erros para capturar o cheiro da primeira chuva na terra seca ou o aroma do amor puro. Ele a tratava com uma gentileza e um respeito que a faziam sentir-se vista, não como a esposa de Adrian, mas como Dafne.
— Este — disse ele certa tarde, segurando um frasco âmbar com reverência — é o que eu chamo de "Verdade". Ele não mascara; ele revela.
Ele aplicou uma gota em seu pulso. O aroma era indescritível. Era florestas profundas, éter puro e algo profundamente emocional, como a lembrança de um abraço perdido. Era a fragrância da liberdade que Dafne jamais conhecera.
Enquanto Dafne se perdia no mundo de sensações de Chase, Orlando, o sócio de Adrian e seu braço direito executor, colocava o plano em ação. Observando a rotina da fazenda, ele soube quando Chase faria sua entrega semanal na cidade. Na calada da noite, invadiu o laboratório. Com luvas e movimentos precisos, ele encontrou o diário de anotações e o frasco âmbar guardado a sete chaves. O protótipo. A "Verdade".
No dia seguinte, Adrian anunciou, triunfante, sua inscrição no concurso. O perfume, batizado por ele de "Conquista", era sensação. Chase, ao ver a notícia, ficou devastado. Sua obra, seu sonho, fora roubada.
A desconfiança caiu como uma lâmina sobre Dafne. Ela confrontou Adrian, sua voz trêmula de uma raiva que nem sabia possuir.
— Você roubou dele!
— Eu venci — corrigiu Adrian, com um sorriso glacial. — E você cumpriu seu papel perfeitamente, minha querida. Agora, cale-se.
A ordem era clara, mas algo dentro de Dafne se recusou a obedecer. A lembrança do olhar magoado de Chase a atormentava. Ela foi até a fazenda e encontrou o laboratório violado, o jovem perfumista com o olhar vazio de desespero.
— Foi você? — ele perguntou, e a dor naquela pergunta foi mais cortante que qualquer acusação de Adrian.
— Não — sussurrou Dafne, e pela primeira vez, as lágrimas que rolaram foram verdadeiras. — Eu… eu fui usada. Assim como você.
Naquela confissão, nasceu uma cumplicidade. Chase, em vez de expulsá-la, viu nela outra vítima da ganância do marido. E Dafne viu em Chase a possibilidade de um amor que não era transação, mas entrega.
O dia do concurso chegou. Adrian, no auge de sua arrogância, preparava-se para receber o prêmio. No palco, diante dos juízes e da elite da perfumaria, ele borrifou "Conquista" em um cartão.
— Um aroma para os vencedores! — proclamou.
Mas então, algo estranho aconteceu. O aroma, inicialmente intenso e agradável, começou a se transformar. As notas de fundo, que Chase havia criado para reagir com a química única de cada pele, entraram em ação. No calor das luzes do palco e sobre a pele oleosa de Adrian, o perfume não revelou triunfo, mas a essência pútrida da ganância, o cheiro acre da traição e da vaidade podre. Um murmúrio de nojo percorreu a plateia. Os juízes franziram o nariz, confusos.
Foi quando Chase entrou no salão, de cabeça erguida, seguido por Dafne, de mãos dadas com ele.
— O que o senhor chama de "Conquista" — disse Chase, sua voz calma ecoando no silêncio constrangido —, eu chamo de "Verdade". E ela sempre aparece. Ele não roubou apenas um perfume, roubou um conceito que não compreende. Um perfume que revela a verdadeira essência de quem o usa.
Adrian, envergonhado e furioso, tentou argumentar, mas o dano estava feito. O prêmio foi negado. Sua reputação desmoronou naquele instante, perante todos.
Fora do salão, sob o céu estrelado, Chase olhou para Dafne.
— E agora? — ele perguntou.
Dafne respirou fundo. O aroma da noite, livre e puro, encheu seus pulmões. Ela olhou para as mãos que a seguravam com cuidado, não como posse, mas como parceria.
— Agora — disse ela, sua voz firme pela primeira vez na vida —, agora vivemos a nossa própria verdade.
E caminharam juntos, deixando para trás o preço da ganância e abraçando o valor inestimável de um novo começo.